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Vestidas como personagens de “The Handmaid's Tale”, ativistas protestam em frente à Suprema Corte dos EUA, em Washington, contra a confirmação de Brett Kavanaugh como ministro do tribunal. | Charlotte Plantine/AFP
Vestidas como personagens de “The Handmaid's Tale”, ativistas protestam em frente à Suprema Corte dos EUA, em Washington, contra a confirmação de Brett Kavanaugh como ministro do tribunal.| Foto: Charlotte Plantine/AFP

“Apologista do estupro”. 

Foi assim que a organização da Marcha das Mulheres se referiu à senadora republicana Susan Collins, do Maine, depois que ela anunciou que ela votou “sim” para a confirmar Brett Kavanaugh, juiz do Circuito de Washington D.C., como próximo ministro da Suprema Corte dos EUA

O comentário mostrou que para parte da esquerda a questão nunca foi sobre justiça ou devido processo legal, mas sobre explorar o real – e preocupante – trauma emocional de milhões de mulheres apenas com o objetivo de atingir uma meta política. 

Você pode acreditar que enfrentamos uma crise de agressões sexuais neste país, que existe uma sede válida por justiça, mas também que Kavanaugh não pode ser considerado culpado de abuso com base nos fatos que temos. 

Collins não rejeitou as alegações da doutora Christine Blasey Ford, a primeira das três mulheres que acusaram Kavanaugh de agressão sexual. Na última sexta-feira (5), ao se pronunciar no Senado, a parlamentar deixou claro por que estava confirmando a indicação de Kavanaugh. Collins observou que, embora o testemunho de Ford tenha sido “sincero, doloroso e convincente”, nenhuma das pessoas presentes na festa onde a suposta violência ocorreu, quando ela e o juiz eram adolescentes, foi capaz de corroborar com sua história. 

A senadora notou que, apesar de Ford ter dito que pegou carona com alguém para ir embora da festa, ninguém se apresentou para dizer que era a pessoa que lhe deixou em casa. “Os fatos apresentados não significam que a professora Ford não tenha sido agredida sexualmente naquela noite – ou em algum outro momento –, mas eles me levam a concluir que as alegações apontam para o padrão ‘provavelmente não’”, disse. 

Confira: Como a esquerda quase destruiu um bom nome para a Suprema Corte dos EUA

E por isso – por se atrever a pesar os fatos e chegar à sua própria conclusão –, Collins está sendo ridicularizada por outras mulheres como “apologista de estupro”. Aparentemente, ela cometeu o pecado de não agir de acordo com o mantra #acrediteemtodasasmulheres – um padrão ridículo que também parece ser convenientemente descartado pela esquerda quando, digamos, mulheres que supostamente foram abusadas por Bill Clinton se manifestam. 

Isso é loucura. 

Sem contar que se trata de um grande desserviço às vítimas de violência sexual. Tem muita coisa que os defensores do #MeToo poderiam fazer para ajudar essas pessoas, desde encorajar uma denúncia rápida dos ataques (especialmente se houver evidência física) até trabalhar em conjunto com departamentos policiais e hospitais a fim de ajudar sobreviventes traumatizados. 

O movimento também poderia encorajar uma cultura com níveis menores de bebedeira, dada a frequência com que o consumo excessivo de álcool e a violência sexual estão interligados. 

(E, não, eu não estou dizendo que uma mulher agredida é culpada pelo ocorrido se ela estava bebendo no momento do abuso, bem como uma mulher que anda sozinha à noite pela rua não o é. Eu estou apenas discutindo maneiras de tornar esses ataques menos recorrentes) 

Forçar o #acrediteemtodasasmulheres”, independentemente de evidências e informações críveis, apenas prejudica o movimento. Mas essa não foi a única maneira pela qual os ativistas de esquerda decepcionaram as mulheres dessa vez. 

Veja: O desrespeito à presunção de inocência de Brett Kavanaugh

Em meio ao depoimento de Ford, no dia 27 de setembro, um momento em particular se destacou: quando ela demonstrou desconhecer uma proposta feita pelo Comitê Judiciário do Senado norte-americano, Chuck Grassley, de Iowa, de responder aos questionamentos do comitê de forma privada, na Califórnia, onde mora. 

Rachel Mitchell [promotora chamada pelo Partido Republicano para mediar a sessão]: “Foi informado a você, por seu advogado ou outra pessoa, que o comitê pediu para entrevista-la e que eles se ofereceram para ir até a Califórnia para isso?” 

Michael Bromwich [advogado de Ford]: “Iremos nos opor, senhor presidente, a qualquer pergunta sobre conversas privadas entre a doutora Ford e sua equipe de defesa. São conversas particulares.” 

(...) 

Ford: “Posso dizer algo ao senhor? Importa-se se eu me dirigir diretamente ao senhor?” 

Grassley: “Sim?” 

Ford: “Fico feliz que tenha oferecido isso. Não estava claro, para mim, qual era a oferta. Se o senhor estivesse disposto a ir ao meu encontro, eu ficaria feliz em recebe-lo e conversar com o senhor em particular. Eu simplesmente não sabia – não ficou claro para mim que esse era o caso”. 

E esse não foi o único momento em que Ford foi colocada para baixo. Como Collins disse na última sexta-feira (5): 

“A professora Ford afirmou que um número muito limitado de pessoas teve acesso à sua [confidencial] carta de denúncia. No entanto, essa carta acabou sendo divulgada para o público. Ela disse que nunca deu permissão para que esse documento muito particular fosse divulgado. E, no entanto, aqui estamos nós. No meio de uma briga que ela nunca procurou, argumentando sobre alegações que ela queria discutir confidencialmente.” 

Uma audiência privada, contudo, não levaria às imagens de Ford testemunhando, espalhadas pelas redes sociais por ativistas. Se sua carta tivesse sido mantida em particular, a mídia não teria montado um circo nacional a respeito de um suposto incidente que ocorreu há 36 anos. 

Leia: O julgamento espetáculo de Brett Kavanaugh

É difícil não ficar cético sobre o que aconteceu a Ford. Já houve outras tentativas com ares de atitude mafiosa por parte da Marcha das Mulheres antes disso. 

Em 18 de setembro, a senadora democrata Mazie Hirono, do Havaí, disse que: 

“Adivinha quem está perpetrando esse tipo de ação? São os homens deste país. E eu só quero dizer a eles que calem a boca e deem um passo atrás. Façam a coisa certa uma vez na vida.” 

O quê? 

As observações de Hinoro representaram um desserviço aos homens que não trataram as mulheres com nada além de respeito, e talvez até tenham intervindo para manter mulheres a salvo de outros homens. A fala da senadora democrata também nada contribuiu para promover a justiça a sobreviventes de agressão sexual – ou a Ford. 

Ford não representa todas as mulheres que já sofreram violência sexual. Kavanaugh não representa todos os homens que já agrediram mulheres. Em meio a toda emoção, ficou perdido o fato de que esse momento se trata de indivíduos. 

O caminho correto a se seguir, em relação aos sobreviventes de agressões sexuais, é pressionar a Justiça, tratando os casos de forma individual. Não se trata de calar todos os homens, ou de acreditar em todas as mulheres automaticamente. E certamente não se trata de ridicularizar como “apologista do estupro” alguém que levou uma denúncia de agressão sexual a sério, examinou as evidências, exigiu maiores investigações e, por fim, compartilhou suas conclusões.

Katrina Trinko é editora no The Daily Signal e co-host no podcast do veículo. Ela também é membro do quadro de contribuidores do USA Today.

©2018 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês.

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