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Guerra entre o governo e os jornais argentinos devem acabar após o fim do mandato de Cristina. | Elisandro Dalcin/Gazeta do Povo
Guerra entre o governo e os jornais argentinos devem acabar após o fim do mandato de Cristina.| Foto: Elisandro Dalcin/Gazeta do Povo

Trinta e dois milhões de argentinos deverão comparecer às urnas neste domingo (25) para decidir quem sucederá Cristina Kirchner. Mas três constatações já podem ser feitas: o novo chefe de estado não será mulher, tampouco um kirchnerista “puro” –ainda que o candidato apoiado pela presidente lidere as pesquisas. Os especialistas acreditam que a guerra entre a grande imprensa e o governo deverá finalmente acabar.

Desde que o Grupo Clarín se tornou o principal crítico do atual governo, ataques pessoais a Cristina se tornaram constantes, mas o mesmo não se aplica a seu candidato, Daniel Scioli.Vencedor das eleições primárias de agosto e atualmente com cerca de 38% das intenções de voto, Scioli não é visto como um representante do kirchnerismo tradicional, além de ser uma figura mais moderada e alinhada aos interesses dos grandes empresários, incluindo o CEO do Clarín, Héctor Magnetto.

“Cristina rompeu com alianças que haviam sido cultivadas por seu marido Néstor (morto em 2010), como o sindicalismo peronista clássico, as forças agropecuárias e a imprensa. Scioli parece expressar a retomada desses laços”, acredita Martín Becerra, autor do livro “De la concentración a la convergencia: políticas de medios en Argentina y América Latina” (sem edição no Brasil).

Corrida à Casa Rosada

Diante da impossibilidade de reeleição, Cristina Fernández de Kirchner se despede da Casa Rosada em dezembro. Seu posto é disputado por seis candidatos, três deles com maior chance de chegar lá:

Governador da província de Buenos Aires, é o candidato da chapa Frente para la Victoria, do atual governo. Nas eleições primárias, obteve 38,67% do sufrágio. Entrou para a política em 1997, no governo de Carlos Menem, e chegou a vice-presidente de Kirchner. Mas está mais para o peronismo de centro-direita e especula-se que não seguiria a cartilha de Cristina à risca. Tem 58 anos, um único braço – o direito, perdeu num acidente de lancha – e tem chances reais de definir as eleições em primeiro turno.

Principal oposição pelo partido que ele mesmo fundou, o Proposta Republicana, o candidato da direita é prefeito da cidade de Buenos Aires e foi presidente do clube de futebol Boca Juniors em sua melhor fase. É o menos peronista dos três, mas nas últimas semanas tem mudado o discurso neoliberal e falado em intensificar programas sociais, numa tentativa de se associar à escola de Perón para conquistar os votos que o levariam a disputar um segundo turno com Scioli.

Diretor da Previdência no governo de Eduardo Duhalde, foi chefe de gabinete dos Kirchner entre 2008 e 2009, prefeito do município de Tigre e atualmente é deputado nacional pela província de Buenos Aires. Fundou a Frente Renovadora em 2013, quando se tornou um peronista dissidente do governo e derrotou o kircherista Martín Insaurralde nas eleições legislativas daquele ano. Acredita que é o único capaz de vencer Scioli. “Se formos para segundo turno, termina o kirchnerismo”, diz.

Para Becerra, que doutor em Ciências da Comunicação e professor da Universidade Nacional de Quilmes, a cobertura das eleições argentinas vem sendo marcada pela polarização ideológica. De um lado, veículos francamente opositores ao governo, como “La Nación”, “Perfil” e, com maior força, “Clarín”; de outro, francamente oficialistas, como “Página 12”, “La Razón”, C5N e Telefe, sem contar a TV Pública. “A diferença é que os primeiros mantiveram uma atitude de relativa equidistância entre os três candidatos, sem uma campanha de ataques a Scioli.

Já os oficialistas mostraram uma visão mais cega, porque não fizeram uma cobertura equilibrada. Interessaram-se em mostrar Scioli como um continuador de Cristina e foram muito críticos com Mauricio Macri e Sergio Massa, os candidatos da oposição.”

Na cobertura televisiva, um dos programas de maior audiência é “Periodismo [jornalismo] para Todos”, exibido nas noites de domingo no canal 13, do Grupo Clarín. Jorge Lanata, um dos principais críticos da era K, tenta esclarecer a uma plateia essencialmente jovem temas da política com humor, ironia e didatismo, numa retórica impecável e cheia de palavrões. Na edição anterior às eleições, o âncora entrevistou militantes das principais forças políticas do país e mostrou o dia a dia de diferentes realidades sociais – uma empregada, um empresário e uma empreendedora. Mas não se furtou de veicular um comercial fictício da “Linha Kosmética (K, de Kirchner) Lo’irreal”, parodiando a marca L’Oréal: “para maquiar melhor a realidade”.

