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Policiais observam protesto “Black Lives Matter” em Nova York, 1 de junho de 2020. Cresce nos EUA movimento que pede cortes no financiamento à polícia
Policiais observam protesto “Black Lives Matter” em Nova York, 1 de junho de 2020. Cresce nos EUA movimento que pede cortes no financiamento à polícia| Foto: TIMOTHY A. CLARY / AFP

"Corte o financiamento da polícia" tornou-se o mais recente grito de guerra da esquerda dos Estados Unidos e não é mais uma agenda exclusiva dos radicais e ativistas.

Alguns legisladores locais estão dando um passo adiante para "desmantelar" ou "abolir" a polícia, enquanto os meios de comunicação de esquerda estão dando credibilidade ao novo movimento.

A ideia pode significar coisas diferentes para diferentes defensores da causa, mas no mínimo significa reduzir os recursos do departamento de polícia.

"É uma recomendação extremamente irresponsável e repreensível, especificamente para os resultados que sabemos que ocorreriam exatamente no tipo de comunidades para as quais essas propostas estão sendo feitas", afirmou Rafael Mangual, vice-diretor de política jurídica do Manhattan Institute, um instituto conservador de Nova York, ao The Daily Signal.

Aqui estão quatro pontos para entender o movimento que cresce entre a esquerda nos Estados Unidos.

1. Onde está ocorrendo o corte de verbas da polícia?

É quase certo que Minneapolis - onde o policial Derek Chauvin, demitido, foi acusado de assassinato em segundo grau e homicídio culposo na morte de George Floyd - vai cortar a verba da polícia. A morte de Floyd em 25 de maio, capturada em em um vídeo que mostrou Chauvin pressionando seu joelho no pescoço de Floyd por mais de oito minutos, provocou duas semanas de distúrbios civis.

Uma maioria de nove membros do Conselho da Cidade de Minneapolis, que não pode ser vetada pelo prefeito, anunciou que apoiava a eliminação da força policial da cidade - mas nem sequer tinha um plano para o que fazer a seguir.

"Reconhecemos que não temos todas as respostas sobre como será um futuro livre da polícia, mas nossa comunidade tem", disseram os nove membros do legislativo local em um comunicado público divulgado no fim de semana, informou o Star Tribune.

"Estamos comprometidos em colaborar com todos os membros da comunidade de Minneapolis ao longo do próximo ano para identificar como é a segurança para vocês. … Estamos aqui hoje para iniciar o processo para acabar com o Departamento de Polícia de Minneapolis e criar um novo modelo transformador para cultivar a segurança em Minneapolis".

Entre os nove membros do legislativo local que assinaram a declaração estão a presidente do Conselho, Lisa Bender, e Jeremiah Ellison, filho do procurador-geral de Minnesota Keith Ellison, que está à frente dos processos de acusação contra Chauvin e os outros três policiais que participaram da abordagem.

"Este conselho vai desmantelar o departamento de polícia", disse Jeremiah Ellison.

O prefeito de Minneapolis, Jacob Frey, tentou falar com uma multidão no sábado, dizendo que não apoia "a abolição total do departamento de polícia". A multidão, então, entoou: "Vá para casa, Jacob, vá para casa" e "Vergonha. Vergonha. Vergonha".

A oposição do prefeito a uma cidade sem polícia, porém, não importa, já que a maioria do legislativo em torno da proposta não permite o veto do executivo municipal.

O Star Tribune de Minneapolis informou que em 2019, crimes como furto, roubo e assalto aumentaram 13% na cidade. Dois terços dos 81 bairros da cidade tiveram aumentos na criminalidade, incluindo uma área do centro que teve um aumento de 70%.

As duas maiores cidades dos Estados Unidos também estão planejando grandes cortes de recursos para seus departamentos de polícia, o que pode não apaziguar ativistas que exigem abolição em grande escala. Os cortes propostos podem se espalhar para mais cidades.

Em Los Angeles, o prefeito Eric Garcetti anunciou grandes cortes no Departamento de Polícia de Los Angeles.

"Obrigado a todos que marcharam por justiça racial e igualdade para os negros americanos neste fim de semana", tuitou Garcetti na segunda-feira. "Este é um momento crucial. Aqui em Los Angeles, começamos identificando US$ 250 milhões, incluindo cortes no orçamento da LAPD, para investir ainda mais em comunidades de cor e enfrentar o racismo estrutural".

