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Talibãs comemoram em Kandahar o aniversário de um ano da retomada de Cabul, nesta segunda-feira (15)
Talibãs comemoram em Kandahar o aniversário de um ano da retomada de Cabul, nesta segunda-feira (15)| Foto: EFE/EPA/STRINGER

Há exatamente um ano, os talibãs tomavam Cabul, a capital do Afeganistão, marcando a volta do grupo ao poder após cerca de 20 anos de presença americana no país – que acabaria semanas depois, com a retirada completa das tropas dos Estados Unidos.

Um ano depois, o Afeganistão está mergulhado na instabilidade, causada por problemas econômicos, a supressão dos direitos humanos por parte do novo (antigo?) governo e atuação de grupos terroristas. Confira quatro pontos que explicam a situação do país asiático hoje:

Al Qaeda

O abrigo que os talibãs davam ao então líder da Al Qaeda, Osama bin Laden, responsável pelos ataques de 11 de setembro nos Estados Unidos, foi a justificativa para a Guerra do Afeganistão, deflagrada em outubro de 2001.

Ao retornar ao poder no ano passado, os talibãs garantiram que não dariam proteção para grupos terroristas, mas a morte do líder da Al Qaeda, Ayman al Zawahiri (substituto de bin Laden), em um ataque com drone realizado pelos Estados Unidos em Cabul no início deste mês, mostrou que a organização voltou a operar livremente no território afegão.

“Em artigos anteriores, destaquei como a rede Haqqani era a facção talibã mais próxima da Al Qaeda e que os vínculos entre esses grupos eram extremamente fortes”, disse Jeff Smith, pesquisador do Centro de Estudos Asiáticos da Heritage Foundation, ao The Daily Signal.

“Também ressaltei que a rede Haqqani provavelmente nunca abandonaria a Al Qaeda ou outros grupos terroristas internacionais, e que as promessas que o Talibã fez de nunca abrigar nenhum grupo terrorista internacional eram vazias”, acrescentou Smith.

Estado Islâmico

Denotando fraqueza da Al Qaeda e dos próprios talibãs, o Estado Islâmico Khorasan, braço do grupo terrorista no Afeganistão, vem realizando vários atentados no país desde agosto do ano passado.

“Décadas de experiência lutando como um grupo insurgente não se traduziram em uma capacidade de manter a segurança em todo o país. Agora encarregado do papel de contrainsurgentes, o Talibã não tem conseguido proteger efetivamente os afegãos”, destacou uma análise do centro de estudos Soufan Center.

O centro também ressaltou que, além dos atentados dentro do território afegão, o Estado Islâmico Khorasan também efetua ataques transfronteiriços em países vizinhos, como Uzbequistão e Tajiquistão, e mantém relações com o grupo jihadista em ascensão Movimento Islâmico do Uzbequistão, “desestabilizando ainda mais uma região já instável”.

Situação das mulheres

Um relatório divulgado em julho pela Missão da ONU no Afeganistão (Unama, na sigla em inglês) alertou para a “erosão” dos direitos humanos no país desde a volta do Talibã ao poder – o documento destacou execuções extrajudiciais, tortura, prisões arbitrárias e violações das liberdades fundamentais, drama este que vitima especialmente as mulheres.

“Mulheres e meninas viram seus direitos de acesso à educação, a locais de trabalho e à participação na vida pública restringidos. Não permitir que as meninas frequentem a escola secundária significa que uma geração de meninas não completará os 12 anos de educação básica”, alertou a Unama.

Pobreza

Um relatório divulgado no início de agosto pela Human Rights Watch apontou que a economia afegã está comprometida por secas e pelos efeitos de décadas de guerra, mas os choques econômicos provocados pela volta do Talibã ao governo são os principais responsáveis pela deterioração do país e pelo aumento da pobreza.

Segundo a organização de direitos humanos, quatro em cada cinco famílias afegãs sofreram reduções significativas ou perderam suas fontes de renda em um ano. A economia local sofre os efeitos da decisão dos Estados Unidos e de outros países de cortar o Banco Central do Afeganistão do sistema bancário internacional, o que “levou a uma enorme crise de liquidez e escassez nacional de dólares americanos e da moeda afegã, o afegane”.

Os cortes em assistência externa também tiveram imenso impacto: segundo a HRW, até agosto de 2021, 75% da economia do Afeganistão era dependente desses recursos. Cerca de metade da população hoje está nos níveis de “crise” ou de “emergência” na escala de segurança alimentar do Programa Alimentar Mundial (PAM).

Nesta segunda-feira, os talibãs celebram nas ruas de Cabul, Kandahar e outras grandes cidades afegãs. O povo local, entretanto, não tem nada a comemorar.

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