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Placas de madeira compensada protegem as janelas de um restaurante, frente à chegada do furacão Florence, em Carolina Beach, Carolina do Norte, em 11 de setembro de 2018 | Charles Mostoller/Bloomberg
Placas de madeira compensada protegem as janelas de um restaurante, frente à chegada do furacão Florence, em Carolina Beach, Carolina do Norte, em 11 de setembro de 2018| Foto: Charles Mostoller/Bloomberg

O furacão Florence, uma grande e perigosa tempestade de categoria 2, está a cerca de um dia de colidir com a costa leste americana, nos estados da Carolina do norte e Carolina do Sul, onde as condições começarão a se deteriorar rapidamente nesta quinta-feira (13). Isso marca o início de um prolongado fenômeno que vai levar chuvas pesadas, muito vento e que causará danos devastadores e inundações a milhões de pessoas no sudeste dos Estados Unidos.

O Florence enfraqueceu modestamente na quarta-feira, reduzindo-o primeiro a um furacão de categoria 3 e depois para uma tempestade de categoria 2, mas ao mesmo tempo ele expandiu-se em tamanho. Seus ventos se estendem a 112 Km a partir do centro do furacão e seu campo de nuvens é quatro vezes o tamanho de Ohio. Na quarta-feira, um satélite detectou uma onda no oceano aberto, gerada pelo Florence, que parecia ter pelo menos 15 metros de altura. 

Em Myrtle Beach, na Carolina do Sul, Sandra Lopez-Garcia não acredita em sua má sorte. Ela sobreviveu ao furacão Maria quando ele atingiu sua cidade natal, Bayamon, em Porto Rico, um ano atrás, tendo enfrentado a tempestade em sua casa de concreto, abrigando-se em um banheiro com seu cão. 

Agora ela está em um abrigo de emergência nos arredores da cidade.

"Eu realmente não sei qual é a minha sorte", disse ela. "Eu não acho que isso acontece com alguém com muita frequência". 

 Ela disse que gostaria de voltar a sua cidade natal em Porto Rico, "porque gostaria de comemorar meu aniversário com meu pessoal. Eles tem estado com fome há tanto tempo", disse, com a voz trêmula. "Nossa ilha não é a mesma". 

Florence está prestes a ser a tempestade mais devastadora a atingir esta parte da costa desde o furacão Hugo em 1989. O escritório do Serviço Nacional de Meteorologia em Wilmington, Carolina do Norte, afirmou que esta é provavelmente a "tempestade de uma vida" em alguns locais das Carolinas, e “isso significa muito, considerando os impactos que temos visto dos furacões Diana, Hugo, Fran, Bonnie, Floyd e Mateus”. 

"Quando o furacão chegar, assim que os ventos fortes chegarem aqui... será muito difícil, se não impossível, para qualquer um resgatá-lo se você estiver em perigo em uma dessas zonas", disse o governador da Carolina do Sul, Henry McMaster (republicano), solicitando que a melhor opção para os moradores das regiões afetadas é ir para cidades seguras.

 "Agora é a hora de ir embora", disse o tenente-coronel Neil Baxley, do Gabinete do Xerife do Condado de Beaufort. Ele comentou que os moradores normalmente evacuariam para o centro da Carolina do Sul, mas que desta vez deveriam fugir para os estados ao sul.

Além dos ventos severos que poderiam atingir a costa por mais de um dia, as chuvas esperadas após o furacão poderiam inundar uma área enorme e desencadear inundações generalizadas. A Duke Energy estimou que cerca de 3 milhões de pessoas poderiam ficar sem energia elétrica nas Carolinas por causa da tempestade. 

"Esta não é uma tempestade comum, e as pessoas podem ficar sem energia por muito tempo", disse David Fountain, presidente da Duke Energy North Carolina. "Não são dias, mas semanas. Não conseguiremos chegar a algumas áreas por vários dias". 

Evacuações

As autoridades tendem a ter cautela ao decidir se devem ou não solicitar evacuações, disse Kieran Shanahan, ex-secretário do Departamento de Segurança Pública da Carolina do Norte, equilibrando os riscos de fazer com que milhões de pessoas deixem suas casas no caminho de uma tempestade. 

"É melhor voltar e limpar escombros depois da tempestade do que ter que lidar com ferimentos e mortes humanas", disse Shanahan. 

Uma mulher com uma criança em um abrigo na escola Southeast Raleigh, antes do furacão Florence, em 12 de setembro de 2018Callaghan O'Hare/Bloomberg

Centenas de milhares de pessoas atenderam ao chamado para deixar suas casas. Na manhã de quarta-feira, Myrtle Beach era uma cidade fantasma, só havia carros da polícia. Parques de diversões foram fechados. A maioria das empresas estava fechada. Bombas de gás foram embrulhadas em plástico. 

