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Foto mostra a "lettre aux français" (Carta aos franceses) escrita e assinada pelo presidente francês Emmanuel Macron para a população francesa antes do "grande debate nacional", na frente de o Palácio do Eliseu, em Paris | LUDOVIC MARIN/AFP
Foto mostra a "lettre aux français" (Carta aos franceses) escrita e assinada pelo presidente francês Emmanuel Macron para a população francesa antes do "grande debate nacional", na frente de o Palácio do Eliseu, em Paris| Foto: LUDOVIC MARIN/AFP

O governo francês inicia nesta terça-feira (15) dois meses de consultas públicas em resposta à crise social detonada pelas manifestações dos "coletes amarelos", no momento em que a mobilização volta a ganhar força.

Não está claro como as contribuições de cidadãos de todo o país em assembleias, estandes de coletas de ideias e fóruns virtuais irão embasar medidas concretas.

Além disso, a pauta definida pela gestão Emmanuel Macron para o debate nacional é alvo de críticas por não contemplar algumas das principais reivindicações dos milhares que vão às ruas todo sábado desde novembro passado.

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A "turnê do microfone aberto" é mais uma aposta do ex-banqueiro para tentar se desvencilhar da imagem de "presidente dos ricos", indiferente às agruras e aos anseios do cidadão médio.

A principal antagonista de Macron na cena política francesa, Marine Le Pen, da Reunião Nacional (ex-Frente Nacional, direita radical), tem sido hábil em modular seu discurso à medida que os "coletes amarelos" expõem descontentamentos, sem parecer instrumentalizar o movimento. Seu grupo lidera as intenções de voto relativas à eleição para o Parlamento Europeu, marcada para maio.

Os coletes amarelos

A mobilização começou em torno da oposição ao aumento de uma taxa sobre o combustível. Diante da amplitude dos protestos, o governo suspendeu e, mais tarde, revogou a elevação do tributo, só para perceber que as queixas àquela altura já eram outras. Reclamava-se da precariedade dos serviços públicos no interior, da depreciação do poder aquisitivo, da falta de interlocução do establishment político com os eleitores.

Depois de uma jornada de atos particularmente violentos (com carros incinerados, monumentos e lojas saqueados e destruídos), a gestão Macron voltou à carga, aumentando o valor do salário mínimo, diminuindo a taxação de uma parte das aposentadorias e acelerando os preparativos para o tal debate nacional.

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O remédio pareceu surtir efeito por algum tempo - as manifestações do fim de dezembro tiveram público decrescente. Mas, neste começo de 2019, os "coletes amarelos" recuperaram o fôlego: foram 50 mil participantes no dia 5 de janeiro, e 84 mil no último sábado (12).

Os temas em questão

Em carta divulgada no domingo (13), Macron delineia quatro grandes temas para o debate que pretende promover: política fiscal e gasto público, organização do Estado e dos serviços públicos, transição energética/ecológica e, por fim, participação cidadã. Para cada um, lança uma série de questões, como, por exemplo, "deve-se aumentar o recurso a plebiscitos? De quem a iniciativa [de promovê-los] deve partir?"

O texto não menciona o imposto sobre fortunas, cuja extinção ajudou a colar em Macron o rótulo de mandatário dos ricos e que os "coletes amarelos" insistem para ver restabelecido. Também não reserva nem uma linha ao combate à fraude fiscal (sobretudo por parte de empresas), outro pleito do movimento, nem trata dos privilégios da classe política, um terceiro ponto sensível.

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Analistas destacaram que Macron incluiu na carta um tema que não integra a pauta de reivindicações dos "coletes amarelos": a imigração. No documento, ele lembra o histórico da França como país de acolhida a refugiados e perseguidos, mas diz que "essa tradição é hoje revirada pelas tensões e dúvidas ligadas à imigração e às falhas de nosso sistema de integração".

O presidente emenda com duas perguntas: "Uma vez cumpridas nossas obrigações de asilo, vocês gostariam que pudéssemos fixar metas anuais definidas pelo Parlamento? O que propõem para responder a essa desafio que ainda durar?"

Estudiosos e organizações de defesa de imigrantes criticaram duramente na segunda a menção ao tema em um debate que em princípio não lhe diz respeito. O temor é que os imigrantes virem um bode expiatório, comecem a ser apontados como responsáveis pelas dificuldades contra as quais os "coletes amarelos" bradam há dois meses.

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