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Corpos da prefeita de Motyzhyn, Olga Sukhenko, do marido e do filho de 25 anos foram encontrados após a saída das tropas russas e apresentavam sinais de tortura
Corpos da prefeita de Motyzhyn, Olga Sukhenko, do marido e do filho de 25 anos foram encontrados após a saída das tropas russas e apresentavam sinais de tortura| Foto: Arquivo pessoal/Twitter

No fim de semana, após o governo da Ucrânia ter anunciado a retomada dos arredores da capital, Kiev, a imagem mais chocante a percorrer o mundo foi a de uma rua cheia de corpos na cidade de Bucha.

Notícias sobre centenas de execuções supostamente cometidas pela Rússia (que nega as acusações) e sobre a descoberta de covas rasas causaram indignação, e agora os relatos sobre os mais de 400 mortos nos subúrbios da capital, conforme informado pela Procuradoria Geral da Ucrânia, deixam a fria realidade dos números e ganham rostos e nomes – vidas interrompidas pela crueldade do que o presidente americano, Joe Biden, já qualificou como crimes de guerra.

Uma das histórias mais trágicas foi registrada em Motyzhyn, 50 quilômetros a oeste de Kiev. A prefeita Olga Sukhenko, de 50 anos, seu marido, Igor, de 55, e seu filho, Alexander, de 25, estavam desaparecidos desde 23 de março. Os corpos da mulher e do filho foram encontrados numa cova rasa em uma floresta da região. Já o corpo de Igor foi localizado em uma tubulação de esgoto.

Os três foram mortos a tiros e os cadáveres apresentavam sinais de tortura, como dedos e braços quebrados.

Tetiana Semenova, chefe do conselho regional de Kiev, disse à imprensa ucraniana que os três teriam sido capturados por tropas russas após um colaborador dos invasores ter informado sua localização.

“Eles queriam apenas levar a Olga, mas o marido insistiu que iria com ela - depois de seis horas, eles também levaram o filho”, informou Semenova. Moradores de Motyzhyn apontaram que a família foi morta porque teria se se recusado a colaborar com os russos.

O assessor do Ministério do Interior ucraniano, Anton Gerashchenko, informou, em uma mensagem postada no Telegram, uma motivação a mais para as execuções. “Os invasores suspeitavam que eles estavam colaborando com nossos militares, informando sobre locais de onde nossa artilharia deveria disparar. Essa escória torturou, massacrou e matou toda a família. Eles serão responsabilizados por isso”, alegou.

Outra história dolorosa foi relatada pelo New York Times: uma ucraniana de 56 anos, Tetiana Pomazanko, teria sido morta por tropas russas logo que as forças de Moscou invadiram a Ucrânia, há mais de um mês, mas seu corpo ficou semanas na casa da família pela impossibilidade de ser removido.

A mãe da vítima, Antonina Pomazanko, disse ao jornal americano que, quando tropas russas entraram no subúrbio de Bucha, Tetiana foi até o portão da casa para ver. “Ela pensou que eram nossos [ucranianos]”, relatou Antonina.

Ela afirmou que as tropas dispararam contra Tetiana, que morreu na hora. No domingo (3), quando a reportagem do New York Times esteve no local, o corpo ainda estava no jardim da casa: a mãe de 76 anos o cobriu durante semanas com lonas e tábuas de madeira.

Revelação congela negociações para cessar-fogo

Nesta segunda-feira (4), Biden e o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, pediram investigações sobre as mortes nas cidades vizinhas a Kiev, a França e a Alemanha divulgaram que expulsarão vários diplomatas russos e o Ocidente manifestou a intenção de ampliar sanções à Rússia devido ao suposto massacre.

Na terça-feira (5), essas centenas de mortes serão tema de uma reunião do Conselho de Segurança da ONU, na qual o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, vai se pronunciar.

A indignação gerada pelo episódio congela as negociações pela paz na Ucrânia, justo num momento em que se percebia algum progresso, com Kiev admitindo um status militar neutro e conversas sobre a Crimeia e a região de Donbass, e a Rússia anunciando que admitiria a entrada do país vizinho na União Europeia.

Zelensky, que falou em “genocídio”, esteve em Bucha nesta segunda-feira e pontuou que “fica muito difícil negociar, quando você vê o que eles [russos] fizeram aqui”. Num pronunciamento em vídeo horas depois, ele afirmou que o número de mortes em “Borodyanka [a 75 km de Kiev] e outras cidades libertadas” pode ser ainda maior – o que já havia sido estimado pela Procuradoria Geral da Ucrânia.

O porta-voz do governo russo, Dmitry Peskov, se recusou a falar sobre o suposto massacre na periferia de Kiev e afirmou que não há previsão de novas rodadas de negociações. “Não estamos comentando sobre isso [Bucha e cidades vizinhas] por enquanto. Não tenho informações sobre um cronograma para continuar as negociações no momento”, apontou.

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, descreveu as alegações como “fake news” e “montagem”.

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