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Homem segura pedra enquanto corre da polícia | REUTERS/Siphiwe Sibeko
Homem segura pedra enquanto corre da polícia| Foto: REUTERS/Siphiwe Sibeko

Desigual

Poder do dinheiro fica evidente na compra de publicidade na tevê

Rodolfo Stancki

No mês passado, o comitê de reeleição do presidente Barack Obama arrecadou US$ 114 milhões de dólares e, pela primeira vez desde abril, ultrapassou o valor obtido pelos republicanos, de US$ 111 milhões. Os democratas comemoraram a marca como uma vitória política – algo incomum nas corridas eleitorais brasileiras.

Quando um candidato arrecada mais do que o outro por aqui, o fato não chega a ser celebrado publicamente como ocorre nos EUA. De acordo com Márcia Dias, professora do departamento de Ciências Políticas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), por causa do voto facultativo, o dinheiro faz toda diferença na mobilização dos eleitores norte-americanos.

Um dos maiores impactos da questão financeira nas eleições norte-americanas é o espaço de publicidade nos meios de comunicação que, no Brasil, é custeado pelo Estado. "Lá, os candidatos precisam pagar pelo horário eleitoral na televisão, por exemplo. Isso é caro, ainda mais em horário nobre", explica a professora.

Segundo Márcia, o modelo de arrecadação financeira nos EUA tem pontos positivos e negativos. "Essencialmente, o sistema [monetário] das campanhas reforça o bipartidarismo norte-americano, que garante as doações", diz.

A menos que estejam dispostos a perder muito dinheiro, os candidatos menores acabam desaparecendo nas quantias bilionárias arrecadadas por democratas e republicanos. "Isso é ruim porque tende a ser antidemocrático. Quem tem dinheiro é quem realmente pode concorrer e as classes mais pobres ficam sem representação", observa a professora.

Por outro lado, Márcia lembra que nosso sistema de campanha custeada pelo estado dá espaço igual para muita gente. "Os eleitores ficam confusos com tantos candidatos. As campanhas brasileiras são os típicos casos em que muita informação produz desinformação".

Gasto Eleitoral

US$ 9,8 bilhões é a estimativa de gastos para o ciclo eleitoral de 2012. Em 2008, foram gastos US$ 5 bilhões.

"Nos EUA os candidatos precisam pagar pelo horário eleitoral na televisão, por exemplo. Isso é caro, ainda mais em horário nobre."

Márcia Dias, professora do Departamento de Ciências Políticas da PUC-RS.

O maior doador para a campanha de reeleição do presidente Barack Obama, até agora, é Jeffrey Katzenberg, diretor executivo do estúdio Dreamworks, que produziu as animações Shrek e Kung Fu Panda. Sozinho, ele doou para o democrata cerca de US$ 2 milhões. A quantia é apenas um quarto do que o maior doador do partido republicano, o construtor de casas Bob Perry, de Houston, investiu na campanha de Mitt Romney.

Os dois casos são exemplos­­ de por que a corrida eleitoral­­ deste ano nos EUA se­­rá a mais cara da história do país. A em­­­­presa de pesquisa de mídia Borrell Associates afirma que a estimativa é que o ciclo­­ eleitoral consuma US$ 9,8 bilhões, incluindo as primárias internas dos dois principais partidos. Em 2008, o gas­­to no mesmo período foi de cerca­­ de US$ 5 bilhões.

O que au­­men­­tou os custos das cam­­pa­­­­­­nhas norte-ame­­ricanas foi a­­ apro­­vação dos cha­­mados Super PACs (Comitês de Ação Política, em inglês) pela Suprema Corte dos EUA, em 2010. Tais organizações podem arrecadar e gastar quantias ilimitadas para promover um determinado candidato.

"Os Super PACs são grupos formados por pessoas que apoiam determinados partidos. Eles são autorizados a receber doações em qualquer valor e anônimas", explica Vanessa Borges, professora de Relações Internacionais no Centro Universitário Jorge Amado (UniJorge).

Segundo Vanessa, a decisão da Suprema Corte era diminuir a possibilidade de corrupção, com o sistema de doações sem limites. "Na prática, no entanto, isso privilegia doações anônimas, que podem favorecer campanhas financiadas por grupos estrangeiros", diz.

Quem tirou vantagem imediata da nova estratégia de arrecadação permitida com os Super PACs foram os republicanos. "Romney tem apoio financeiro de Wall Street e de outras companhias internacionais, especialmente do setor energético", afirma Arthur Dornelles, professor de Relações Internacionais da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).

"Obama tem uma inserção diferente nas famílias, arrecadando pequenas quantias. Além disso, tem um vínculo maior com celebridades de Hollywood", observa o docente. De acordo com Dornelles, é por isso que os democratas comemoraram a vitória na arrecadação do mês de agosto, quando fizeram US$ 114 milhões – contra os US$ 111 milhões dos republicanos.

Para Otávio Marchesini, professor de Direito Inter­­na­­cional da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), o problema das arrecadações astronômicas, que batem os milhões de dólares nos EUA, é não efetivar o princípio da democracia. "Existia um consenso de que as campanhas eleitorais não podiam ser limitadas em termos de doações. Os Super PACs são entidades que valorizam a ideia de liberdade para doar", diz. "O problema é que essas grandes doações são utilizadas para fomentar ideologias e não para o exercício da democracia. Os candidatos arrecadam mais e aparecem. Mas isso não necessariamente significa que os eleitores vão aparecer nas urnas", explica Marchesini. Como o voto não é obrigatório nos EUA, cabe aos candidatos mobilizar os eleitores. Se o dinheiro faz diferença é algo que veremos em novembro nas urnas.

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