Desses US$ 250 milhões em cortes, espera-se que US$ 150 milhões venham da força policial, informou o Los Angeles Times.

O prefeito da cidade de Nova York, Bill de Blasio, disse que reduziria o financiamento para a polícia e transferiria dinheiro para serviços sociais em uma proposta de orçamento que será revisada. O prefeito não forneceu detalhes para os cortes. O Departamento de Polícia de Nova York responde por US$ 6 bilhões do orçamento anual de US$ 90 bilhões para a cidade.

2. O que está acontecendo no congresso americano?

Embora pagar pelo policiamento seja uma decisão local, e não federal, alguns membros do Congresso estão entrando no movimento sem qualificação.

A deputada democrata Ilhan Omar expressou forte apoio à retirada da polícia de Minneapolis no fim de semana. "Quando desmantelarmos [a polícia], nos livramos desse câncer e permitimos que algo bonito surja", disse Omar a um grupo de manifestantes no sábado, acrescentando: "Bem, tivemos um presidente negro, tivemos uma bancada negra no Congresso, tivemos prefeitos negros, governadores negros e membros do conselho da cidade negros, chefes de polícia negros e ainda estamos sendo mortos, brutalizados, vigiados, encarcerados em massa e ainda estamos conversando com nossos filhos sobre como ter uma conversa com as pessoas que deveriam protegê-las e servi-las para que essas pessoas não os matem".

Uma das colegas deputadas de Omar disse que todas as autoridades eleitas devem apoiar o movimento para desfinanciar a polícia.

"É para isso que serve a coragem política. Coragem política. Há momentos nas carreiras de todo mundo em que você precisa se levantar e dizer: 'Estou disposto a sacrificar todos os privilégios que tenho?'", afirmou a deputada Alexandria Ocasio-Cortez durante uma conferência online com apoiadores. "Se você é um funcionário eleito por qualquer motivo que esteja nesta chamada, estou pedindo que você se pergunte o que você está disposto a sacrificar para garantir que os departamentos de polícia com excesso de recursos sofram cortes de verbas".

Os democratas da Câmara como um todo estão adotando uma abordagem menos extrema e anunciaram na segunda-feira uma legislação que foi criada pela bancada negra do Congresso.

Entre outras coisas, o projeto proibiria abordagens discriminatórias de qualquer tipo, proibiria os estrangulamentos e os "no knock warrants" (mandados que permitem que a polícia entre em uma propriedade ou casa sem qualquer tipo de aviso), tornaria obrigatório câmeras no painel de veículos da polícia, estabeleceria um registro nacional de conduta imprópria da polícia e facilitaria a acusação de policiais e processos individuais.

Questionada na semana passada sobre a proposta de corte de verbas para a polícia, a presidente da Câmara dos Deputados Nancy Pelosi, da Califórnia, deixou a questão para a bancada responder.

3. O que a opinião pública está pensando?

Embora manifestantes estejam fazendo um grande barulho em torno da proposta, cortar o financiamento ou abolir a polícia em todo o país ainda está longe de ser a opinião da maioria.

Embora alguns possam pensar, por meio da cobertura da imprensa, que grande parte da base democrata apoia a ideia, apenas 16% dos democratas em uma pesquisa do Yahoo/YouGov dizem que apoiam o corte de verba para a polícia. Estatisticamente, o mesmo percentual de republicanos que afirmam apoiar a ideia.

"Apesar das solicitações de ativistas e manifestantes para desfinanciar os departamentos de polícia, a maioria dos americanos não apoia a redução dos orçamentos policiais", disse o Yahoo/YouGov sobre sua pesquisa. "Quase dois terços (65%) se opõem à redução do financiamento da força policial. Apenas 16% dos democratas e 15% dos republicanos apoiam essa ideia".

Há evidências claras de possíveis consequências, disse Mangual, do Instituto Manhattan.

"Uma evidência aqui a considerar é o fato: é uma coincidência que, enquanto a polícia estava ocupada com protestos violentos na cidade de Chicago, experimentamos o fim de semana mais violento de 2020 fora dos protestos, nos bairros onde os tiroteios são regulares ocorrência?", Mangual questionou.

