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O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, fala na Casa Branca sobre acordo bipartidário feito no Senado americano para um plano de infraestrutura, 24 de junho
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, fala na Casa Branca sobre acordo bipartidário feito no Senado americano para um plano de infraestrutura, 24 de junho| Foto: EFE/EPA/SARAH SILBIGER / POOL

Em muitas ocasiões, líderes políticos precisam deixar um pouco de lado posições ideológicas para tomar decisões políticas e diplomáticas mais práticas, visando equilibrar ganhos e perdas. Confira alguns momentos em que o governo do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, adotou práticas mais realistas e que, por vezes, contrastaram com o seu discurso:

Bombardeios

No domingo (27), os Estados Unidos realizaram o segundo ataque sob a administração Biden a milícias pró-Irã no Oriente Médio. As Forças Armadas do país bombardearam posições de milícias apoiadas pelo Irã em áreas de fronteira entre a Síria e o Iraque, segundo informou o porta-voz do Pentágono, John Kirby, que não detalhou se houve baixas. A ONG Observatório Sírio para os Direitos Humanos informou que sete pessoas morreram e várias ficaram feridas.

Kirby declarou em uma nota oficial que, por ordem do presidente Joe Biden, as forças americanas realizaram bombardeios defensivos contra instalações de grupos armados apoiados por Teerã. Os ataques aéreos visaram centros de armazenamento e operação de armas, dois deles na Síria e um no Iraque.

A primeira ação militar ordenada por Biden ocorreu em fevereiro, com ataques aéreos contra instalações no leste da Síria também usadas por milícias pró-Irã. A ação foi uma resposta a ataques desses grupos contra bases no Iraque que abrigam militares americanos que deixaram um civil morto e um soldado ferido.

Na ocasião, os ataques reacenderam o debate entre o Congresso americano e a Casa Branca sobre os limites dos poderes de guerra do chefe do Executivo do país e alguns democratas questionaram a justificativa legal da ofensiva.

Além disso, a administração Biden foi acusada de hipocrisia por críticos, que resgataram comentários da equipe do democrata feitos quando o governo do seu antecessor, Donald Trump, autorizou ataques contra o território sírio, em resposta ao uso de armas químicas por forças do ditador Bashar al-Assad, em 2017, e para atingir instalações de armas químicas, em 2018.

A atual vice-presidente americana Kamala Harris questionou os ataques em 2018, quando era senadora. "Estou profundamente preocupada com o fundamento legal dos ataques na noite passada", disse Harris em abril de 2018.

Também a porta-voz de Biden, Jen Psaki, comentou à época que "Assad é um ditador brutal, mas a Síria é um país soberano".

Imigração

Também em relação à imigração os democratas causaram surpresa ao aparentemente adotar uma postura mais prática, e que contrasta com a posição do partido em relação ao tema, quando recentemente Kamala Harris visitou a Guatemala e mandou uma mensagem clara à população do país centro-americano que pretende imigrar aos EUA: "Não venham", disse a vice-presidente americana, que é filha de imigrantes.

Harris recebeu a complicada tarefa de controlar o aumento do fluxo de migrantes que têm chegado à fronteira sul dos EUA. Em sua viagem a países latino-americanos no início do mês, a sua primeira internacional como vice-presidente, ela alertou que a jornada até a fronteira é perigosa e beneficia principalmente o tráfico ilegal de pessoas. Ela disse ainda que as pessoas que chegassem à fronteira seriam mandadas de volta aos seus países.

Ao lado do presidente da Guatemala, Alejandro Giammattei, Harris disse: "Não venham. Não venham. Os Estados Unidos continuarão a aplicar nossas leis e manter a segurança das nossas fronteiras", e acrescentou: "Se você chegar à nossa fronteira, será enviado de volta".

A pressão sobre o governo Biden é grande. Mais de 178 mil migrantes chegaram à fronteira sul dos EUA no mês de abril, o maior registrado em um mês em mais de duas décadas, segundo autoridades americanas. Mais de 40% dessas pessoas vieram da Guatemala, Honduras e El Salvador. Em março, quase 19 mil crianças desacompanhadas que tentavam atravessar a fronteira foram encontradas por autoridades.

A mensagem de Harris aos imigrantes, considerada dura, acabou chamando mais atenção do que as discussões com os líderes centro-americanos de estratégias para reduzir o fluxo de migração e de ações de combate às causas do problema, como pobreza e corrupção. E também recebeu críticas de aliados, como a deputada democrata Alexandra Ocasio-Cortez, que disse que os comentários de Harris foram "decepcionantes".

"Primeiro, buscar asilo em qualquer fronteira dos EUA é um método de chegada 100% legal", disse a deputada. "Segundo, os EUA passaram décadas contribuindo com mudanças de regimes e desestabilização na América Latina. Não podemos ajudar a incendiar a casa de alguém e depois culpá-los por estarem fugindo", acrescentou.

Kamala Harris fez uma viagem à fronteira com o México, na semana passada, e visitou um centro de detenção de imigrantes da Patrulha da Fronteira em El Paso, Texas. Ela também se encontrou com meninas imigrantes da América Central em um portão de entrada de solicitantes de asilo. Após a visita, ela rebateu as críticas de republicanos, que a repreenderam por ter visitado México e Guatemala antes de ir para a área fronteiriça. A pressão partiu também de democratas, que acreditavam que ela deveria ter ido mais cedo para a região.

Relações com a Rússia

Após quatro anos de críticas dos democratas ao presidente Trump, considerado muito próximo - e até um "marionete" - do presidente russo Vladimir Putin, foi no início da gestão de Biden que Putin teve duas vitórias com os EUA: o alívio das sanções para as empresas que estão construindo o gasoduto Nord Stream 2 e a extensão do acordo New Start, que restringe o número de armas nucleares que os dois países podem mobilizar.

A administração Trump impôs sanções contra todas as entidades envolvidas na construção do gasoduto Nord Stream 2, que transportará gás natural da Rússia para a Alemanha, por considerar que ele aumentaria a dependência energética europeia de Moscou, e porque Ucrânia, Polônia e os Estados Bálticos se opõem ao projeto. As sanções estavam impedindo a conclusão da construção, que está quase completa.

Em maio, Joe Biden anunciou que irá suspender as sanções às empresas, já que o projeto está quase concluído e as sanções poderiam prejudicar os laços entre EUA e Europa.

Enquanto busca juntar forças com aliados europeus contra a China e também contra a Rússia, Biden considerou que manter as sanções seria contraproducente.

O acordo entre EUA e Rússia para a extensão do New Start (Novo Tratado de Redução de Armas Estratégicas) por mais cinco anos, assinada oficialmente em março, foi criticada à época por quem pensava que os EUA não estavam levando nada em troca do acordo.

No ano passado, Trump havia rejeitado a proposta da Rússia para a renovação do acordo, que expirava em fevereiro, por considerá-la "inviável". Após assumir, Biden declarou a intenção de prorrogar o tratado, gesto considerado "bem-vindo" pela Rússia.

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