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Na praia, Gabrielle Clarke deu uma última olhada nas águas enganosamente calmas. Ela e seu namorado logo voltariam para Columbia, na Carolina do Sul, cerca de 21 horas a oeste. Eles vieram para Myrtle Beach em férias há uma semana sem saber que uma tempestade poderia chegar. Seu namorado, Lorenzo Brown, acha que as autoridades locais reagiram rápido demais. 

"Eles se prepararam um pouco cedo demais", disse ele, observando que todas as mercearias haviam fechado. "As pessoas ainda precisam comprar comida. Não podemos comer, então temos que ir". 

Os que resolveram ficar

Tonya Eclebery também estava dando uma última olhada na praia enquanto andava com sua cachorrinha. Contou que ela e seu marido planejam enfrentar a tempestade, escondidos no hotel Holiday Sands North, perto da praia, onde o marido trabalha como funcionário de manutenção e onde eles têm comida não perecível. Eles vivem em um trailer nas proximidades, mas decidiram que o hotel de concreto com vista para a praia é mais seguro.  

Um homem protege as janelas de uma propriedade antes do furacão Florence, em Greenville, Carolina do Norte, em 12 de setembro de 2018Callaghan O'Hare/Bloomberg

"Não queremos ficar fora da área por duas semanas", disse Eclebery, supervisora de limpeza. "Temos que ir trabalhar". 

No Lion Food em Kitty Hawk, na Carolina do Norte, persianas de metal pesado cobriam as janelas, e alguns fregueses empurravam carrinhos sobrecarregados pelos corredores quase vazios. "Minha família queria que todos saíssemos", disse Robin Anderson, que mora perto de Kill Devil Hills com o marido, dois cachorros e dois gatos. "Mas não há para onde ir. Mesmo se você puder encontrar um hotel, você pode pagar?" 

Perto dali, um casal mais velho consultava uma lista de compras, ponderando sobre uma questão-chave: uma garrafa de margarita ou duas? Duas, eles decidiram. Porque ninguém sabe o quão ruim Florença será.

Centros para idosos

Na comunidade sênior de Eagle Crest, em Myrtle Beach, nesta quarta-feira, as janelas já tinham sido fechadas há um longo tempo e um sinal já estava pendurado na porta da frente, anunciando que ninguém estava lá. 

Os preparativos para evacuar os moradores da instalação começaram na semana passada, dias antes de o governador da Carolina do Sul, Henry McMaster, R, emitir ordens de evacuação obrigatórias. 

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Muitos moradores foram apanhados por parentes, enquanto outros foram transferidos para uma instalação irmã em Columbia, Carolina do Sul, segundo informou Lee Young, vice-presidente de operações da empresa controladora, a Pension Retirement. 

"Assim que recebemos qualquer tipo de aviso", disse, "começamos a contatar as famílias". 

Enfermeira ajuda um paciente idoso ao longo do corredor do lar de idosos Trinity Grove em Wilmington, N.C., nesta quarta-feira (12)Ricky Carioti/The Washington Post

Muitas casas de repouso e de idosos nas Carolinas fecharam e evacuaram seus moradores antes do furacão Florence, preocupadas que mortes de idosos pudessem ocorrer, assim como no ano passado depois que o furacão Irma atingiu a Flórida.

"Vamos encarar a verdade - esta pode ser uma população frágil. Eles são nossa responsabilidade", disse Young. "Quando eles se mudam para cá e buscam uma vida melhor, queremos ter certeza de que, quando as coisas estão piores, elas serão atendidas". 

Enquanto autoridades em Myrtle Beach, na Carolina do Sul, e em Wilmington, na Carolina do Norte, fecharam suas instalações na quarta-feira após uma semana de preparação, outras disseram estar confiantes de que seu planejamento era adequado para manter suas instalações em operação, afirmando que tomaram todas as precauções para proteger os moradores, funcionários e, muitas vezes, suas famílias. 

John Frye, diretor executivo da casa de repouso Trinity Grove, em Wilmington, verifica sala do gerador antes do furacão FlorenceRicky Carioti/The Washington Post

"Estamos levando isso completamente a sério", disse Ted Goins, presidente da Lutheran Services Carolinas, cujas sete instalações permanecerão abertas durante o furacão. Cem residentes e 183 funcionários – juntamente com membros de suas famílias – planejavam se instalar no lar de idosos Trinity Grove, em Wilmington. O prédio, construído em terreno alto e com um enorme gerador diesel de 750 quilowatts que pode fornecer energia por pelo menos três dias, está lotado com alimentos, água, medicamentos e suprimentos médicos, segundo Goins.  

Os governos estaduais da Carolina do Norte e do Sul disseram que cabe às casas de repouso operadas individualmente, fora das zonas de evacuação obrigatória, decidir se devem mover seus pacientes medicamente frágeis.

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