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Prisão em Thornhill Park, Victoria, Austrália, como parte de uma operação global contra o crime organizado transnacional
Prisão em Thornhill Park, Victoria, Austrália, como parte de uma operação global contra o crime organizado transnacional| Foto: EFE/EPA/Divulgação da VICTORIA POLICE

Mais de 800 presos, 700 casas revistadas, toneladas de drogas apreendidas, além de US$ 48 milhões em espécie e em criptomoedas. Esse foi o resultado da operação batizada de Trojan Shield, deflagrada nesta terça-feira (8) e classificada pelas autoridades envolvidas como “uma das maiores e mais sofisticadas operações policiais na luta contra atividades criminosas criptografadas” e um “golpe sem precedentes” para o crime organizado em países de todo o mundo.

A operação, liderada pelo FBI e pela Europol, envolveu 16 países e durou cerca de 18 meses. Durante esse período, os policiais tiveram acesso a cerca de 27 milhões de mensagens de aplicativo criptografadas, trocadas entre centenas de criminosos que planejavam lavagem de dinheiro, logística do tráfico de drogas e assassinatos.

Isso foi possível por meio do Anom, um aplicativo de mensagens criptografadas difundido entre criminosos como uma rede segura para comunicação. O que os bandidos não sabiam, porém, é que o aplicativo estava sendo monitorado pelo FBI e outras autoridades policiais.

Como a operação começou

Para entender a operação Trojan Shield é preciso voltar a 2017. Nessa época, o FBI de São Diego começou a investigar uma companhia chamada Phantom Secure, que fornecia exclusivamente a criminosos aparelhos encriptados que impediam que policiais os vigiassem – diferente de telefones celulares, esses dispositivos não fazem ligações e não possuem acesso à internet, permitindo apenas a comunicação por mensagem de texto.

A investigação resultou no fim da empresa no ano seguinte, mas também lançou as sementes para o Anom.

De posse das informações coletadas na operação que derrubou a Phantom Secure, o FBI recrutou uma fonte – “Fonte Humana Confidencial (CHS, na sigla em inglês)” – que estaria desenvolvendo a “próxima geração” de produtos de comunicação criptografados e que já era conhecido entre as organizações criminosas por distribuir os aparelhos da Phantom Secure e outras companhias.

Essa pessoa – cujo nome não se sabe, mas que esteve colaborando com o FBI desde 2018 em troca de redução de pena – ofereceu este aplicativo de última geração, batizado de “Anom”, ao FBI para que as autoridades americanas o usassem como ferramenta na investigação de crimes transnacionais. Com isso, autoridades policiais passaram a ter acesso a todas as mensagens enviadas pelo aplicativo.

“Como os dispositivos criptografados reforçados oferecem uma proteção impenetrável contra a vigilância e detecção da polícia, é um serviço em alta demanda por TCOs [organizações criminosas transnacionais]”, disse o agente especial do FBI Nicholas Cheviron, em um pedido de mandado de busca apresentado à justiça americana em maio deste ano e divulgado ao público nesta terça-feira. “Na época, o vazio criado pelo desmantelamento da Phantom Secure fornecia uma nova oportunidade para usuários criminosos mudarem para uma nova marca de dispositivos de segurança”.

Anom entre os criminosos

A mesma fonte do FBI concordou também em distribuir o Anom para algumas de suas redes de contatos, que tinham links diretos para as organizações criminosas transnacionais. Contudo, o aplicativo só ficou mais popular depois que outros dois concorrentes – EncroChat e Sky ECC – foram descobertos e encerrados pelas autoridades em operações que ocorreram em 2020. Mais de 12 mil dispositivos Anom, então, acabaram indo parar nas mãos de membros de mais de 300 gangues que operam em mais de 100 países.

O fugitivo australiano Hakan Ayik, acusado de tráfico de drogas, foi um dos criminosos que, sem saber do envolvimento do FBI com o Anom, recomendou o aplicativo para seus sócios do crime, depois de receber um aparelho de policiais disfarçados, segundo a polícia australiana. Apenas na Austrália, 224 pessoas foram presas, incluindo membros de gangues, grupos mafiosos e sindicatos do crime asiático.

“Eles só falam sobre drogas, violência, espancamentos, pessoas inocentes que vão ser assassinadas, uma série de coisas”, disse o comissário da Polícia Federal Australiana Reece Kershaw, nesta terça-feira. Calvin Shivers, diretor-assistente da Divisão de Investigação Criminal do FBI disse que entre as mensagens revisadas também havia “fotos de centenas de toneladas de cocaína escondidas em carregamentos de frutas”.

“As plataformas criptografadas de comunicações criminais têm sido tradicionalmente uma ferramenta para escapar da polícia e facilitar o crime organizado transnacional. O FBI e nossos parceiros internacionais continuam a expandir os limites e a desenvolver maneiras inovadoras de superar esses desafios e levar os criminosos à justiça", disse Shivers.

De acordo com o FBI e a Europol, a operação Trojan Shield resultou na prisão de 800 suspeitos, 700 buscas e apreensões, apreensão de oito toneladas de cocaína, duas toneladas de metanfetamina, 22 toneladas de maconha, 250 armas de fogo, 55 carros de luxo e US$ 48 milhões em criptomoedas e moedas de diferentes países. A operação também evitou assassinatos, segundo autoridades policiais envolvidas.

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