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| Foto: ALBARI ROSA/ALBARI ROSA

A brasileira Renata Bueno, ex-vereadora de Curitiba pelo PPS e eleita deputada na Itália, foi recebida na última sexta-feira (9) pelo presidente italiano Sergio Mattarella para opinar sobre a formação de um novo governo no país. O primeiro ministro Matteo Renzi renunciou ao cargo depois de a reforma constitucional proposta por ele não ter sido aprovada em um referendo e deve ser substituído em breve. A Gazeta do Povo conversou com a deputada sobre a situação política italiana, acompanhe:

Por que a senhora se reuniu com o presidente italiano para conversar sobre a nomeação do próximo premiê?

Aqui na Itália, diferente do Brasil, [o regime] é o parlamentarismo. Então toda vez que cai um governo, o ritual quando tem uma crise é de que o presidente da República chame todas as forças políticas para ouvir cada uma das opiniões. Eu, como sou líder de uma bancada, fui chamada. São 23 encontros que o presidente faz com cada uma dessas delegações. É todo um ritual onde eles chamam cada uma dessas forças políticas no Palazzo del Quirinale, onde fica a Presidência da República.

Como foi a conversa com Sergio Mattarella?

Falei em nome do nosso bloco de deputados e dos italianos no exterior, que são os quais eu represento, mas também uma visão do que se vê da crise política no país do exterior. Apresentei o trabalho que fizemos defendendo essa reforma constitucional e o Brasil foi o país que teve a votação mais favorável a essa reforma, apesar de ter perdido. O governo do Matteo Renzi restabeleceu um ótimo contato com vários países no mundo, principalmente o Brasil. Ele e vários ministros estiveram pessoalmente no Brasil e para nós seria importante que essas iniciativas continuassem. A nossa proposta foi que se constituísse um novo governo técnico, porque hoje não temos condições de fazer novas eleições já que não existe uma lei eleitoral capaz de dar um bom direcionamento político para a Itália. O caminho seria refazer essa lei eleitoral com esse governo técnico, composto pelo maior número de forças políticas possíveis, para, quando tivermos tudo pronto, irmos para novas eleições.

O seu grupo político apoiava as mudanças propostas por Matteo Renzi, que foram derrotadas nas urnas. Por que a senhora considera que as reformas eram importantes?

Tinham vários pontos que modernizavam a Itália. A Itália se sustenta por uma história política muito importante, mas que precisa ser renovada, revitalizada. Hoje, a Itália tem uma tradição de instabilidade política e de crise de governo. Ela não tem uma Constituição que garanta estabilidade de governo e mais clareza na divisão de competências entre os estados e a nação – é um país que possui um sistema legislativo muito lento e burocrático. A vontade era de ver a Itália um pouco mais moderna, mais ativa e menos burocratizada e foi essa a proposta do Renzi. Ele foi muito audacioso, mas acabou não conseguindo fazer com que se aprovasse essa proposta.

Como a senhora avalia a situação da Itália nesse momento?

Matteo Renzi não foi eleito, ele foi chamado por um acordo porque tinha uma liderança política para fazer uma série de reformas, inclusive a constitucional. Essa reforma esteve em debate no Parlamento durante dois anos, passou por uma série de debates, foi aprovada por Câmara e Senado e aí sim foi chamado o referendo popular. Ele pediu o referendo popular para que as pessoas pudessem participar, e se as pessoas não concordaram, eu acho que é justo que ele deixe o governo. Eu também pediria demissão.

Na sua percepção, a Itália consegue esperar até 2018 para a eleição? Por que?

Eu acho que é impossível esperar. Alguns grupos defendem a eleição imediata, só que isso não é possível porque nós não temos uma lei eleitoral que regulamente um bom modo de se votar. Esperar até 2018 também é muito, porque nós já estamos em um terceiro governo dentro de uma legislatura, então não tem como se manter durante tanto tempo. O ideal é que convoque esse governo técnico, faça essa reforma da lei eleitoral e deixe decantar esse desgaste da campanha referendaria, para estarmos prontos para uma eleição. Tem, inclusive, leis de emergência que precisam ser votadas, por exemplo, decreto sobre a questão do terremoto. São coisas emergenciais que a gente precisa finalizar.

Quais devem ser os próximos passos para a estabilidade do país a médio e longo prazo?

Tudo está nessa lei eleitoral que precisa ser reformada, porque ela não só dita as regras de uma eleição – como devem ser compostas as listas que concorrerão – mas ela impõe a maioria do Parlamento. Aqui, o partido que faz mais votos ganha um ‘prêmio de maioria’ e isso faz com que esse partido tenha a maioria absoluta na Câmara, para poder garantir a estabilidade ao governo. A estabilidade está aí, nesse bônus do partido que ganha. Para garanti-la, nós precisamos ter uma reforma eleitoral adequada que possa dar sustentabilidade a um governo.

A senhora acha que o cenário político da Itália pode ter alguma influência na União Europeia?

Sim, somos membros da União Europeia, a gente abre mão de parte da nossa soberania para compor esse ente maior, então tudo que acontece na Itália tem reflexo lá. Mas, graças a Deus, economicamente não afetou muito essa crise de governo. Inclusive, agora nós temos urgência em formar o governo já no início da semana, porque no dia 15 tem uma reunião do Conselho Europeu na qual o governo italiano tem que estar presente. A gente tem que tomar cuidado é com essa onda do Brexit, com a saída da Inglaterra [na verdade, quem deixou a União Europeia foi o Reino Unido e não apenas a Inglaterra]. A própria reforma constitucional tinha inserido alguns pontos que eram solicitados pela própria União Europeia e que a gente precisava adequar também.

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