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Mark McIntire foi demitido por causa de suas convicções conservadoras | Arquivo Pessoal
Mark McIntire foi demitido por causa de suas convicções conservadoras| Foto: Arquivo Pessoal

Mark McIntire, de 74 anos, ensinou filosofia como professor adjunto na Universidade da Cidade de Santa Barbara na Califórnia por 23 anos. 

Conservador de longa data em um campus progressista, ele não esperava sair vitorioso após ser acusado de assédio e perder seu emprego devido às suas posições políticas. Em uma ação judicial, McIntire ganhou 120 mil dólares (cerca de 450 mil reais na cotação atual).  

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Amigo de Charlton Heston, falecido ator americano e ex-presidente da National Rifle Association (Associação Nacional do Rifle, em tradução livre – organização que defende o porte de armas nos Estados Unidos), McIntire está familiarizado com controvérsias.  

Em e-mail enviado ao The Daily Signal, ele relembra sua eleição ao Conselho Nacional de Atores em 1983, quando liderou um “bem-sucedido golpe de estado contra o Presidente do Conselho na época, Ed Asner, para o desespero da parte progressista de Hollywood”. 

Mas até a eleição do presidente Donald Trump, McIntire, membro do departamento de filosofia da Universidade da Cidade de Santa Bárbara desde 1996, afirmava ser apenas uma espécie de “relíquia”, o único conservado da instituição de ensino. 

“Por 22 anos, uma piada recorrente no campus era de que tínhamos apenas uma pessoa disposta a falar o que pensa e a questionar a doutrina vigente no campus”, diz Mark. 

“Em 2016, durante o período eleitoral, toda palestra que participei no campus se tornava um comício de Hillary Clinton e uma sessão de ódio a Donald Trump”, completa, destacando acontecer o mesmo em palestras que não tinham relação alguma com política. 

Então, no início deste ano, ele se viu em meio a uma confusão com movimentos de liberdade de expressão e o #MeToo. 

“Compartilhando demais” suas crenças políticas 

Quando McIntire convidou o proeminente ateu Michael Shermer ao campus para desmistificar crenças na vida após a morte e sociedades utópicas, uma educadora da universidade enviou um e-mail para todos da faculdade. 

Nele, a presidente do departamento de química, Raeanne Napoleon, citou um artigo do Buzzfeed que mostrava acusações de má-conduta sexual contra Shermer, incluindo tentativas de apalpar mulheres e comportamento inadequado em conferências científicas, além de uma acusação de estupro. 

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Apesar de dizer que Shermer “ainda tinha direito à liberdade de expressão”, Napoleon recomendou que as mulheres da faculdade evitassem ficar sozinhas com ele. Ela contou ao Inside Higher Ed que sua inspiração para alertar suas colegas veio do movimento #MeToo. Ela também não era fã das políticas de McIntire. Napoleon disse ainda que o professor era conhecido por “compartilhar demais” suas crenças políticas em e-mails do campus, e admitiu marcar os e-mails enviados por Mark como “lixo eletrônico”.  

Em resposta, McIntire interveio em defesa de Shermer, enviando séries de e-mails para outros educadores e escrevendo um artigo para o jornal estudantil. Sobre o e-mail enviado a todos por Napoleon, o professor escreveu, nos comentários online do jornal estudantil, que ela “conseguiu se mostrar uma caluniadora do pior tipo”. Ele ainda citou um e-mail conciliatório enviado a ele por Napoleon como um “arrependimento”, por causa de uma mensagem enviada a outro membro da universidade.  

Reclamações e Avaliações 

Esses comentários colocaram McIntire em uma situação complicada. Napoleon disse ao Inside Higher Ed que a linguagem de Mark no contexto das acusações de assédio a Shermer era suspeita.  

Pouco tempo depois, quatro das colegas de McIntire, incluindo Napoleon, prestaram reclamação de assédio contra o professor, por meio da Título IX, a lei federal que protege indivíduos de discriminação baseada no sexo em instituições que recebem fundos federais.  