Ele disse que não acha que a ideia de "cortar a verba da polícia" chegou a um ponto crítico para se tornar um movimento sério.

Mangual rejeitou a ideia "de privar as comunidades negras e pardas das forças policiais que - gostem ou não - trazem muita paz ao intervir em atos criminosos e tirar criminosos das ruas". Ele acrescentou ainda que "a ideia de que membros de gangues e reincidentes deveriam estar andando pelas ruas porque não há polícia para prendê-los é uma atitude muito descuidada com a vida de cidadãos cumpridores da lei nos bairros mais perigosos da América".

4. Desfinanciar a polícia é algo tão ruim quanto parece?

O financiamento de forças policiais parece significar coisas diferentes para diferentes defensores do movimento.

Alguns querem realocar grandes parcelas do orçamento da polícia para programas sociais, o que seria mais um corte de orçamento do que um desfinanciamento total, como está para acontecer em Nova York e Los Angeles. Outros querem acabar com a polícia completamente - como em Minneapolis - e possivelmente substituir as forças policiais por algo completamente diferente.

Até Patrisse Cullors, cofundadora do movimento Black Lives Matter, disse ao WBUR em Boston que o objetivo era a realocação de recursos.

"A demanda pelo corte de recursos na aplicação da lei se torna uma demanda central na forma como realmente obtemos responsabilidade e justiça reais, porque significa que estamos reduzindo a capacidade da aplicação da lei de ter recursos que prejudicam nossas comunidades", disse Cullors, acrescentando:

"E com essa demanda, não se trata apenas de tirar dinheiro da polícia, mas de reinvestir esses dólares em comunidades negras. Comunidades que foram profundamente despojadas, comunidades que nunca sentiram o impacto de ter recursos verdadeiros. E, portanto, precisamos reconsiderar o que estamos fornecendo. Eu tenho dito que temos uma economia de punição em vez de uma economia de assistência".

O MPD150, um grupo de Minneapolis que defende a ideia, está entre os ativistas mais radicais, que também exigem que outros departamentos de polícia sejam desfinanciados.

"As pessoas que respondem a crises em nossa comunidade devem ser as mais bem equipadas para lidar com essas crises", diz o MPD150. "Em vez de estranhos armados, que provavelmente não moram nos bairros que patrulham, queremos criar espaço para mais prestadores de serviços de saúde mental, assistentes sociais, advogados de vítimas/sobreviventes, líderes religiosos, vizinhos e amigos - todos das pessoas que realmente compõem o tecido de uma comunidade - para cuidar umas das outras".

A organização de Minneapolis tenta argumentar sobre crimes violentos, escrevendo:

"O crime não é aleatório. Na maioria das vezes, acontece quando alguém não consegue suprir suas necessidades básicas por outros meios. Então, para realmente ‘combater o crime’, não precisamos de mais policiais; precisamos de mais empregos, mais oportunidades educacionais, mais programas artísticos, mais centros comunitários, mais recursos de saúde mental e mais influência na maneira como nossas próprias comunidades funcionam...

A história do policiamento é uma história de violência contra os marginalizados - os departamentos de polícia americanos foram originalmente criados para dominar e criminalizar comunidades de cor e trabalhadores brancos pobres, um trabalho que continuam fazendo até hoje. A lista cresceu ainda mais: pessoas LGBTQ, pessoas com deficiência, ativistas - muitos de nós são atacados por policiais diariamente".

Christy E. Lopez, professora da Georgetown Law e co-diretora do Programa de Policiamento Inovador da faculdade, escreveu um artigo no The Washington Post defendendo o desfinanciamento.

Lopez argumentou que a ideia não é tão assustadora quanto parece:

"Desfinanciamento e abolição provavelmente significam algo diferente do que você está pensando. Para a maioria dos defensores, ‘desfinanciar a polícia’ não significa zerar os orçamentos para a segurança pública, e a abolição da polícia não significa que a polícia desaparecerá da noite para o dia - ou algum dia. Desfinanciar a polícia significa diminuir o escopo das responsabilidades da polícia e mudar a maior parte do que o governo faz para nos manter seguros para entidades mais bem equipadas para suprir essa necessidade. … A abolição da polícia significa reduzir, com a visão de eventualmente eliminar, nossa dependência do policiamento para garantir nossa segurança pública".

©2020 Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês

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