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Violência

Batalha sangrenta

Confronto entre aliados do governo e opositores de Mubarak deixa ao menos três mortos e centenas de feridos

Embate entre opositores e simpatizantes de Mubarak: capital egípcia se transformou em campo de guerra | Yannis Behrakis / Reuters
Embate entre opositores e simpatizantes de Mubarak: capital egípcia se transformou em campo de guerra (Foto: Yannis Behrakis / Reuters)
Veja que crise no Egito tem origem em problemas sociais e políticos |

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Veja que crise no Egito tem origem em problemas sociais e políticos

Cairo - O ditador do Egito, Hosni Mu­­ba­­rak, 82 anos, lançou uma violenta ofensiva contra o movimento que exige sua saída do cargo, coordenando um ataque de seus simpatizantes contra milhares de manifestantes oposicionistas acampados no centro da capital, Cairo.

A Praça Tahrir, epicentro da revolta antigoverno iniciada há nove dias em todo o país, transformou-se em cenário de uma guerra civil que matou ao menos 3 pessoas e feriu 639.

A ação do governo para pôr fim ao levante começou a ser delineada em discurso feito on­­tem pelo ditador, no qual Mu­­barak, no poder desde 1981, anunciou que não concorreria a um oitavo mandato seguido nas eleições presidenciais de setembro – pleitos no Egito são amplamente vistos como manipulados pelo governo.

O movimento anti-Mubarak rejeitou o anúncio e prometeu se­­guir protestando por sua saída imediata. O Exército, visto com simpatia pela oposição, reagiu pedindo aos manifestantes que abandonassem a praça, num possível sinal antecipado dos transtornos em porvir.

Em meio a um bombardeio de propaganda pró-Mubarak na tevê oficial, dezenas de pessoas se aglomeraram na manhã de ontem em frente ao complexo de prédios que abriga parte da imprensa na­­cio­­nal e estrangeira. Pessoas carregando retratos do ditador gritavam "não vá embora’’ e "com mi­­nha alma e meu sangue, me sacrificarei por ti, ó Mubarak’’.

Horas depois, o número de sim­­patizantes do regime chegava a milhares. Surgiram então os primeiros gritos de "vamos todos to­­mar Tahrir’’. Uma gigantesca co­­luna começou a marchar ru­­mo à praça, a menos de um quilômetro.

Após as primeiras trocas de socos e pontapés, manifestantes começaram a quebrar a calçada com o intuito de formar pedras pa­­ra ser jogadas contra os inimigos. A reportagem viu também pessoas desmontando cartazes pa­­ra usar a estrutura de metal e madeira como paus. Um caminhão militar teve o parabrisa quebrado por pessoas que queriam usar estilhaços como armas.

As multidões pró e antigoverno avançavam alternadamente, umas contra as outras, numa incontrolável movimentação de massas.

Numa cena surreal, as fileiras pró-Mubarak se abriram para deixar passar homens com paus e lanças e montados em cima de ca­­valos e dromedários, que avan­­çaram a toda velocidade para ci­­ma dos anti-Mubarak. Soldados a bordo de tanques estacionados há dias na praça não se mexiam. Não ha­­via nenhum policial visível nas ruas.

A violência aumentou ao anoitecer. Uma barricada feita com pedaços de lataria de carros separava até agora os dois campos a cerca de 100 metros do centro da praça. Choviam pedras e coquetéis molotov dos dois lados.

Al­­guns militantes corriam entre a multidão levando caixas de legumes cheias de tijolos e pe­­daços de calçadas até a linha de frente, que arremessava os projéteis ininterruptamente. Árvores em volta da avenida estavam em chamas. Dis­­paros de armas eram ouvidos com fre­­quência.

A todo instante, a multidão se abria para deixar passar grupos de homens carregando os feridos da linha de frente, quase todos jo­­vens atingidos na cabeça por pe­­dras. Alguns gemiam de dor. Os feridos eram levados até ambulâncias estacionadas na retaguarda. Alguns iam a hospitais, outros voltavam ao campo de batalha após receber curativos. No chão, marcas de vômito.

Os manifestantes pró-governo eram quase todos homens aparentando idade entre 20 e 40 anos, o que reforça suspeitas de que muitos eram funcionários do Estado, especialmente do tentacular aparato de segurança. Há relatos de que agentes à paisana ofereciam dinheiro a quem se dispusesse a integrar os protestos.

Analistas também afirmam que os manifestantes pró-governo eram os mesmos que haviam cometido os saques do último fim de semana, incluindo prisioneiros que foram libertados em meio ao caos.

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