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Capitólio é centro legislativo do governo americano, que abriga a Câmara dos Representantes e o Senado | Zach Gibson/AFP
Capitólio é centro legislativo do governo americano, que abriga a Câmara dos Representantes e o Senado| Foto: Zach Gibson/AFP

As casas do Congresso dos Estados Unidos vão vestir cores diferentes a partir de hoje. As eleições de meio de mandato, conhecidas como midterms, deram vitória aos democratas na Câmara dos Representantes – pela primeira vez nos últimos oito anos – e firmaram a liderança republicana no Senado. 

À primeira vista, o resultado pode ser erroneamente interpretado como uma derrota para o presidente Donald Trump, que até então contava com o apoio das duas casas. Mas o fato é que, historicamente, o partido governista acaba perdendo espaço no legislativo nacional. Para efeito de comparação, em 2014,  sob a presidência de Barack Obama, os democratas perderam a maioria do Senado para os republicanos. Quatro anos antes, também sob Obama, eles haviam perdido o controle da Câmara em uma eleição que, na época, foi considerada como a pior derrota do Partido Democrata em 70 anos – os republicanos haviam ganhado 63 lugares a mais do que tinham na legislatura anterior.

O equilíbrio do poder mudou depois da eleição desta terça-feira, mas a tão falada “onda azul”, referência a uma possível vitória esmagadora dos democratas nas disputas da Câmara e dos 36 governos estaduais, acabou como uma marola, segundo jornalistas e analistas políticos. Saiba quais foram os pontos-chaves desta eleição e como ela vai influenciar a política americana a partir de agora.

1. A meia vitória democrata

Na noite de terça-feira (6) - madrugada no Brasil - os democratas já comemoravam a vitória na Câmara dos Representantes ao chegar aos 218 assentos necessários para conquistar a maioria da casa. Até às 12h (horário de Brasília), eles haviam ganhado 219 lugares contra 193 dos republicanos e a projeção do New York Times é de que assumam mais 10 cadeiras até o fim da contagem dos votos.

Além de contar com a história e o sentimento anti-Trump, a retomada foi impulsionada por um número recorde de mulheres candidatas. Elas atualmente ocupam 84 cadeiras na Casa, mas essa representatividade está projetada para subir para 100 ou mais, quando todos os votos estiverem contabilizados. 

Mas a vitória não foi tão grande quanto o esperado. Uma análise feita pelo site americano Daily Signal mostra que estas midterms não foram tão boas para os candidatos progressistas, apesar de terem recebido atenção nacional significativa.

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Um exemplo é o candidato ao senado pelo Texas, Beto O’Rourke, considerado uma das grandes estrelas do partido e muito carismático, mas que perdeu para o senador republicano Ted Cruz. Outro nome é Andrew Gillum, que ganhou notoriedade por seus pontos de vista estritamente progressistas, mas perdeu para o deputado Ron Desantis na corrida do governador da Flórida. No estado da Geórgia, nem mesmo o apoio da Oprah foi suficiente para que a candidata republicana Stacey Abrams ganhasse do republicano Brian Kemp na disputa do governo estadual.

2. A meia vitória dos republicanos

O partido do presidente Trump conseguiu assegurar a maioria no Senado e podem até mesmo aumentar o número de cadeiras na casa. Até às 12h (horário de Brasília), eles haviam conquistado 51 dos 100 assentos e uma projeção do New York Times apontava para uma vitória republicana de 53 a 47.

Quem pavimentou a vitória vermelha foram os candidatos alinhados ao presidente. O representante da Dakota do Norte, Kevin Cramer, o empresário de Indiana Mike Braun e o procurador-geral de Missouri, Josh Hawley, todos aliados leais de Trump, ganharam cadeiras que antes pertenciam a democratas. A deputada republicana Marsha Blackburn, outra partidária de Trump, derrotou um ex-governador popular no Tennessee. Por isso, a visão de mundo de Trump deve se refletir fortemente nos debates pós-eleições sobre assuntos como imigração, saúde justiça federal, comércio e gastos governamentais.

Há uma importante exceção, no entanto.  Mitt Romney, ex-candidato presidencial pelo Partido Republicano, ganhou a cadeira do senador republicano Orrin Hatch. Romney criticou Trump, inclusive em um discurso contra sua candidatura em 2016, mas ultimamente ele tem sido menos abertamente hostil ao presidente.

