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Presidente dos EUA, Donald Trump, e presidente da China, Xi Jinping | JIM WATSON/AFP
Presidente dos EUA, Donald Trump, e presidente da China, Xi Jinping| Foto: JIM WATSON/AFP

Os Estados Unidos estão em uma guerra fria tecnológica crescente com a China. Ela não está centrada em tarifas e comércio, citados com frequência pelo presidente americano Donald Trump; em vez disso, envolve o roubo de tecnologias pela China e o uso destas tecnologias para roubar informações. 

Nessa guerra fria, já houve baixas tanto no governo dos EUA quanto no setor privado – incluindo a invasão de Pequim no sistema de informática do Escritório de Administração de Pessoal para roubar pedidos de liberação de segurança de funcionários do governo americano e, mais recentemente, o vazamento do sistema de reservas da cadeia de hotéis Marriott. Como destacado em recentes acusações e uma nova "Iniciativa da China" do Departamento de Justiça, também vimos o roubo de quantidades significativas de tecnologia em si. 

Muita coisa está em jogo. No início desta semana, um alto funcionário do FBI disse ao Comitê Judiciário do Senado que a "agressão econômica da China, incluindo seu roubo implacável de ativos dos EUA, está posicionando-a para nos suplantar como a superpotência mundial". 

A fabricante chinesa de equipamentos wireless Huawei é uma das principais empresas nessa guerra fria. Desde 2012, os Estados Unidos têm tratado publicamente a Huawei como uma ameaça à segurança nacional dos EUA, citando o risco associado à permissão de seu hardware nas redes de comunicação dos EUA: de que o governo chinês vai usá-la como uma plataforma de espionagem. Mais recentemente, outras nações começaram a compartilhar essa preocupação, incluindo Austrália, Nova Zelândia, Japão, Grã-Bretanha e possivelmente o Canadá (que recentemente prendeu a diretora financeira da Huawei a pedido dos Estados Unidos, aparentemente por conduta relacionada às sanções comerciais dos EUA contra Irã). 

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A Huawei está investindo fortemente na próxima geração de uma tecnologia sem fio, chamada de 5G, em momento em que uma corrida contínua pela supremacia aumenta significativamente as apostas e deve preocupar todos nós. Isso acontece por pelo menos três razões. 

5G no centro da disputa

Primeiro, o 5G aumentará drasticamente a velocidade das comunicações sem fio, permitindo aos usuários, por exemplo, baixar um filme em poucos segundos. É possível imaginar set-top boxes sem fio fornecendo conteúdo para televisores domésticos sem uma conexão com fio ou fibra. Haverá mais dados móveis, fluindo mais rápido do que nunca, através de redes 5G. Aqueles que controlam essas redes, através de hardware ou software, controlarão o acesso a esses dados e poderão roubar grandes quantidades de informações em curtos períodos de tempo. 

Em segundo lugar, as redes 5G prometem muito menos oscilações e maior confiabilidade. Enquanto as gerações anteriores de tecnologia móvel se concentravam principalmente na conexão de pessoas, a 5G é particularmente adequada para conectar coisas, oferecendo aplicações em prevenção de colisões, medições inteligentes e outras funções críticas. O controle das redes 5G poderia, portanto, permitir não apenas a espionagem, mas também a sabotagem. O chefe da agência militar de Defesa Digital da Austrália observou recentemente que o 5G aumenta significativamente o risco de que infraestruturas críticas sejam derrubadas em um ataque cibernético. 

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Terceiro, as escolhas feitas entre os padrões 5G concorrentes afetarão quem tem a melhor compreensão de como a tecnologia é implementada - seja em silício, software, infraestrutura de rede ou na nuvem. Quem quer que tenha o melhor entendimento terá um avanço significativo em termos econômicos, em segurança cibernética e em inteligência de sinais - ou seja, na promoção de sua economia, protegendo seus segredos e roubando os de seus rivais. 

Segurança

A Huawei certamente não é a única empresa chinesa envolvida nessa guerra fria tecnológica. A ZTE também foi identificada como um risco de segurança nacional em 2012, e a empresa de telecomunicações assumiu uma conduta imprópria significativa desde então. Há também vários fabricantes menores de equipamentos originais na China, com nomes como Oppo e Xiaomi, que vendem um grande número de aparelhos e aspiram expandir-se para a Europa e além. Precisamos ter cuidado com todos eles. 

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No mês passado, a Comissão de Revisão Econômica e de Segurança EUA-China relatou ao Congresso que o governo chinês pode "forçar os fornecedores ou fabricantes chineses a modificar os produtos abaixo das expectativas ou a falhar, facilitar a espionagem estatal ou corporativa ou comprometer a confidencialidade, integridade ou disponibilidade de dispositivos [conectados à internet - Internet das Coisas] ou equipamentos de rede 5G". Essa é uma consideração séria, especialmente quando as parcerias público-privadas nos Estados Unidos estão em um período de relativa baixa. 

Pode não haver um fim para essa guerra fria tecnológica tão cedo, mas é vital para nossa segurança nacional que não cedamos. Também é vital que ganhemos a batalha pelo 5G. Para isso, precisamos não só de políticas econômicas e tecnológicas sólidas, mas também de melhores capacidades políticas, diplomacia, inteligência e fiscalização.

*Morell, colunista do Post, é ex-vice-diretor da Agência Central de Inteligência (CIA). Kris é ex-procurador-geral assistente de segurança nacional e cofundador da firma de consultoria Culper Partners.

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