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Militares do Exército de Defesa de Karabakh acenam enquanto viajam na carroceria de um caminhão para a cidade de Martakert durante os combates contra o Azerbaijão pela região de Nagorny Karabakh, em 29 de setembro de 2020| Foto: Narek Aleksanyan/AFP

Houve uma perigosa escalada no conflito entre Armênia e Azerbaijão nos últimos quatro dias e, até agora, não há indicativos de que os países do Cáucaso esteja dispostos a negociar uma saída pacífica. Cerca de 100 pessoas morreram. Entenda em quatro pontos os principais fatores em jogo nesta disputa renovada no continente europeu.

1. Origem

O confronto ocorre, primariamente, pelo controle da região montanhosa de Nagorno-Karabakh, no Azerbaijão, perto da fronteira com a Armênia. No fim da década de 1980, com o fim da União Soviética, os dois países lutaram uma sangrenta guerra pelo controle territorial da região, que só terminou em 1994 e deixou mais de 30 mil mortos e mais de um milhão de desalojados. Com a mediação da Rússia, uma frágil trégua determinou que Nagorno-Karabakh seria um estado independente, mas isso não foi reconhecido internacionalmente. Apenas a Armênia reconhece e apoia as lideranças autoproclamadas da região.

Também há um fator cultural e religioso no conflito: a população de Nagorno-Karabakh é predominantemente de origem armênia e de fé cristã, enquanto que o Azerbaijão é um estado constitucionalmente secular, mas a maioria de sua população é muçulmana.

Em resumo: para o Azerbaijão, o conflito é o resultado de uma agressão cometida pela Armênia, que levou a uma ocupação ilegal do seu território (não somente de Nagorno-Karabakh, mas do acesso da Armênia à região - veja no mapa abaixo). Para a Armênia, o conflito reflete o fracasso do Azerbaijão em reconhecer o apelo legítimo pela independência de Nagorno-Karabakh (chamada de República de Artsakh).

2. Em que pé está agora

Desde o acordo de 1994, confrontos eclodiram periodicamente. Em 2016, por exemplo, mais de 200 pessoas morreram. Em julho deste ano,16 pessoas morreram na fronteira entre o Azerbaijão e a área ocupada pelos armênios, o que deu força a um movimento político no Azerbaijão que pede a retomada dos territórios.

Imagem obtida de um vídeo disponibilizado no site oficial do Ministério da Defesa do Azerbaijão, em 30 de setembro de 2020, supostamente mostra ataque do Azerbaijão a forças armênias durante os combates na região separatista de Nagorny Karabakh | Foto: Divulgação/Ministério da Defesa do Azerbaijão/AFP
Imagem obtida de um vídeo disponibilizado no site oficial do Ministério da Defesa do Azerbaijão, em 30 de setembro de 2020, supostamente mostra ataque do Azerbaijão a forças armênias durante os combates na região separatista de Nagorny Karabakh | Foto: Divulgação/Ministério da Defesa do Azerbaijão/AFP| AFP

No domingo, os dois lados declararam lei marcial. Cerca de 100 pessoas, inclusive civis, morreram desde então. Na terça-feira, a Armênia alegou que um de seus jatos foi abatido por um caça turco. Os confrontos de agora já são considerados os mais violentos em intensidade desde a trégua de 1994 e não há sinais de que os lados estejam dispostos a negociar uma saída pacífica, apesar dos apelos das Nações Unidas e do Grupo de Minsk.

De acordo com análise do Sipri (Stockholm International Peace Research Institute), o combate atual parece envolver o uso de armas mais sofisticadas adquiridas de fornecedores estrangeiros, incluindo foguetes de artilharia de longo alcance, veículos aéreos de combate não tripulados e drones de reconhecimento e vigilância. Ian Anthony, diretor do Programa de Segurança Europeu do SIPRI, explicou que o Azerbaijão usou os recursos fornecidos pela venda de petróleo e gás para comprar armas de vários fornecedores e estabelecer uma indústria de armas doméstica, enquanto a assistência militar da Rússia permitiu à Armênia equilibrar a modernização militar do Azerbaijão.

3. Interesses externos

Os principais atores estrangeiros envolvidos são as vizinhas Rússia e Turquia. A Rússia é aliada militar da Armênia, enquanto a Turquia apoia a posição do Azerbaijão. Equipamentos militares desses dois países estão sendo usados nos combates atuais. Uma reportagem da Reuters afirmou que a Turquia estaria enviando milícias sírias para lutar ao lado dos azerbaijanos, mas a Turquia nega. Analistas consideram que existe a possibilidade de que esses países se envolvam diretamente no conflito, colocando-os mais uma vez em lados opostos no campo de batalha, como na guerra da Líbia.

Claro que também há interesses energéticos em jogo. Segundo o Sipri, as geopolíticas de energia em torno dos oleodutos que ligam o Mar Cáspio à Europa - que passam a cerca de 60 quilômetros do território contestado e que foram ocasionalmente atacados - aumentaram a importância do conflito para vários outros estados. Segundo Ariel Cohen, do Atlantic Council, as esperanças da Europa de explorar os recursos do Cáspio para reduzir sua dependência das fontes de petróleo da Rússia podem estar em perigo por causa do conflito.

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