Em maio, a universidade enviou ao professor um aviso de rescisão, baseado em três avaliações educacionais negativas, por meio do presidente do departamento de filosofia Marc Bobro.  

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Nessas avaliações, Bobro escreveu que os tópicos que McIntire escolhia para as provas e artigos eram “muito carregados e politizados”, que suas postagens no Facebook eram inapropriadas e que ele não conseguia compreender “conceitos filosóficos básicos”.  

“Eu nunca prescrevi tópicos. Deixo os estudantes escolherem”, contesta McIntire.

Frequentemente, seus estudantes escolhiam assuntos politicamente carregados, como aborto, união homoafetiva, Black Lives Matter (movimento social negro), vida extraterrestre e ideologia de gênero.  

“Em todos os meus anos ensinando na universidade, nunca tive um artigo de um estudante defendendo uma postura conservadora”, critica. 

McIntire conta que foram necessárias diversas reuniões com a administração da faculdade para que Bobro reconhecesse que estava incorreto. 

“Feminismo Tribal” 

Na segunda avaliação, Bobro escreveu uma recomendação para que McIntire deletasse postagens críticas contra outros membros da faculdade e indivíduos transgênero, além de “participar de um workshop de diversidade no campus”. 

“Minhas ideias políticas e expressões nunca deveriam ter sido incluídas na avaliação. Ensino filosofia, que é exatamente sobre examinar visões opostas, de forma isenta, em um ambiente social”, pondera McIntire. 

Ele acredita que as avaliações negativas e as alegações de assédio se baseavam em uma tendência contrária às suas crenças políticas: 

“Fui demitido por causa de uma doença. O nome clínico para essa doença é 'Campusitis pela Justiça Social Aguda'. A patologia específica na Universidade da Cidade de Santa Barbara é o feminismo tribal #MeToo, que me demitiu porque eu era o único membro da instituição com coragem de defender [publicamente] visões opostas, de conservadores, eleitores de Trump, religiosos, libertários e indivíduos educados em casa”. 

O presidente do departamento de filosofia não retornou os contatos do The Daily Signal.

Após meses de disputas judiciais, McIntire e a universidade entraram em um acordo judicial de US$ 120 mil. De acordo com o jornal estudantil The Channels, a decisão foi unânime por parte do conselho da faculdade, com as deliberações terminando em uma votação de 6 a 0 a favor do professor. 

McIntire disse que será considerado como motivo de desligamento a renúncia feita por ele em 3 de agosto, ao invés de que seu contrato ficasse oficialmente como “não renovado”. Ele contou ao jornal estudantil que a universidade excluiu as três avaliações negativas contra ele. 

‘Uma Boa Juíza’ 

Em e-mail ao The Daily Signal, ele disse ter sido “completamente inocentado” das reclamações relacionadas ao Título IX. 

A juíza Elinor Reiner, contratada pela universidade para investigar as denúncias contra McIntire, determinou em seu relatório final que os comentários feitos por McIntire a instrutoras não chegavam a violar a lei do Título IX.  

Entretanto, Reiner considerou que “uma pequena quantidade dos comentários de McIntire em seus e-mails eram baseados no gênero de forma intencionalmente pejorativa”, adicionando: 

“Esses comentários podem levar as mulheres a razoavelmente acreditar que em alguns momentos ele era ‘antifeminista’, principalmente porque elas acreditavam (equivocadamente) que ele não havia feito comentários negativos direcionados a homens dentro da faculdade. Evidentemente eles não eram severos ou pejorativos a ponto de demonstrar assédio ou bullying”. 

McIntire disse estar satisfeito: “Estou grato porque meu nome está limpo”. Ele percebe que a juíza Reiner “claramente não gostou da linguagem que usei… mas ela é uma boa juíza, e ela ficou do lado da lei, da Constituição e da Declaração de Direitos”.

A faculdade não respondeu as perguntas enviadas pelo The Daily Signal sobre o acordo. 

Napoleon também se recusou a comentar o fato.

©2018 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês.

Tradução: Rafael Baltazar.

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