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Para muita gente, a escolha do biólogo Robert Edwards como Nobel de Medicina 2010 veio tarde, pela relevância que sua pesquisa teve na vida de mi­­lhões de famílias. Pioneiro na técnica de fertilização in vitro de bebês, ele deu esperança a pessoas que so­­nhavam em ter fi­­lhos, mas não conseguiam concebê-los.

Para outros, a reprodução as­­sistida levantou questões ainda não respondidas, desde que nasceu o primeiro bebê de proveta, em 1978. Uma delas: quão ético é uma clínica comercializar partes do corpo de al­­guém, como óvulos e esperma? Outra: a criança resultante tem direito de conhecer seu passado genético?

São questões que incomodavam a cientista política norte-americana Debora L. Spar quando decidiu pesquisar a realidade da fertilização in vitro nos Es­­tados Unidos. O que ela descobriu resultou no livro The Baby Business: How Money, Science, and Politics Drive the Commerce of Conception (O Negocio de Bebês: Como o Dinheiro, a Ciência e a Po­­lítica Comandam o Comércio da Concepção, publicado em Por­­tugal pela Alme­­dina Brasil, em 2007).

Leia nesta entrevista, concedida por telefone à Gazeta do Povo, alguns dos questionamentos e análises que Debora, mãe de dois filhos biológicos e um adotado, faz sobre o tema:

Qual sua avaliação da escolha de Robert Edwards para o Nobel de Medicina 2010?

Foi uma escolha muito interesse do Comitê do Nobel, porque ele claramente contribuiu para uma grande inovação que mudou vidas de literalmente milhões de pessoas. O que foi surpreendente é que ele tenha sido premiado tantos anos após a criação da fertilização in vitro.

A senhora acredita que homens e mulheres passaram a encarar a gravidez comercialmente após a invenção da técnica?

Ela abriu uma nova área que permite a homens e mulheres comprar elementos do corpo de ou­­tras pessoas, o que antes não era possível, mas não acho que ne­­cessariamente isso faz com que as pessoas vejam os bebês como objeto comercial.

Que questões éticas surgiram com as técnicas de reprodução assistida?

Claramente essa tecnologia trouxe novas questões éticas, como ocorre com muitas novas tecnologias. Cabe aos seres humanos descobrir como lidar com elas. Mas as tecnologias em si mesmas não têm um valor moral, o que importa é como nós decidimos usá-las. Como realizamos a compra de óvulos e esperma de terceiros, como regulamos essa tecnologia. Para mim, a maior questão é saber que direitos daremos às crianças criadas por essa tecnologia de reprodução. Se elas poderão conhecer seu passado pessoal e seus pais genéticos.

Essas questões são mais físicas ou emocionais?

Acho que ambas.

Uma delas é acreditar que um filho "de laboratório" será perfeito?

Claro que as pessoas sempre querem que seus filhos sejam perfeitos e não é provado que elas esperem maior perfeição quando têm um filho usando essa tecnologia. Muitas vezes, estão tão desesperadas quando apelam a essas técnicas que querem simplesmente um bebê. Mas, certamente, as pessoas têm agora mais oportunidade de escolher características específicas do doador e isso pode levá-las a esperar certas coisas de seus filhos.

O que os americanos em geral pensam sobre a possibilidade de escolher essas características?

Não há um pensamento geral, varia muito.Deveria haver mais regulação sobre isso?

Sim, acho que devemos fazer muito mais para proteger a vida dos bebês.

É difícil adotar nos EUA?

Depende da sua idade, de quem você é e que tipo de relacionamento tem. A adoção é regulada no nível estadual. Se você é saudável, jovem e forma um casal heterossexual, é fácil. Se for mais velho, solteiro ou gay, é muito mais difícil.

No Brasil, a preferência é por bebês pequenos, loiros e do sexo feminino. Acontece o mesmo nos EUA?

As meninas são preferidas, especialmente em se tratando de crianças mais velhas. Mas acho que os americanos estão cada vez mais abertos a adotar uma criança diferente de si mesmos. Houve uma grande entrada de bebês chineses, indianos e etíopes no país.

Ajuda quando celebridades fazem isso?

Não acho que alguém adote porque a Madonna adotou, e sim porque quer um bebê.

E quais os motivos pelos quais os americanos preferem a reprodução assistida?

Varia muito, as pessoas têm vi­­sões muito fortes. Geralmente, elas querem ter um filho que tenha seu material genético, mas nem sempre escolhem a adoção, seja porque não querem passar por um procedimento de alta tecnologia, seja porque acham que adotar é algo bom.

Quando a senhora escreveu seu livro, a "indústria dos bebês" movimentava US$ 3 bilhões nos EUA. E hoje?

Provavelmente o número au­­men­­tou, mas não pude atualizar esse dado.

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