• Carregando...
cardeal george pell
Cardeal australiano George Pell foi absolvido pelo Supremo Tribunal da Austrália| Foto: William WEST/AFP

O cardeal George Pell, que cumpria seis anos de prisão por abuso sexual contra menores, foi absolvido pelo Supremo Tribunal da Austrália nesta terça-feira (7). A corte, composta por sete magistrados, decidiu por unanimidade reverter a condenação ao alegar que o júri não considerou adequadamente todas as evidências apresentadas no julgamento.

Depois de ficar mais de 400 dias preso, o cardeal de 78 anos, que sempre se declarou inocente, agora está livre. Segundo o Vatican News, ele deixou a prisão de Barwon, no estado de Vitória, para ir a uma instituição religiosa em Melbourne. Seu julgamento, em 2018, marcou a primeira vez em pelo menos 100 anos que um cardeal da Igreja Católica foi preso. Ele havia sido acusado de abusar de dois meninos em Melbourne nos anos 1990.

A defesa do religioso argumentou que o júri e, posteriormente, os juízes de segunda instância, estavam se baseando demais em evidências apresentadas pela suposta vítima, enquanto não consideraram adequadamente outras evidências. O Supremo Tribunal da Austrália concordou com essa alegação, declarando que outros testemunhos haviam introduzido "uma possibilidade razoável de que o crime não tivesse ocorrido", segundo informou a BBC.

"O júri, agindo racionalmente sobre toda a evidência, deveria ter considerado uma dúvida quanto à culpa do requerente", declarou o Supremo Tribunal. A acusação não poderá recorrer da decisão.

Acusações

Pell, ex-tesoureiro do Vaticano e ex-conselheiro do papa Francisco, foi considerado culpado por unanimidade pelo júri da corte de Victoria, em Melbourne, em 11 de dezembro de 2018, após um julgamento de quatro semanas.

Os supostos crimes teriam sido cometidos entre dezembro de 1996 e os primeiros meses de 1997 contra dois coroinhas de 12 e 13 anos de idade na sacristia da catedral de São Patrício, em Melbourne, onde Pell era arcebispo.

Uma das supostas vítimas testemunhou sobre os detalhes do assédio por videoconferência durante o julgamento – a segunda vítima teria morrido em decorrência de uma overdose de heroína em 2014. Porém, dezenas de outras testemunhas forneceram álibis e outras evidências que colocavam em dúvida as declarações da suposta vítima.

Um exemplo é que a acusação alegou que o crime teria ocorrido na sacristia da catedral de São Patrício, logo após uma lotada missa de domingo. Porém, três testemunhas disseram que era costume de Pell cumprimentar os paroquianos naquele momento e, portanto, sua ausência seria notada, principalmente pelo fato de o arcebispo ter realizado suas primeiras missas na localidade na época em que a acusação alega que o crime teria ocorrido.

Outro fator apontado pela defesa é que, enquanto a acusação alega que o crime teria ocorrido com a porta da sacristia aberta por um tempo estimado de cinco a seis minutos, ninguém teria presenciado o suposto abuso.

Reação

Em um comunicado após ser inocentado, Pell disse que seu "julgamento não foi um referendo sobre a Igreja Católica; nem um referendo sobre como as autoridades da Igreja na Austrália lidam com o crime de pedofilia na Igreja".

A polícia de Victoria, estado onde Pell foi preso, disse que continua "comprometida em investigar crimes de agressão sexual e em fornecer justiça às vítimas, não importa quantos anos se passaram".

Em nome da Conferência Episcopal Australiana, o arcebispo Mark Coleridge, reconheceu que a decisão da Suprema Corte será bem recebida por aqueles que acreditam na inocência do cardeal, mas será devastadora para os outros. Ele também reiterou o "compromisso inabalável da Igreja com a segurança dos menores e com uma resposta eficaz aos sobreviventes e vítimas de abusos sexuais contra menores", informou o Vatican News.

Na missa desta terça-feira, horas depois de Pell ter sido absolvido, o papa Francisco rezou pelos inocentes que sofrem injustiças. Sem mencionar o cardeal, o pontífice recordou a perseguição que Jesus sofreu e rezou pelas pessoas que sofrem sentenças injustas.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]