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Estudantes participam de simulações de tiroteio nas escolas. O objetivo é ensiná-los a se proteger de possíveis ataques | Pedro Pardo/AFP
Estudantes participam de simulações de tiroteio nas escolas. O objetivo é ensiná-los a se proteger de possíveis ataques| Foto: Pedro Pardo/AFP

Disseminação

Violência das quadrilhas afeta o cotidiano dos mexicanos

Os sequestros são considerados um problema para a gigante do petróleo mexicana, mas, hoje em dia, os problemas relacionados aos narcotraficantes não afetam apenas a Pemex.

Veículos que levavam o controlador e o diretor de obras públicas da pequena cidade de Tubutama foram atacados por bandidos e os funcionários acabaram mortos, em junho. A eletricidade é usada à vontade, pois os funcionários encarregados se recusam a ler os relógios para registrar o consumo, temendo por sua vida, disse um morador pedindo anonimato.

Médicos não aparecem na clínica de Tubutama, as escolas fecharam por um tempo no início do ano passado, por causa dos tiros que geraram insegurança para as crianças, e os estoques nas lojas em geral estão baixos, porque os caminhões de entrega evitam a cidade de 1,5 mil habitantes.

Muitos moradores fugiram – a fonte estima que 70% da população – porque eles sen­­tem que o governo não os protege, como ocorre com as populações de Ciudad Juárez e de cidades menores ao longo da fronteira com o Texas. Também pararam as entregas do di­­nheiro do programa contra a po­­bre­­za mantido pelo governo do presiden­­te Felipe Calderón, chamado Opor­­tunidades, disse a fonte, que viu parte de sua família deixar a cidade mais cedo este ano.

O programa Oportunidades informou que sofreu 134 roubos nos últimos dois anos e meio, uma perda de 142 milhões de pesos (US$ 1,1 milhão). A maioria dos roubos ocorre na área conhecida como "Triângulo Dourado", onde os estados assolados pela droga, Chihuahua, Sinaloa e Durango, se encontram, segundo o Departamento de Desenvolvimento Social federal, responsável pelo programa.

A perda é uma pequena porcentagem da iniciativa, que movimenta um total de 25 bilhões de pesos (US$ 2 bilhões, aproximadamente). Funcionários dizem que geralmente tentam remarcar a nova entrega para dias depois, em áreas afetadas, onde esse dinheiro é quase a única fonte de renda. Mas, em alguns casos, isso pode levar semanas.

No estado fronteiriço de Chihuahua, onde fica Ciudad Juárez, as gangues de drogas – e os criminosos que trabalham para elas ou são ao menos tolerados pelos chefes – tornaram-se tão poderosos e atrevidos que roubam cheques de ajuda a fazendeiros locais. Os nomes dos que recebem o auxílio são tornados públicos, para atender a um programa federal de transparência nos gastos públicos.

Os fazendeiros dizem que, com isso, ficam sujeitos a extorsões.

Cidade do México - Cinco funcionários da estatal Pemex partiram para o trabalho em uma fábrica de produção de gás natural perto da fronteira com o Texas (EUA), há seis meses, e nunca retornaram. Homens mas­­carados, aparentemente mem­­bros de um cartel que opera na área, haviam advertido os empregados da Petroleos Mexicanos de que eles não tinham mais permissão para entrar na área.

Na mesma época, em maio, três inspetores do Departamento de Meio Ambiente do México se­­guiram para as montanhas cheias de árvores a oeste da Cidade do México, para investigar uma re­­clamação de poluição. Os corpos torturados deles foram encontrados no dia seguinte. Autoridades disseram que o trio havia encontrado um laboratório improvisado para o refino de drogas.

Mortes e desaparecimentos servem para demonstrar sua autoridade. Os cartéis do narcotráfico do México começam a interferir nas atividades cotidianas do go­­verno em algumas áreas do país, mantendo funcionários fora de suas áreas de atuação e interrompendo alguns dos serviços mais básicos.

Os criminosos não apenas mantêm postos de controle e matam policiais ou prefeitos para controlar territórios. Eles agora tentam manter todos – de funcionários de escalão mediano a caminhoneiros que fazem entregas, passando pelos encarregados de medir o consumo de água e luz – longe das áreas rurais usadas para transportar drogas, guardar armas, sequestrar vítimas e se es­­conder das autoridades. No processo, eles bloqueiam as entregas de gasolina, cheques de aposentadorias, auxílios para os agricultores e outros serviços para os mexicanos.

Os cartéis também roubam ou extorquem pessoas que recebem pagamentos do governo, como braços do crime organizado da que avançam em outras atividades ilegais, além do tráfico de drogas.

Essas interrupções têm afetado os Estados Unidos, já que, por exemplo, as inspeções no setor agrícola na fronteira têm desacelerado. A recente busca pelo corpo de um turista americano desaparecido em um lago na fronteira foi suspensa em meio a ameaças de um cartel e após o assassinato do comandante policial encarregado da busca.

"Tudo está parado", diz María Luz Hopkins, uma aposentada de 69 anos que vive em Tubutama, no lado mexicano da fronteira, próxima de Nogales, no Arizona. "Não há construção. Ninguém está trabalhando nos campos porque eles não têm gasolina ou diesel. As pessoas que costumavam trazer gasolina não vêm mais. Como as pessoas podem trabalhar?", questiona.

María reclamou a funcionários na capital do Estado de So­­no­­ra, Hermosillo, quando o governo parou de enviar os cheques de sua aposentadoria. Ela contou que eles vieram no mês passado, em um comboio de cerca de 20 caminhões com homens fortemente armados, depois de ela não ter recebido durante dois meses.

Funcionários federais dizem que esses são casos isolados, e ne­­gam que o governo não possa operar em qualquer área do país. Para comprovar, citam as eleições parlamentares de 2009 e o censo de 2010.

"Pode haver incidentes, mas isso não significa que a atuação do governo está parando em qualquer lugar do país", disse um porta-voz da segurança federal, Alejandro Poire. "Se e quando isso acontecer, as forças federais, se necessário for, estarão lá para garantir a lei e manter a atuação do governo operando normalmente."

Mas, em algumas zonas ao longo da fronteira ou nas montanhas do interior do país, patrulhas do Exército e rápidas visitas do censo ou de funcionários de pesquisas não contam muito co­­mo um controle do governo. Mes­­mo os militares ficam nervosos e insistem em usar máscaras para não serem identificados pelos criminosos.

Para a Pemex, os sequestros são "um problema amplo", resumiu o diretor-geral da empresa, Juan Suárez Coppel.

Os casos ocorreram em muito mais que apenas uma fábrica da empresa e estão crescendo, se­­gundo dados fornecidos à Asso­­ciated Press, a partir de um requerimento legal. Um total de dez empregados ou subcontratados da Pemex foi sequestrado em quatro estados mexicanos em 2010, comparado a apenas um caso no ano anterior, dois em 2008 e três em 2007.

A Pemex, maior indústria do país, fornece cerca de 40% dos recursos do governo federal. A empresa não quis estimar o tamanho das perdas financeiras causadas por ataques do tipo. Também não pode dizer o que ocorreu com as vítimas, ou quanto da produção foi perdida por causa dos problemas de segurança nos estados fronteiriços de Tamaulipas e Nue­­vo León, e nos estados do Golfo de Veracruz e Tabasco.

"Houve uma série de situações na parte norte do estado de Ta­­maulipas e em parte do estado (vizinho) de Nuevo León que tornaram a operação difícil", disse Carlos Morales Gil, diretor de Exploração e Produção da Pe­­mex.

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