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Cleso Amorim em coletiva de imprensa em Brasília. | REUTERS/Ricardo Moraes
Cleso Amorim em coletiva de imprensa em Brasília.| Foto: REUTERS/Ricardo Moraes

O Brasil ainda vê espaço para uma solução negociada envolvendo o programa nuclear do Irã, mas admite que a continuidade do enriquecimento de urânio, já anunciada pela República Islâmica, não foi um assunto discutido entre os dois países, disse o chanceler Celso Amorim nesta sexta-feira.

Brasil e Turquia mediaram nesta semana um acordo pelo qual o Irã se compromete a enviar no prazo de um mês 1.200 quilos de urânio baixamente enriquecido à Turquia para receber em troca, dentro de um ano, 120 quilos de urânio enriquecido a 20 por cento, a fim de usá-lo num reator de pesquisas médicas.

A proposta inicialmente havia sido feita em outubro, pela Organização das Nações Unidas (ONU), com a intenção de evitar que o Irã enriqueça urânio, atividade que potências ocidentais temem que seja parte de um programa secreto de armas nucleares.

Os Estados Unidos dizem que o Irã agora aceitou o acordo só para ganhar tempo, e nesta semana os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU se puseram de acordo sobre um esboço para uma quarta rodada de sanções ao país.

"É claro que precisa haver garantias, discussões -- muitas coisas ainda precisam acontecer. É difícil, mas há uma saída", disse Amorim a correspondentes estrangeiros no seu gabinete. "É preciso dar algum tempo para que isso funcione."

Um parlamentar iraniano já avisou que, se as sanções forem aprovadas, o Irã vai cancelar o acordo feito com Turquia e Brasil.

Mas Amorim disse que muitos países estão abertos à possibilidade de manter o diálogo paralelamente às sanções.

"Muitos países têm dito que estão comprometidos com uma abordagem de duas pistas. O negócio com as duas pistas é que a certa altura as pessoas vão por caminhos diferentes, e é preciso decidir qual você segue."

"Fomos encorajados"

O chanceler admitiu que a insistência do Irã em continuar produzindo urânio enriquecido a 20 por cento, apesar do intercâmbio de material, é uma preocupação válida para a comunidade global. Segundo ele, a questão não foi discutida na recente visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Teerã.

"Não estava na agenda. Ninguém nos disse: 'Ei, se vocês (Irã) não pararem o enriquecimento a 20 por cento, esqueçam o acordo'", afirmou.

O Brasil alega que foram os Estados Unidos e outras potências ocidentais que lhe estimularam a tentar retomar a negociação, que estava abandonada por causa da insistência do Irã de que a troca de material ocorresse simultaneamente, e no seu território.

"Fomos encorajados direta ou indiretamente (...) a implementar a proposta de outubro, sem qualquer desvio, e foi o que fizemos", afirmou Amorim.

Numa carta endereçada a Lula há duas semanas, o presidente norte-americano, Barack Obama, dizia que o envio de urânio iraniano para o exterior geraria confiança.

"Do nosso ponto de vista, uma decisão do Irã de enviar 1.200 quilos de urânio de baixo enriquecimento para fora do país geraria confiança e diminuiria as tensões regionais por meio da redução do estoque iraniano", disse Obama, de acordo com trechos da carta obtidos pela Reuters na tradução ao português.

O Brasil tem alertado contra novas sanções da ONU ao Irã, comparando-as à invasão do Iraque, em 2003, sob a falsa premissa de que havia armas de destruição em massa no país.

Questionado sobre se os esforços do Brasil seriam válidos mesmo que posteriormente surjam provas de que o Irã está desenvolvendo armas atômicas, Amorim respondeu: "Valeu a pena bombardear o Iraque, matar 200 mil pessoas, digamos 1 milhão?"

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