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Manifestante palestino mascarado em meio a fumaça de pneus em chamas durante confrontos com forças israelenses, em 15 de maio de 2018, perto da fronteira com Israel a leste de Jabalia, na Faixa de Gaza central. Palestinos estavam reunidos hoje para novos protestos ao longo da fronteira de Gaza, um dia depois que as forças israelenses mataram dezenas de pessoas no local, enquanto a embaixada dos EUA abria em Jerusalém. | MOHAMMED ABED/AFP
Manifestante palestino mascarado em meio a fumaça de pneus em chamas durante confrontos com forças israelenses, em 15 de maio de 2018, perto da fronteira com Israel a leste de Jabalia, na Faixa de Gaza central. Palestinos estavam reunidos hoje para novos protestos ao longo da fronteira de Gaza, um dia depois que as forças israelenses mataram dezenas de pessoas no local, enquanto a embaixada dos EUA abria em Jerusalém.| Foto: MOHAMMED ABED/AFP

A terça-feira (15) é de luto em Gaza. Milhares de pessoas compareceram aos enterros dos 61 palestinos mortos no confronto com as tropas israelenses na faixa de Gaza na segunda-feira (14). Depois deste que foi o dia mais violento em Gaza desde a guerra contra Israel em 2014, a tensão continua alta, mas os protestos tendem a ser menores — pelo menos hoje — já que o comitê organizador pediu um dia de luto.

A onda de manifestações chegou a outros pontos da região, como a Cisjordânia, onde pequenos grupos protestaram nesta terça contra a ação dos militares israelenses, aumentando assim o temor de uma eclosão de violência — até então, os atos estavam restritos à faixa de Gaza. Em Ramala, Hebrom e Belém centenas de manifestantes entraram em confronto com soldados de Israel. Segundo o jornal israelense Haaretz, três pessoas ficaram feridas, mas nenhuma delas com gravidade.

A região vive um dos momentos mais tensos dos últimos anos. Para saber o que permeia o conflito entre israelenses e palestinos, elencamos quatro observações sobre os protestos na Faixa de Gaza.

A principal razão dos protestos

Os palestinos estão enfurecidos com a transferência da embaixada dos Estados Unidos em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém, inaugurada nesta segunda-feira (14) - mesmo dia em que Israel comemorou 70 anos de fundação. Líderes palestinos apontam que a mudança é uma traição e uma abdicação do papel dos EUA como um parceiro neutro no conflito palestino-israelense. Entretanto existe uma razão que talvez seja ainda mais forte para a revolta dos palestinos: as terríveis condições de vida dentro de Gaza.

Tanto Israel quanto o Egito bloqueiam o território desde 2007 e os pontos de passagem da fronteira entre Gaza e seus vizinhos estão virtualmente fechados. Como resultado, a economia da Faixa de Gaza praticamente desmoronou. As vidas das pessoas chegam a um impasse quando perdem empregos, oportunidades educacionais e qualquer esperança para o futuro, e toda esta frustração tem sido canalizada durante semanas para os protestos que tem ocorrido na fronteira com Israel — um combustível que tornou as manifestações em atos de violência.

Participação do Hamas

Quem tem grande interesse em estimular o ódio de palestinos contra Israel é o grupo terrorista que controla a região, o Hamas. Seus líderes estimulam ataques violentos ao mesmo tempo em que, contraditoriamente, a organização prega por manifestações pacíficas.

Hussein Ibish, estudioso do Instituto dos Estados Árabes do Golfo em Washington, afirmou que o Hamas está desesperado com uma situação em Gaza cada dia mais fora de controle. “O desemprego é generalizado e crônico. A fome é galopante. A água é intragável. A eletricidade está disponível por apenas duas a quatro horas por dia. As estações de tratamento de esgotos falharam, e ainda não há como entrar ou sair do território para quase todos os perto de 2 milhões de pessoas de Gaza”, escreveu Ibish em uma coluna para o Foreing Policy em abril.

Leia também: Hamas foca no terror e sufoca cerca de 2 milhões de pessoas

“Desde a sua violenta tomada de Gaza e da expulsão da Autoridade Palestina [rival histórico do movimento terrorista] em 2007, o Hamas tem sido capaz de culpar os outros pelas condições miseráveis do território que controla. E por causa dos repetidos bombardeios israelenses e outros ataques, e do bloqueio virtual imposto por Israel e pelo Egito, apontar para Jerusalém e Cairo tem sido, de certa forma, eficaz”, continuou.

Um dia antes dos confrontos violentos desta segunda-feira (14), o líder do Hamas em Gaza, Yahya Sinwar, falou a jornalistas que “nosso povo tem direito de quebrar as paredes desta grande prisão” e que “não aceitaríamos morrer devagar”. O apelo que a organização terrorista está usando é contra a perda de casas e aldeias palestinianas quando o Estado de Israel foi formado em 1948 e centenas de milhares de palestinos foram forçados a deixar o território.

Os protestos não são espontâneos

Mas esse discurso não surgiu da noite para o dia, tampouco os protestos. A região já está entrando na sexta semana de conflitos. De acordo com o New York Times, no dia 27 de abril centenas de palestinos, instigados pelo Hamas, invadiram a barreira de segurança na fronteira leste da cidade de Gaza e tentaram chegar em território israelense.

Relatos da reportagem apontam que dezenas de palestinos cruzaram a cerca de arame farpado, que está instalada dentro do território de Gaza. Tropas israelenses abriram fogo com munição e balas de borracha, matando quatro pessoas e ferindo quase outras 1.000, de acordo com autoridades de saúde de Gaza. Alguns conseguiram chegar à segunda barreira, uma cerca com sensores que marca a borda do território israelense, e tentaram derrubá-la e escalá-la. Não muito longe dali, fica uma comunidade agrícola israelense.

Segundo testemunhas palestinas e oficiais israelenses, manifestantes estavam lançando bombas incendiárias, colocando fogo em pneus para tentar romper a cerca e alguns até carregavam armas — numa demonstração de que a invasão não era mera decorrência de um protesto espontâneo.

Os protestos não são pacíficos

Perante a comunidade internacional, o Hamas convocou os protestos pacificamente, mas palestinos têm lançado coquetéis molotov contra soldados israelenses e bombas incendiárias presas a pipas que rotineiramente passam por cima do bloqueio, incendiando terras agrícolas israelenses. 

Semanas antes do conflito desta segunda-feira, o líder do Hamas, Ismail Radwan, havia feito um discurso conclamando os manifestantes a não temer a morte. "Quando somos corajosos, estamos nos aproximando do martírio, do martírio, do martírio", disse ele.

Somando-se a isso, o líder da organização terrorista Al-Qaeda, Ayman al-Zawahiri, convocou seus seguidores no domingo para escalar a luta armada contra os Estados Unidos — uma resposta à transferência da embaixada dos EUA para Jerusalém. 

Segundo informou o National Review, Zawahiri afirmou que  Trump “revelou a verdadeira face da Cruzada moderna, onde a conciliação não funciona com eles, mas apenas resistência através do chamado e da luta armada”. Zawahiri, que sucedeu Osama Bin Laden como o líder da al-Qaeda, também criticou a Autoridade Palestina, a quem ele se referiu como “vendedores da Palestina” por hesitar em usar a força.

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