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Manifestantes pró e contra o governo da Bolívia se enfrentam no segundo dia de greve geral que exige a revogação de uma lei, em Santa Cruz, Bolívia, 9 de novembro
Manifestantes pró e contra o governo da Bolívia se enfrentam no segundo dia de greve geral que exige a revogação de uma lei, em Santa Cruz, Bolívia, 9 de novembro| Foto: EFE/Juan Carlos Torrejon

O governo do presidente da Bolívia, Luis Arce, ordenou nesta quarta-feira (10) o envio de policiais adicionais às ruas do país, para reprimir protestos contra um pacote de leis do seu governo que ocorrem em diversas cidades.

Na terça-feira, no segundo dia de greve geral na Bolívia, as manifestações foram marcadas por cenas de violência e repressão por forças do governo em diversas cidades do país. Uma pessoa morreu, dezenas ficaram feridas e 15 foram detidas nas manifestações.

Os manifestantes exigem que o governo revogue um pacote de leis que consideram inconstitucional e que atenta ao trabalho informal e aos bens privados dos cidadãos bolivianos, entre outras demandas.

A Lei de Estratégia Nacional de Luta contra a Legitimação de Ganhos Ilícitos e o Financiamento ao Terrorismo, também chamada de "ley madre", foi aprovada em agosto. Setores como os de transporte, saúde e economia informal rechaçam a lei, cujo conteúdo prevê ajustes no Código Penal e medidas contra a informalidade.

Hoje é o terceiro dia da greve geral convocada por diversas organizações e sindicatos, e os protestos continuam nas ruas. Em resposta, o governo boliviano enviou mais de 200 policiais adicionais a Santa Cruz, informa a imprensa local.

Na terça-feira, várias cidades bolivianas foram palco de protestos de grupos ligados ao Comitê Cívico, que aderiram à greve geral em todo o país.

Na região de Potosí, assim como em cidades como Santa Cruz, Cochabamba, Tarija e Sucre, foram registrados intensos confrontos entre manifestantes, policiais e camponeses ligados ao Movimento ao Socialismo (MAS), partido de Arce.

Ontem à noite, foi registrada a morte de uma pessoa em Potosí, em circunstâncias que ainda estão sendo investigadas pelas autoridades locais.

Nadia Cruz, integrante da Defensoria do Povo, afirmou hoje, em entrevista coletiva concedida em La Paz, que a vítima é um homem, de 23 anos, que faleceu devido a "asfixia mecânica por bronco aspiração com corpo estranho", e que ele não apresentava outros sinais de violência.

Além disso, o órgão indicou que foram notificados, pelo menos, 63 feridos, em meio aos confrontos e cobrou que os setores envolvidos iniciem diálogo para encerrar a onda de violência no país.

A polícia interveio, na terça-feira, para retirar bloqueios instalados nas ruas das regiões onde ocorrem os protestos. Setores como transportadoras, comerciantes informais e organizações cidadãs adeririam à greve geral.

Arce cancela evento em cidade que registra protestos

Arce decidiu não participar de atos oficiais nesta quarta-feira pela comemoração dos 211 da libertação da região de Potosí, onde foi registrada a morte em relação aos protestos.

As principais solenidades que aconteceriam em Potosí, devido à tensão social, foram canceladas pelo governo da região, antes mesmo do anúncio de que Arce não estaria presente em nenhum ato.

"Discurso de ódio"

Os líderes da oposição criticaram na segunda-feira o relatório de Luis Arce sobre seu primeiro ano na presidência da Bolívia como um "discurso de ódio" e exigiram que o líder governe para toda a população.

Políticos como o ex-presidente boliviano Jorge 'Tuto' Quiroga e o governador de Santa Cruz, Luis Fernando Camacho, questionaram as constantes alusões de Arce ao governo de transição de Jeanine Áñez e a versão oficial de que em 2019 houve um "golpe de Estado" contra o então presidente Evo Morales.

"O presidente Evo passou um ano como um disco arranhado, repetindo 'golpe de Estado' e 'Áñez'. O gás está acabando, as reservas do BCB (Banco Central) estão caindo, as dificuldades financeiras estão chegando, há falta de emprego e estamos sem direção", escreveu Quiroga no Twitter.

O ex-presidente encerrou dizendo que Arce deu seu primeiro ano ao "patrão", em referência a Evo, e que agora ele precisa "governar os próximos quatro anos para toda a Bolívia".

Camacho publicou um longo comunicado nas redes sociais sobre a mensagem do chefe de Estado intitulada "Luis Arce e seu discurso de confronto e ódio".

O político, que em 2019 liderou protestos em sua região contra fraudes que teriam ocorrido durante as eleições fracassadas daquele ano para favorecer a reeleição de Morales, lamentou que Arce tenha perdido "a oportunidade de falar com todos os bolivianos" e tenha se dirigigo "somente aos militantes do MAS", o Movimento ao Socialismo, que está no poder.

A oposição indicou que, em seu discurso de mais de duas horas, Arce se dedicou a desqualificar o mandato de Áñez como se a história da Bolívia estivesse restrita apenas ao governo de transição. Além disso, questionou o "esquecimento" dos 14 anos que Morales governou e seu "lamentável legado para a Bolívia e os bolivianos".

O opositor também considerou que os números de reativação econômica destacados pelo presidente não são o resultado de suas ações ou o início da recuperação, mas simplesmente um efeito de rebote após a depressão do ano passado.

"Seu discurso estava cheio de palavras que induzem ao confronto e ao ódio entre os bolivianos. Deixe seus complexos e radicalismo verbal e comece a trabalhar na solução dos problemas dos bolivianos, que são terminar de superar a pandemia da Covid-19, reativar a economia, reduzir os níveis de pobreza e gerar emprego", finalizou.

Arce apresentou relatório sobre seu primeiro ano de mandato na segunda-feira, em uma sessão do parlamento nacional. O presidente atacou o governo interino, o que levou a confrontos entre legisladores que, em alguns momentos, impediram que o chefe de Estado fosse ouvido.

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