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“Existem vários motivos que fazem uma pessoa romper o equilíbrio de uma situação que está vivendo e a levam a procurar uma nova moradia. Em média, o brasileiro muda de residência sete vezes ao longo da vida.” | Divulgação
“Existem vários motivos que fazem uma pessoa romper o equilíbrio de uma situação que está vivendo e a levam a procurar uma nova moradia. Em média, o brasileiro muda de residência sete vezes ao longo da vida.”| Foto: Divulgação

O aquecimento do mercado imobiliário nos últimos anos não trouxe, necessariamente, imóveis que atendessem o perfil do brasileiro nos diferentes estágios de sua vida. Quando decide mudar de residência, o morador pode passar por vá­­­rias dificuldades até encontrar um imóvel que se encaixe nas características da nova fase em que se encontra. É o que mostra uma pesquisa que analisou o comportamento do consumidor, realizada pela professora Maria Carolina Brands­­tetter, com base no histórico de mo­­­radia de 80 famílias de classe média, em Goiânia (GO). A pesquisa foi apresentada recentemente na 10.ª Con­­­­­ferência Internacional da So­­­ciedade Latino-Americana de Real Estate, em São Paulo.

Embora o estudo de caso seja de abrangência local, a professora explica que o método pode ser operacionalizado e servir de exemplo para outras regiões brasileiras. "A ideia é abrir esse caminho para que as construtoras sigam o modelo e melhorem a formulação de suas estratégias mercadológicas na área da construção civil. Não podemos focar somente nos investimentos em si. É preciso aliar as ofertas com a real necessidade dos consumidores. O sucesso de vendas deve estar voltado em entender para quem está vendendo." Em entrevista à Ga­­­­zeta do Povo, Maria Carolina co­­­­menta sobre os perfis analisados, os fatores que levam à mudança de moradia, as exigências ao fazer uma nova aquisição e o que precisa ser mudado quanto as atuais estratégias de lançamentos de imóveis. Confira os principais trechos.

Como surgiu a ideia da pesquisa?

Sou formada em Engenharia Civil, com doutorado em Engenharia de Produção e, além de ser professora, também atuo em áreas ligadas ao mercado e gestão da construção. Ve­­nho estudando o comportamento do consumidor há cerca de dez anos, tudo para tentar entender esse processo, que envolve as histórias familiares e a aquisição de novos imóveis.

Qual foi a metodologia utilizada?

Para a pesquisa, desenvolvi um mé­­­­todo baseado na análise da carreira habitacional, que consiste em traçar um paralelo entre a mudança geográfica e outras trajetórias de uma pessoa ao longo de sua vida, como o estudo, o trabalho e a família. O público analisado é de classe média, com chefe de família com idade entre 40 e 45 anos, o que resultou em uma carreira habitacional mais rica e mais completa.

Quais os fatores que levam à mudança de residência?

Existem vários motivos que fazem uma pessoa romper o equilíbrio de uma situação que está vivendo e a levam a procurar uma nova moradia. A maioria está satisfeita com o imóvel até que um novo processo chega e muda essa visão. Pode ser porque casou, tem um novo emprego, mudou de cidade para estudar, teve um filho ou para fugir do aluguel. Em média, o brasileiro muda de residência sete vezes ao longo da vida. As mudanças por motivos profissionais são as que mais demandam mobilidade, seguidas das que são feitas para atender conveniências da família, como morar mais perto do trabalho, da escola dos filhos e das facilidades do comércio local.

O que determina a escolha de um novo imóvel?

Existem seis principais variáveis que exercem influência na aquisição da nova moradia. Entre elas está a renda mensal familiar, o patrimônio financeiro familiar, a idade e condição de propriedade do imóvel – se é a pessoa é proprietária ou mora de aluguel. Um fator importante é a grande motivação para a última mudança de moradia, que envolve atributos, como a localização e segurança que a região oferece. E, por fim, o estágio do ciclo de vida familiar, um dos maiores determinantes do comportamento de demanda, como, por exemplo, o caso de um homem de 20 anos que acabou de casar e teve um filho, e um outro de 40 anos, que passou pela mesma situação. Ambos se enquadram em um estágio semelhante de mudança e buscarão perfis similares de imóveis para a nova fase da vida.

Quais imóveis estão em falta no mercado?

Há uma grande dificuldade em en­­­­contrar apartamentos de apenas um ou de cinco quartos, de alto pa­­­drão. É preciso observar que as formações familiares mudaram. Hoje existem famílias formadas por casais que estão no segundo ou terceiro casamento e tanto o marido quanto a mulher têm filhos dos ca­­­samentos anteriores, que moram todos juntos e precisam de uma moradia maior. Assim como há casais sem filhos e solteiros que moram sozinhos e possuem maior poder aquisitivo, que buscam uma boa localização, mas em imóveis com um quarto. Em Goiânia, por exemplo, quase nenhum imóvel com esse perfil de um quarto foi oferecido nos últimos anos e os poucos lançamentos foram vendidos rapidamente. Isso pode estar ocorrendo em outras cidades.

Com base na pesquisa, o que a senhora percebe quanto as atuais estratégias de lançamento do mercado imobiliário? O que precisa ser mudado?

Alguns lançamentos são fundamentados apenas em indicadores de mercado, ou seja, nos imóveis que apresentam maior volume de vendas, e continuam lançando com o mesmo perfil só porque deu certo anteriormente. Ou focam em aspectos pontuais, como a localização, por exemplo. É preciso enxergar a moradia sob uma ótica maior e entender o comportamento cíclico das famílias. Os segmentos de automóveis e o de alimentos absorveram essas mudanças e estão desenvolvendo produtos segmentados por faixa etária e de renda, entre outros. O ideal é que o mercado imobiliário siga esse modelo. Uma sugestão é mesclar mais de um perfil em um mesmo empreendimento, fugir da padronização e oferecer flexibilidade, não só na escolha de acabamentos, mas também na planta, com a mesma metragem quadrada, o que torna o imóvel mais atrativo, contemplando uma fatia de mercado maior.

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