Pequim - A Coreia do Sul anunciou ontem o reforço de suas tropas na fronteira com a Coreia do Norte, em reação ao bombardeio norte-coreano contra a ilha Yeonpyeong, na terça-feira. O ataque deixou quatro mortos e aumentou ainda mais a tensão entre os dois países.
Será reforçada a presença militar em Yeonpyeong e em outras quatro ilhas, segundo o porta-voz da Presidência sul-coreana, Hong Sang-pyo. Hoje há cerca de 4 mil soldados na região. "Não podemos baixar a guarda, disse.
Por causa do bombardeio, os militares sul-coreanos planejam criar um novo código de resposta a ataques da Coreia do Norte contra civis, informou a agência estatal de notícias Yonhap.
Segundo a versão sul-coreana, os fuzileiros navais demoraram 13 minutos para contra-atacar, tempo considerado adequado pelo comando militar do país.
Seul está investigando se a Coreia do Norte utilizou bombas termobáricas contra Yeonpyeong. Carregadas de combustível, elas têm mais poder de destruição do que explosivos convencionais.
A mídia sul-coreana divulgou ontem que "apenas algumas horas antes do ataque da Coreia do Norte, na terça-feira, o líder do país comunista, Kim Jong-il, e seu filho e sucessor, Kim Jong-un, visitaram a base de artilharia de onde foram feitos os disparos. A imprensa de Seul afirmou que, provavelmente, o ataque foi ordenado pelo próprio Kim Jong-il.
Diplomacia
No campo diplomático, a China, o principal aliado da Coreia do Norte, disse, por meio de sua Chancelaria, que está "preocupada com os exercícios militares que serão realizados a partir de domingo com navios de guerra americanos e sul-coreanos.
Durante visita à Rússia, o premiê Wen Jiabao disse que a China defende a "paz e a estabilidade na península, mas que o país "se opõe a qualquer ameaça de força.
Para os EUA, o exercício, que contará com a presença do imponente porta-aviões USS George Washington (75 aeronaves e 6 mil tripulantes), serve de recado também para a China: se continuar relutante em exercer mais pressão sobre Pyongyang, a presença militar americana crescerá na região.
Em editorial ontem, o jornal nacionalista chinês Global Times chamou a aliança entre Coreia do Sul e EUA de "arma inativa e criticou a pressão internacional para que a China seja mais incisiva contra a Coreia do Norte.
"Quanto maior a distância entre a Coreia do Norte e os seus vizinhos, mais a região cairá em incerteza, afirma.
Já o analista Andrei Lankov, da Universidade Kookmin, em Seul, diz que a China sabota as sanções internacionais contra a Coreia do Norte, minando os esforços contra o regime de Kim Jong-il.
"A China acredita que a instabilidade doméstica na Coreia do Norte é uma ameaça maior a seus interesses do que o programa nuclear norte-coreano, portanto não quer ver Pyongyang acuada, escreveu Lankov no jornal The New York Times.
Escassez
Dois dias após os ataques, Yeonpyeong começou a voltar à normalidade com a chegada da primeira balsa na ilha, embora ainda se observem o trabalho de bombeiros, militares e civis. Yeonpyeong fica no mar Ocidental, a 80 quilômetros de Incheon, seu principal acesso à Coreia do Sul, e a 13 quilômetros da Coreia do Norte.
Park Sung-ik, 45 anos, lembrou que no dia que começaram a cair os projéteis norte-coreanos ele estava no píer, o que o salvou de ser um dos quatro mortos e dezenas de feridos. A maioria dos habitantes de Yeonpyeong, que vive essencialmente da pesca, foi retirada do local após o ataque e parte retornou ontem.
Na ilha residem cerca de 1,7 mil pessoas e centenas de militares que fazem guarda. Yeonpyeong se transformou em uma área de combate, com carros de cabeça para baixo devido à potência das explosões, casas totalmente queimadas, e a maioria de imóveis com marcas de estilhaços e vidros quebrados.