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No primeiro dia de reunião entre a Argentina e o Brasil para estabelecer mecanismos de administração do comércio bilateral, os argentinos fizeram uma proposta para que o Brasil reduza em 54% suas exportações de baterias de automóveis e em 30% as de embreagens e freios, informou à Agência Estado o diretor executivo do Sindipeças e Abipeças, Antonio Carlos Meduna. "É uma proposta tão irreal que nos causou surpresa e nos chocou", comentou Meduna.

No ano passado, o setor de autopeças brasileiro exportou 1,3 milhão de baterias da cota de 1,5 milhão, estabelecida por um "acordo de cavalheiros" entre os setores privados de ambos os países. Para o primeiro trimestre de 2009, o Sindipeças acertou com a Afac (associação de fabricantes de componentes e autopeças da Argentina) que exportaria 250 mil baterias. Agora, os argentinos querem que para todo o ano de 2009 entrem em seu mercado somente 600 mil baterias brasileiras. "Eles alegam que essa medida é para preservar os empregos argentinos porque tem tido muita demissão nesse setor, mas esse número é sensivelmente inferior e vai afetar muito a nossa indústria, que também tem desemprego", analisou Meduna.

No caso das embreagens e freios, os argentinos querem um mercado administrado por 24 meses. "Isso significaria uma renúncia brasileira de vendas de aproximadamente US$ 20 milhões destes componentes", disse Meduna. O Brasil detém uma fatia de mais de 40% do mercado de embreagens e freios no mercado vizinho. "É uma conta complicada porque envolve o mercado de reposição e o fornecimento para as montadoras, e são peças que a Argentina não produz em volumes suficientes para abastecer o mercado. Então, vai acabar tendo desvio do comércio porque não sabemos como eles vão controlar a entrada de peças de terceiros países", declarou.

Segundo uma fonte que participou da reunião do Sindipeças, Afac e governos, o que mais chocou os brasileiros foi a ameaça argentina de que se o setor não aceitar o limite de suas vendas, o sócio adotará licenças não automáticas para as baterias. Os negociadores dos dois governos se negaram a dar informações sobre o conteúdo das propostas feitas pelos empresários.

Para o secretário executivo do Ministério de Indústria, Desenvolvimento e Comércio Exterior (MIDC), Ivan Ramalho "falar de números agora não é significativo porque pode ser só uma estratégia de negociação". Ele ressaltou que "é comum falar um número maior ou menor para começar a discutir em uma primeira reunião". "Creio que serão necessárias três, quatro ou mais reuniões para se chegar aos acordos", acrescentou.

Ramalho e seu par argentino, o secretário de Indústria, Fernando Fraguío, desmentiram qualquer intenção de rever o acordo automotivo do Mercosul. "Argentina e Brasil não estão direta nem indiretamente planejando nenhuma mudança nas regras do jogo do setor automotivo", disse Fraguio. Ramalho, por sua vez, foi mais contundente: "não queremos modificar o acordo, pelo contrário, queremos fortalecê-lo", afirmou.

A próxima reunião dos setores privados e governo vai ocorrer nos dias 7 e 8 de abril, em São Paulo. Até lá, os empresários vão intercambiar números de seus respectivos setores. Além do setor de autopeças (baterias, embreagens e freios), hoje se reuniram representantes das indústrias de vinhos, denin (tecido para jeans) e móveis de madeira. Segundo Ramalho, na próxima reunião será a vez da primeira negociação dos setores sensíveis da Argentina de máquinas agrícolas e ferramentas, eletrodomésticos, brinquedos, tratores, equipamentos elétricos, celulares e motocicletas. De interesse do Brasil, vão se reunir os setores de farinha de trigo, arroz, leite em pó, pêssego, alho e aerossol.

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