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Imagem de vídeo feito por um estúdio mostra homem armado nas ruas de Halle, Alemanha, 9 de outubro
Imagem de vídeo feito por um estúdio mostra homem armado nas ruas de Halle, Alemanha, 9 de outubro| Foto: reas Splett / ATV-Studio Halle / AFP

Um atirador matou duas pessoas perto de uma sinagoga na cidade de Halle, no leste da Alemanha, nesta quarta-feira (9), e teria filmado o ataque com uma câmera instalada em seu capacete - um método que traz ecos assustadores do ataque a duas mesquitas na Nova Zelândia no início deste ano.

O ministro do Interior da Alemanha, Horst Seehofer, descreveu o crime como um ataque antissemita. "Com base em informações atuais, temos que supor que esse foi no mínimo um ataque antissemita", ele disse.

No início do vídeo de 35 minutos, um homem de jaqueta verde que corresponde aos relatos de testemunhas se apresenta como "Anon". Ele nega o a existência do Holocausto e lista o que vê como problemas do mundo, incluindo o feminismo que leva a baixas taxas de natalidade e a imigração.

"A raiz de todos esses problemas é o judeu", diz ele no vídeo, que foi transmitido no site de jogos Twitch e compartilhado com o Washington Post pelo Centro Internacional para o Estudo da Radicalização (ICSR).

O homem xinga repetidamente e pede desculpas aos espectadores do seu vídeo quando seu plano parece dar errado, por vezes culpando as armas de fabricação caseira.

Quando uma porta trancada o impede de entrar na sinagoga repleta de fiéis no Yom Kipur (dia sagrado do judaísmo), ele mata uma mulher na rua e um homem em uma lanchonete próxima.

Manifesto online

As autoridades alemãs disseram que tinham um suspeito sob custódia e estavam investigando um vídeo.

Um oficial de segurança alemão, que falou sob condição de anonimato para discutir a investigação em andamento, confirmou que o atirador havia gravado o ataque com uma câmera sobre sua cabeça.

O oficial disse que o suspeito era um homem de 27 anos de Benndorf, na Alemanha, que não era conhecido pela polícia ou pela inteligência e afirmou que estava agindo sozinho.

"Este é definitivamente o mesmo modus operandi que vimos em Christchurch", disse o oficial. Um supremacista branco de 28 anos, acusado de matar 51 pessoas em Christchurch, Nova Zelândia, em março, também gravou e transmitiu o ataque com uma câmera instalada sobre sua cabeça. Mas o atirador alemão não tinha o poder de fogo do neozelandês, o que limitou as fatalidades.

O suspeito do ataque de Halle também parece ter divulgado um manifesto online, ecoando outra característica de recentes ataques extremistas, de acordo com uma cópia compartilhada pelo ICSR. O documento de 11 páginas - que os pesquisadores descreveram como autêntico -, indica que o autor planejou sua trama com antecedência, mas sem revelar a localização da sinagoga. No documento, o autor disse que um de seus objetivos era "matar o maior número possível de anti-brancos, de preferência judeus".

Segundo o documento, ele inicialmente contemplou atacar uma mesquita ou um local associado ao Antifa, um movimento militante de esquerda, mas acabou definindo uma sinagoga como seu alvo.

Os pesquisadores consideram o manifesto autêntico porque ele inclui detalhes específicos e fotos de armas improvisadas que parecem ter sido usadas no ataque.

Antissemitismo cresce

Ataques mortais em sinagogas em Pittsburgh e em Poway, Califórnia, abalaram a comunidade judaica nos Estados Unidos, enquanto o número de crimes de ódio antissemita aumentou significativamente na Alemanha e em outros países europeus.

No início deste ano, um funcionário do governo alemão encarregado de ações para combater o antissemitismo gerou polêmica quando disse que talvez não fosse seguro para os judeus na Alemanha usar quipá, peça do vestuário judeu, em público.

O ataque desta quarta-feira foi rapidamente condenado. "Temos que lutar contra o antissemitismo em nosso país", tuitou o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas. "Meus pensamentos estão com os mortos e feridos, seus parentes e a polícia nessas horas difíceis".