Outro fator que influenciou os votos republicanos foi o chamado “efeito Kavanaugh”, segundo o site Daily Signal. Senadores democratas de estados pró-Trump que votaram contra a nomeação do juiz Brett Kavanaugh para a Suprema Corte dos EUA tiveram uma noite ruim. Heidi Heitkamp, da Dakota do Norte; Joe Donnelly, de Indiana; Claire McCaskill, do Missouri; e Bill Nelson, da Flórida, perderam para seus adversários republicanos. O senador Joe Manchin foi o único senador democrata que votou pela confirmação de Kavanaugh. Ele derrotou seu oponente, o procurador-geral da Virgínia Ocidental, Patrick Morrisey, em um estado que o presidente Donald Trump ganhou esmagadoramente em 2016. 

3. O que esperar dos democratas na Câmara

Quem provavelmente assumirá o cargo de porta-voz da maioria da Câmara é Nancy Pelosi, democrata da Califórnia. Na noite de terça-feira, em Washington, ela falou que "os democratas prometeram um Congresso que trabalha para o povo" e que assumirá pautas como “reduzir o custo dos cuidados de saúde baixando o valor dos medicamentos prescritos” e “aumentar os salários dos trabalhadores com um forte crescimento econômico através da reconstrução da infra-estrutura da América”.

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Com a Câmara nas mãos dos democratas a partir de janeiro, o presidente deve ser alvo de múltiplas investigações. Sob a liderança de Pelosi, eles devem usar o controle da casa para supervisionais mais de perto a administração Trump e preservar todos os documentos relacionados à investigação do procurador especial Robert Mueller sobre as conexões de Trump com a Rússia, para o acompanhamento do Congresso, de acordo com o Daily Signal

A abertura de um processo de impeachment, por enquanto, é ideia descartada entre os democratas - eles não seriam capazes de tirar Trump da presidência sem o apoio do Senado. “Eu acredito que o impeachment, usar esta palavra, é muito divisivo”, disse Pelosi. Segundo o jornal The Guardian, a agenda democrata pode até incluir uma cooperação com Trump.

Também é de se esperar a proposta de uma reforma do financiamento de campanha, que incluiria a proibição do gerrymandering, que é o redesenho dos mapa distritais; e mais proteção à comunidade LGBT com um projeto de lei que acrescentaria proteções a mulheres, lésbicas, gays, bissexuais e transgênero à Lei dos Direitos Civis de 1964, que proíbe a discriminação baseada em raça, cor, sexo, religião e ancestralidade.

4. O que esperar dos republicanos no Senado

Não se espera que a agenda republicana do Senado seja tão ambiciosa quanto nos últimos dois anos, quando o Partido Republicano controlou o governo federal após a surpreendente vitória de Trump. A retomada da Câmara pelos democratas provavelmente será um grande impedimento para se chegar a um acordo sobre a maioria das grandes questões. 

Ainda assim, o Senado ainda terá que navegar em algumas batalhas de alto risco. A administração Trump está se preparando para uma massiva reorganização pós-legislativa, o que poderia desencadear nomeações para procurador-geral e outros cargos no gabinete que o Senado seria encarregado de confirmar nos próximos meses. 

O líder da maioria no Senado, o republicano Mitch McConnell, disse que a confirmação de juízes federais será uma prioridade máxima. Essa é uma tarefa realizada apenas pelo Senado, e os aliados de McConnell disseram que continuará a ser um ponto focal na próxima legislatura do Congresso. 

"Acho que a única coisa que se torna realmente importante, tanto para a administração quanto para os republicanos do Senado, é continuar no negócio de pessoal", disse Josh Holmes, ex-chefe de equipe da McConnell e um de seus confidentes mais próximos. "Eu acho que refazer o Judiciário está no topo da agenda". 

5. Uma eleição de ‘primeiras vezes’

Os resultados das eleições produziram um dos grupos de políticos mais diversos da história americana, trazendo uma onda de governadores, senadores e representantes que vão quebrar décadas ou mesmo séculos de barreiras quando forem empossados. 

Muitos candidatos em todo o país se tornaram a primeira pessoa de seu gênero, raça, etnia ou orientação sexual a ser eleita para os cargos que disputaram. 

Entre os ineditismos estão Jared Polis, o primeiro homem abertamente gay eleito governador; Deb Haaland e Sharice Davids, as primeiras mulheres indígenas no Congresso; Rashida Tlaib e Ilhan Omar, as primeiras mulheres muçulmanas a conquistar uma cadeira no Congresso; Alexandria Ocasio-Cortez, de 29 anos, a mulher mais jovem da América já eleita para o Congresso (ela se elegeu com boa vantagem, apesar de defender o socialismo e ter dado declarações à la Dilma sobre economia e meio ambiente); Kristi L. Noem, primeira governadora do Dakota do Sul; e Janet Mills, a primeira governadora do Maine.

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