No Twitter, o programa se tornou um trending topic ao fazer uma sondagem ao vivo: 1,8 mil votariam em Scioli, 6,5 mil em Massa e 61 mil em Macri, bastante diferente dos números coletados por consultorias especializadas como a Management & Fit, que aponta Scioli com 38% das intenções contra 29% de Macri e 21% de Massa.

Enquanto isso, diariamente na TVP, o programa “6,7,8” se dedica a analisar a cobertura da grande imprensa e confrontá-la com documentação consistente, mostrando que nem sempre o que sai na mídia condiz com a realidade. Embora ultragovernista, a iniciativa serve como contraponto.

Será o fim do kirchnerismo?

A eleição presidencial na Argentina, que acontece neste domingo (25) trará uma mudança no chefe de governo, mas o que se tem certeza é que todos os candidatos focaram suas propostas em uma reforma econômica, foco de críticas ao governo Kirchner, principalmente por parte de investidores.

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Para Martín Becerra, o programa de Lanata é mais um show político do que um programa jornalístico, pois faz um recorte tendencioso da realidade, mas um canal privado teria liberdade editorial para isso. “Já o programa ‘6,7,8’ deveria oferecer uma informação mais plural, por ser veiculado em uma emissora pública, e não apresentar os fatos pelo filtro governista. O próprio estado infringe a Lei de Mídia que ele mesmo aprovou”, critica.

Iniciativa interessante é o site “Chequeado”, que verifica dados com fontes primárias e especialistas para classificar a confiabilidade do discurso público. Nestas eleições, criou com o “La Nación” um Índice de Verificação que avalia o quão concretas são as informações dadas pelos candidatos em suas últimas entrevistas. Massa teria sido o mais concreto, com 60%, bem à frente de Macri (45%) e Scioli (38%).

Correspondente da Globo News em Buenos Aires e autor do livro Os Argentinos, Ariel Palacios acredita que essas eleições são atípicas. Ainda que os jornais publiquem muito conteúdo político, há poucas entrevistas diretas com os candidatos, que não têm a verborragia de Cristina – Scioli, por exemplo, tem na esposa sua porta-voz. “Os candidatos são taciturnos, não têm carisma, não mobilizam multidões e são muito parecidos em termos políticos, com uma tendência mais para o centro”, diz. Para Palacios, o que realmente preocupa é que, nas eleições primárias, mais de 10 milhões de pessoas optaram por não dar seu voto a ninguém. “É mais do que os votos que recebeu Scioli, mas aparentemente os jornais não dão bola para isso. O povo argentino se tornou muito cético quanto aos governantes desde a crise de 2001”.

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Corrida à Casa Rosada

Diante da impossibilidade de reeleição, Cristina Fernández de Kirchner se despede da Casa Rosada em dezembro. Seu posto é disputado por seis candidatos, três deles com maior chance de chegar lá:

Governador da província de Buenos Aires, é o candidato da chapa Frente para la Victoria, do atual governo. Nas eleições primárias, obteve 38,67% do sufrágio. Entrou para a política em 1997, no governo de Carlos Menem, e chegou a vice-presidente de Kirchner. Mas está mais para o peronismo de centro-direita e especula-se que não seguiria a cartilha de Cristina à risca. Tem 58 anos, um único braço – o direito, perdeu num acidente de lancha – e tem chances reais de definir as eleições em primeiro turno.

Principal oposição pelo partido que ele mesmo fundou, o Proposta Republicana, o candidato da direita é prefeito da cidade de Buenos Aires e foi presidente do clube de futebol Boca Juniors em sua melhor fase. É o menos peronista dos três, mas nas últimas semanas tem mudado o discurso neoliberal e falado em intensificar programas sociais, numa tentativa de se associar à escola de Perón para conquistar os votos que o levariam a disputar um segundo turno com Scioli.

Diretor da Previdência no governo de Eduardo Duhalde, foi chefe de gabinete dos Kirchner entre 2008 e 2009, prefeito do município de Tigre e atualmente é deputado nacional pela província de Buenos Aires. Fundou a Frente Renovadora em 2013, quando se tornou um peronista dissidente do governo e derrotou o kircherista Martín Insaurralde nas eleições legislativas daquele ano. Acredita que é o único capaz de vencer Scioli. “Se formos para segundo turno, termina o kirchnerismo”, diz.

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