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A crescente articulação militar e diplomática entre os governos da Venezuela e da Rússia, a ponto de os dois países terem agendado para novembro próximo um grande exercício aeronaval conjunto, no mar caribenho, irritou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O assunto foi discutido no Planalto com assessores, ficando decidido que a insatisfação brasileira será comunicada ao presidente venezuelano, Hugo Chávez, quinta-feira (25), em Nova York, na cúpula dos países da Unasul (União Sul-americana de Nações).

Na avaliação do governo brasileiro, a Venezuela está "importando desnecessariamente para a América do Sul" uma disputa diplomática entre Estados Unidos e Rússia a reboque do xadrez geopolítico que botou forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) na Geórgia, à porta da fronteira russa. A Rússia anunciou duas semanas atrás que vai enviar uma esquadra ao Caribe para participar das manobras com a Marinha da Venezuela. Virão, inclusive, os aviões bombardeiros supersônicos TU-160, que têm capacidade de carregar armas convencionais e nucleares.

"Não achamos isso positivo e o presidente Lula só não falou ainda com o presidente Chávez porque não teve oportunidade Mas vai falar", disse à 'Agência Estado' um ministro - apesar de ter expulsado do embaixador do EUA, o presidente venezuelano confirmou presença em Nova York para cumprir uma agenda que começa com a abertura da 63ª Assembléia Geral das Nações Unidas (ONU), terça-feira (23) próxima.

Na avaliação de diplomatas e assessores do Planalto, a aliança Venezuela-Rússia, bem no rastro dos conflitos na Geórgia, deixou claro que se tratou de um jogo de resposta aos EUA, com Chávez fazendo o papel de "intermediário" da provocação "Já temos os nossos problemas e as nossas questões, não precisamos de mais nenhum ingrediente para acrescentar tensão à região", observou o mesmo ministro.

Incomodou ao Brasil, também o fato de Chávez se declarar "aliado estratégico" da Rússia. Outra preocupação: os russos também vão botar um pé na Bolívia, o que já é do conhecimento do Itamaraty. Como o governo Evo Morales expulsou o embaixador dos EUA do País e cortou as relações com Washington, La Paz vai perder, em dezembro próximo, a preferência tarifária para exportações direcionadas ao mercado norte-americano, assim como terá cortada a ajuda para o combate ao narcotráfico. A opção de Evo foi autorizar a ajuda do governo russo no combate ao narcotráfico, tarefa para a qual os russos têm pouca experiência

A aproximação de Chávez ressuscita uma influência russa sobre espaços latino-americanos que existia a partir da revolução cubana (1959), mas que foi se esvaindo com o fim da antiga União Soviética (URSS). A Venezuela viu na parceria, entre outras serventias, uma forma de responder à iniciativa dos EUA de reativar a IV Frota americana, sediada no Mar do Caribe e que faz a vigilância sobre o Atlântico Sul. Para o exercício militar conjunto, em novembro, a Rússia promete enviar cerca de mil militares e quatro navios, entre eles o cruzador russo nuclear Pedro, O Grande, um dos maiores do mundo e que tem capacidade para lançar até 500 mísseis.

Diante da reclamação de Lula, Chávez tende a lembrar que 9 mil militares brasileiros, argentinos e dos EUA fizeram, em abril passado, na costa do Rio de Janeiro a Operação Unitas. A operação, que é realizada há 49 anos, trouxe para o Brasil o maior porta-aviões da frota dos EUA, o George Washington - 333 metros de comprimento, 257 metros de largura e 74 metros de altura.

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