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Apesar da imagem negativa que o default (moratória) do Equador traz para a América Latina, analistas que atuam no exterior acreditam que os outros países da região não seguirão a mesma decisão política do presidente Rafael Correa. "O Equador será fortemente punido pelo mercado, então não vejo as outras nações da América Latina tomando a mesma medida", afirmou o analista Daniel Linsker, da consultoria britânica Control Risks. "Eu não acredito que qualquer outra nação da América Latina seguirá o default do Equador", reforçou Alejandro Grisanti, do Barclays Capital. Para Douglas Smith, do Standard and Chartered, o evento acabará sendo um "caso isolado".

Para os especialistas, a decisão do presidente Rafael Correa foi ideológica, já que o país teria condições de honrar o débito se quisesse.

Nesta sexta-feira, o presidente do Equador anunciou que não iria pagar o juro dos bônus Global 2012, desencadeando um default sobre US$ 3,9 bilhões em três bônus da dívida externa. Segundo Correa, as emissões são "ilegítimas e ilegais". O objetivo é apresentar uma proposta de reestruturação da dívida aos investidores.

Conforme o StandChart, no final de outubro o país tinha reservas internacionais de US$ 6,27 bilhões, superiores ao valor dos bônus que não serão pagos. Também há US$ 4,3 bilhões de dívidas com instituições financeiras internacionais e US$ 1,5 bilhão com o Clube de Paris e outros credores bilaterais.

"Está cada vez mais claro que o default foi gerado por uma posição política, ao invés de uma falta de liquidez de curto prazo", acredita Luis Costa, estrategista de dívidas emergentes do Commerzbank.

"O Equador tem dinheiro para pagar, mas Correa tem feito campanha contra a dívida externa por bastante tempo e uma comissão de auditoria, criada pelo presidente, colocou o último golpe sobre a emissão quando decidiu que era 'ilegítima'", disse Stephen Keppel, da Economist Intelligence Unit (EIU).

Uma conseqüência do calote, é que a região será observada com maior cautela a partir de agora, avaliam os especialistas. "Isso vai aumentar a incerteza dos investidores, que irão procurar por tendências e ver como os aliados de Correa respondem", afirmou Keppel.

As atenções recaem principalmente sobre a Venezuela, já que a decisão foi considerada política. "A pergunta agora é: qual será a reação da Venezuela?", avalia Costa, do Commerzbank. Para Grisanti, do Barclays Capital, Hugo Chávez deve dar suporte à atitude do Equador. No entanto, não seguirá o mesmo caminho porque está em uma situação "totalmente diferente".

Segundo ele, dos US$ 25 bilhões de dívida externa, quase US$ 21 bilhões foram emitidos durante os mandatos de Chávez. Além disso, o governo recomprou recentemente US$ 800 milhões em títulos, entre eles o Global 2027, um dos únicos que não foram emitidos pelo presidente.

Outro país mencionado é a Argentina, cujo caso é visto como o mais frágil do ponto de vista financeiro. Douglas, do StanChart, lembra que o país tem pela frente montantes significativos de pagamentos em 2010 e 2011. Portanto, precisará ir ao mercado internacional para fazer a rolagem ou elevar fortemente o superávit fiscal.

Mas, para ele, a maior conseqüência do calote do Equador é o "efeito Financial Times", pelo fato de a América Latina aparecer no noticiário envolvida em um evento que é sempre muito mal visto pelo investidor externo. "Nós que seguimos a região de perto não vamos mudar a nossa visão." Para Linsker, da Control Risks, o investidor mais bem informado sabe diferenciar o Equador, um país pequeno, dos demais na América Latina.

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