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O líder opositor russo Alexei Navalny é levado de uma estação policial em Khimki, região de Moscou, após audiência que ordenou sua prisão preventiva de 30 dias
O líder opositor russo Alexei Navalny é levado de uma estação policial em Khimki, região de Moscou, após audiência que ordenou sua prisão preventiva de 30 dias| Foto: Alexander NEMENOV / AFP

O líder da oposição russa Alexei Navalny recebeu uma ordem de 30 dias de prisão preventiva em uma audiência na Rússia nesta segunda-feira (18), menos de 24 horas após o seu retorno ao país, cinco meses após ter sido envenenado por um agente nervoso.

Em vídeo publicado em redes sociais após a audiência, Navalny pediu que os russos saiam às ruas em protesto contra o tratamento dado a ele pelas autoridades.

"Não tenham medo. Vão para as ruas. Não por minha causa, saiam às ruas por vocês e pelo seu futuro", pediu.

Navalny retornou a Moscou no domingo em um voo vindo de Berlim, onde foi tratado após o envenenamento em agosto que foi atribuído ao Kremlin. O líder opositor foi detido imediatamente ao desembarcar e passou a noite em uma estação policial na cidade de Khimki, na região da capital russa.

A prisão de Navalny adiciona outra camada de tensão às relações entre Moscou e o Ocidente. O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, observou que Navalny voltou por sua própria vontade e disse que "é completamente incompreensível que ele tenha sido detido pelas autoridades russas imediatamente após sua chegada".

"A Rússia está vinculada por sua própria Constituição e por compromissos internacionais com o princípio do Estado de Direito e a proteção dos direitos civis", acrescentou Maas. "É claro que esses princípios também devem ser aplicados a Alexei Navalny. Ele deve ser liberado imediatamente."

Os aliados do político disseram nesta segunda-feira que ele estava detido em uma delegacia de polícia fora de Moscou e teve o acesso negado a seu advogado. De acordo com a defesa de Navalny, a audiência para decidir se Navalny deveria permanecer sob custódia começou na segunda-feira na própria delegacia, e eles foram notificados minutos antes.

"É impossível o que está acontecendo aqui", disse Navalny em vídeo da sala improvisada do tribunal, postado em sua página no aplicativo de mensagens Telegram. "É ilegalidade no mais alto grau."

Os apelos para a libertação imediata de Navalny também vieram da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, do secretário de relações exteriores britânico Dominic Raab e de altos funcionários de outras nações da UE.

O nomeado do presidente eleito dos EUA, Joe Biden, para conselheiro de segurança nacional, Jake Sullivan, pediu às autoridades russas que libertassem Navalny. "Navalny deve ser imediatamente libertado e os autores do ultrajante ataque à sua vida devem ser responsabilizados", publicou Sullivan no Twitter.

O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, disse que os o país "condena veementemente" a decisão de prender Navalny, que ele chamou de "a última de uma série de tentativas para silenciar Navalny e outras figuras da oposição e vozes independentes que criticam as autoridades russas".

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, disse que as reações à prisão de Navalny por autoridades ocidentais refletem uma tentativa de "desviar a atenção da crise do modelo ocidental de desenvolvimento".

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, divulgou comunicado nesta segunda-feira no qual condena a prisão de Alexei Navalny ontem por autoridades da Rússia, após ele ter retornado a seu país. "As autoridades russas precisam libertá-lo imediatamente e garantir sua segurança", cobra ela. Von der Leyen comenta que a prisão de opositores políticos "é contrária aos compromissos internacionais da Rússia". A UE diz esperar uma investigação independente do atentado contra a vida de Navalny e afirma que continuará a "monitorar a situação atentamente".

Como foi a prisão

Alexei Navalny foi preso assim que desembarcou em um aeroporto de Moscou no domingo (17). Ele retornava à Rússia pela primeira vez desde que foi envenenado em agosto e precisou ser tratado na Alemanha. Autoridades russas já haviam declarado que iriam prendê-lo assim que chegasse de Berlim por, segundo elas, violar as condições da suspensão de uma pena de 2014.

Navalny foi detido no aeroporto de Sheremétievo quando passava pelo controle de passaportes, segundo jornalistas que estavam no local. Sua aeronave deveria pousar no Aeroporto de Vnukovo, também na capital, e onde centenas de apoiadores o aguardavam, mas acabou desviada.

A polícia também fez várias detenções entre a multidão que aguardava o opositor no terminal, sob gritos de "A Rússia será livre!" e "Navalny! Navalny!" A ideia de desviar o voo foi um aparente esforço das autoridades para evitar que ele falasse com apoiadores ou jornalistas.

Um dos críticos russos mais proeminentes do presidente Vladimir Putin, Navalny foi levado de avião para Berlim para tratamento médico de emergência depois de ser envenenado aparentemente pelo agente nervoso Novichok, segundo mostraram testes alemães.

"Este é o melhor momento dos últimos cinco meses", disse ele aos repórteres, após embarcar no avião na capital alemã com destino a Moscou. "Eu me sinto ótimo. Finalmente, estou voltando para minha cidade natal."

Nalvani anunciou sua decisão de deixar a Alemanha na quarta-feira, 13, e um dia depois o serviço penitenciário de Moscou anunciou que faria de tudo para prendê-lo assim que ele retornasse, acusando-o de desrespeitar os termos de uma pena suspensa por peculato, um caso de 2014 que ele diz ter sido inventado.

O piloto, de 44 anos, embarcou no último minuto em Berlim após ser levado de carro até a pista, evitando se encontrar com outros passageiros. Ele havia minimizado o risco de retornar para casa e disse acreditar que não seria preso e era inocente.

"Do que eu preciso ter medo? Que coisa ruim pode acontecer comigo na Rússia?", indagou. "Sinto-me um cidadão russo que tem todo o direito de regressar", acrescentou. Ele estava acompanhado por sua mulher e porta-voz, Yulia. Navalny viajou em um voo operado pela companhia aérea russa Pobeda, de propriedade da estatal Aeroflot.

O líder da oposição afirma esperar ter sucesso nas eleições parlamentares de setembro, mas também enfrenta graves problemas em três outros processos criminais, todos eles relacionados à motivação política.

Problema para o Kremlin

Seu retorno representa um problema para o Kremlin: prendê-lo pode desencadear protestos e ações punitivas por parte dos países europeus e EUA ao transformá-lo em um mártir político. Não fazer nada pode fazer o governo parecer fraco aos olhos da linha dura do Kremlin.

O político de oposição, que diz estar quase totalmente recuperado, diz que Putin está por trás de seu envenenamento. O Kremlin nega envolvimento, afirma não ter visto nenhuma evidência de que ele foi envenenado e que estava livre para retornar à Rússia.

Navalny diz que o Kremlin tem medo dele. O Kremlin, que se refere a ele apenas como o "paciente de Berlim", ri da afirmação . Os aliados de Putin apontam pesquisas de opinião que mostram que o líder russo é muito mais popular do que Navalny, a quem chamam de blogueiro em vez de político.

Antes de domingo, ao menos 2 mil pessoas usaram uma página do Facebook para organizar a ida ao aeroporto para receber o líder o opositor - outras 6.000 manifestando o mesmo interesse. Ativistas pró-Kremlin também se programaram para aparecer no local.

A promotoria de Moscou, que afirma ter alertado oficialmente 15 organizadores pró-Navalny, disse que o evento era ilegal porque não foi sancionado pelas autoridades.

Citando as restrições da Covid-19, o aeroporto disse que não permitiria a entrada da imprensa.

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