A chanceler alemã Angela Merkel participou de uma vigília em uma sinagoga de Berlim na noite de quarta-feira, informou seu gabinete.

Em comunicado, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu chamou o ataque de "outra manifestação do antissemitismo na Europa".

O site de jogos Twitch disse em comunicado que estava "chocado e triste com a tragédia" na Alemanha, acrescentando que tem uma "política de tolerância zero contra conduta de ódio".

"Trabalhamos com urgência para remover esse conteúdo e suspenderemos permanentemente todas as contas que postarem ou repassarem conteúdo desse ato repugnante", afirmou a empresa.

A empresa informou que uma gravação da transmissão foi visualizada por cerca de 2.200 pessoas nos 30 minutos antes de o vídeo ser denunciado e removido da plataforma.

O SITE Intelligence Group, que monitora o extremismo online, informou que comunidades online de supremacistas brancos aplaudiram o atirador.

Como foi o ataque

Havia cerca de 75 fiéis na sinagoga no momento do ataque, disse Max Privorozki, presidente da comunidade judaica local, à revista Der Spiegel. Ele relatou que assistiu o atirador tentando entrar na sinagoga através de suas câmeras de segurança.

As sinagogas na Alemanha costumam ser vigiadas por policiais armados.

No vídeo, o homem chega ao prédio e encontra as portas trancadas. Ele retorna ao seu veículo para buscar o que parece ser um explosivo improvisado, mas mesmo com isso ele não consegue entrar.

Desistindo da sinagoga, ele atira em uma mulher na rua, mas sua arma falha, como ocorre em outro momento do ataque, quando ele tenta atirar em outra pessoa.

"Desculpe, pessoal", ele diz aos espectadores do seu vídeo enquanto dirige." Eu tentei matar alguns", acrescenta, interrompendo a frase.

Ele para quando chega a um restaurante de kebab, uma comida típica turca.

"Todos os clientes próximos a mim correram", disse uma testemunha entrevistada pela emissora alemã n-TV. A testemunha disse que havia cinco ou seis pessoas no local naquele momento. "Eu me tranquei no banheiro e fiz silêncio. Escrevi para minha família que os amo", disse ele.

No vídeo feito de dentro da loja, o atirador mais uma vez falha repetidas vezes ao disparar, mas atinge um homem.

Quando a polícia chega, já haviam passado cerca de 15 minutos desde que o homem no vídeo se aproximara da sinagoga. A polícia atira nele, mas ele escapa e continua dirigindo.

"Sou um completo perdedor", diz, e o vídeo termina com ele aparentemente deitado na rua por vários minutos enquanto veículos passam.

O promotor federal da Alemanha assumiu a investigação. A porta-voz Carolin Urban disse que isso significa que "é possível supor que este caso é relevante para a segurança da Alemanha".

Antes do vídeo surgir, Urban disse a repórteres: "Ainda é preciso determinar se este caso teve um motivo antissemita. Não excluímos nenhuma possibilidade".

A área foi bloqueada após o ataque. A polícia relatou inicialmente que vários agressores haviam fugido do local. O oficial de segurança disse na quarta-feira à noite que a polícia no local acreditava naquele momento que o mais provável é que houvesse apenas um autor.

As autoridades instaram as pessoas da área a ficar em suas casas ou locais de trabalho; todo o transporte público foi interrompido. Drago Bock, porta-voz da cidade, disse que Halle estava em estado de "alerta máximo" desde o início. "Todos os serviços de emergência foram mobilizados", disse ele.

No estado vizinho da Saxônia, as autoridades enviaram unidades policiais adicionais para proteger as sinagogas, confirmou um porta-voz.

O embaixador dos EUA na Alemanha, Richard Grenell, disse que dez americanos estavam dentro da sinagoga no momento do ataque. "Todos estão seguros e ilesos", tuitou.

Na Alemanha, houve cerca de 1.500 ataques antissemitas verbais e violentos por ano nos últimos anos, mas os pesquisadores dizem que os números reais são mais altos. Uma pesquisa recente descobriu que cerca de 70% dos incidentes antissemitas não são relatados, de acordo com pesquisadores da Universidade Técnica de Berlim.

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