A terça-feira (15) é de luto em Gaza. Milhares de pessoas compareceram aos enterros dos 61 palestinos mortos no confronto com as tropas israelenses na faixa de Gaza na segunda-feira (14). Depois deste que foi o dia mais violento em Gaza desde a guerra contra Israel em 2014, a tensão continua alta, mas os protestos tendem a ser menores — pelo menos hoje — já que o comitê organizador pediu um dia de luto.
A onda de manifestações chegou a outros pontos da região, como a Cisjordânia, onde pequenos grupos protestaram nesta terça contra a ação dos militares israelenses, aumentando assim o temor de uma eclosão de violência — até então, os atos estavam restritos à faixa de Gaza. Em Ramala, Hebrom e Belém centenas de manifestantes entraram em confronto com soldados de Israel. Segundo o jornal israelense Haaretz, três pessoas ficaram feridas, mas nenhuma delas com gravidade.
A região vive um dos momentos mais tensos dos últimos anos. Para saber o que permeia o conflito entre israelenses e palestinos, elencamos quatro observações sobre os protestos na Faixa de Gaza.
A principal razão dos protestos
Os palestinos estão enfurecidos com a transferência da embaixada dos Estados Unidos em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém, inaugurada nesta segunda-feira (14) - mesmo dia em que Israel comemorou 70 anos de fundação. Líderes palestinos apontam que a mudança é uma traição e uma abdicação do papel dos EUA como um parceiro neutro no conflito palestino-israelense. Entretanto existe uma razão que talvez seja ainda mais forte para a revolta dos palestinos: as terríveis condições de vida dentro de Gaza.
Tanto Israel quanto o Egito bloqueiam o território desde 2007 e os pontos de passagem da fronteira entre Gaza e seus vizinhos estão virtualmente fechados. Como resultado, a economia da Faixa de Gaza praticamente desmoronou. As vidas das pessoas chegam a um impasse quando perdem empregos, oportunidades educacionais e qualquer esperança para o futuro, e toda esta frustração tem sido canalizada durante semanas para os protestos que tem ocorrido na fronteira com Israel — um combustível que tornou as manifestações em atos de violência.
Participação do Hamas
Quem tem grande interesse em estimular o ódio de palestinos contra Israel é o grupo terrorista que controla a região, o Hamas. Seus líderes estimulam ataques violentos ao mesmo tempo em que, contraditoriamente, a organização prega por manifestações pacíficas.
Hussein Ibish, estudioso do Instituto dos Estados Árabes do Golfo em Washington, afirmou que o Hamas está desesperado com uma situação em Gaza cada dia mais fora de controle. “O desemprego é generalizado e crônico. A fome é galopante. A água é intragável. A eletricidade está disponível por apenas duas a quatro horas por dia. As estações de tratamento de esgotos falharam, e ainda não há como entrar ou sair do território para quase todos os perto de 2 milhões de pessoas de Gaza”, escreveu Ibish em uma coluna para o Foreing Policy em abril.
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“Desde a sua violenta tomada de Gaza e da expulsão da Autoridade Palestina [rival histórico do movimento terrorista] em 2007, o Hamas tem sido capaz de culpar os outros pelas condições miseráveis do território que controla. E por causa dos repetidos bombardeios israelenses e outros ataques, e do bloqueio virtual imposto por Israel e pelo Egito, apontar para Jerusalém e Cairo tem sido, de certa forma, eficaz”, continuou.
Um dia antes dos confrontos violentos desta segunda-feira (14), o líder do Hamas em Gaza, Yahya Sinwar, falou a jornalistas que “nosso povo tem direito de quebrar as paredes desta grande prisão” e que “não aceitaríamos morrer devagar”. O apelo que a organização terrorista está usando é contra a perda de casas e aldeias palestinianas quando o Estado de Israel foi formado em 1948 e centenas de milhares de palestinos foram forçados a deixar o território.
Os protestos não são espontâneos
Mas esse discurso não surgiu da noite para o dia, tampouco os protestos. A região já está entrando na sexta semana de conflitos. De acordo com o New York Times, no dia 27 de abril centenas de palestinos, instigados pelo Hamas, invadiram a barreira de segurança na fronteira leste da cidade de Gaza e tentaram chegar em território israelense.
Relatos da reportagem apontam que dezenas de palestinos cruzaram a cerca de arame farpado, que está instalada dentro do território de Gaza. Tropas israelenses abriram fogo com munição e balas de borracha, matando quatro pessoas e ferindo quase outras 1.000, de acordo com autoridades de saúde de Gaza. Alguns conseguiram chegar à segunda barreira, uma cerca com sensores que marca a borda do território israelense, e tentaram derrubá-la e escalá-la. Não muito longe dali, fica uma comunidade agrícola israelense.
Segundo testemunhas palestinas e oficiais israelenses, manifestantes estavam lançando bombas incendiárias, colocando fogo em pneus para tentar romper a cerca e alguns até carregavam armas — numa demonstração de que a invasão não era mera decorrência de um protesto espontâneo.
Os protestos não são pacíficos
Perante a comunidade internacional, o Hamas convocou os protestos pacificamente, mas palestinos têm lançado coquetéis molotov contra soldados israelenses e bombas incendiárias presas a pipas que rotineiramente passam por cima do bloqueio, incendiando terras agrícolas israelenses.
Semanas antes do conflito desta segunda-feira, o líder do Hamas, Ismail Radwan, havia feito um discurso conclamando os manifestantes a não temer a morte. "Quando somos corajosos, estamos nos aproximando do martírio, do martírio, do martírio", disse ele.
Somando-se a isso, o líder da organização terrorista Al-Qaeda, Ayman al-Zawahiri, convocou seus seguidores no domingo para escalar a luta armada contra os Estados Unidos — uma resposta à transferência da embaixada dos EUA para Jerusalém.
Segundo informou o National Review, Zawahiri afirmou que Trump “revelou a verdadeira face da Cruzada moderna, onde a conciliação não funciona com eles, mas apenas resistência através do chamado e da luta armada”. Zawahiri, que sucedeu Osama Bin Laden como o líder da al-Qaeda, também criticou a Autoridade Palestina, a quem ele se referiu como “vendedores da Palestina” por hesitar em usar a força.
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