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Presidente regional da Catalunha, Carles Puigdemont, fez discurso no Parlamento  | LLUIS GENE/AFP
Presidente regional da Catalunha, Carles Puigdemont, fez discurso no Parlamento | Foto: LLUIS GENE/AFP

O presidente regional da Catalunha, Carles Puigdemont, durante reunião no parlamento catalão, nesta terça-feira (10), declarou autônoma a região e, em seguida, propôs a suspensão dos efeitos da declaração. A ideia é abrir diálogo e negociações com o governo espanhol. Ele também pediu mediação internacional para ajudar nas tratativas.

O presidente regional afirmou que assume o mandato do povo, para que a região seja um estado independente. Segundo ele, as urnas disseram sim à independência e esse é o caminho que o político está comprometido a transitar. “Há um antes e um depois do referendo”, reforçou Puigdemont.

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Puigdemont disse ainda estar convicto de que, se, nos próximos dias, todos cumprirem com suas obrigações, o conflito entre a Catalunha e a Espanha poderá ser resolvido sem violência.

O referendo catalão, realizado no domingo (1º) pelo movimento que busca a secessão da região, obteve 90,09% dos votos favoráveis à medida. Cerca de 2,2 milhões de pessoas participaram da consulta, o equivalente a menos da metade do eleitorado local. Na ocasião, a polícia interveio de forma violenta e cerca de 800 pessoas ficaram feridas durante a votação.

Impasse

A manobra, no entanto, parece ter apenas adiado o caos institucional na Espanha. Não está claro quais serão os próximos passos do governo regional por sua separação. 

"Não somos uns delinquentes. Não somos uns loucos. Não somos uns golpistas. Somos gente normal que esteve disposta a todo o diálogo necessário", Puigdemont disse.

Os corredores da Casa estavam abarrotados com centenas de repórteres, que improvisavam suas redações em pequenos gabinetes para acompanhar as declarações. O país e a comunidade internacional aguardam agora, ansiosos, a reação do Estado espanhol.

O premiê conservador, Mariano Rajoy, pode utilizar o Artigo 155 para suspender a autonomia parcial já existente na Catalunha e convocar eleições nessa região. Ele pode também pedir a detenção de Puigdemont. 

Não existe nenhum cenário aparente em que esse conflito se dissipe com facilidade. Caso não reaja, Rajoy arrisca fortalecer o movimento separatista. Se utilizar a força, alimentará também os separatistas - que terão a prova do argumento de que são reprimidos por Madri.  

Mesmo acionando o Artigo 155, Rajoy não tem garantias de estabilidade. Partidos separatistas catalães já anunciaram seu boicote a eventuais eleições antecipadas.  

Antes de sua fala, uma hora mais tarde do que o previsto devido a reuniões de emergência, o presidente catalão havia se sentado na sala parlamentar mordiscando uma das pernas de seu óculos. Um sino convocava os legisladores. Do lado de fora, ativistas se aglomeravam em torno do edifício, localizado no histórico parque da Cidadela, para apoiar o governo regional. Agricultores estacionaram tratores nas imediações.

O governo espanhol já afirmou não vai reconhecer a independência da Catalunha, assim como a União Europeia ou outros grandes atores globais

Crítica da oposição

A líder da oposição no Parlamento da Catalunha, Ines Arrimadas, do partido Ciudadanos, criticou o discurso do presidente regional da região e afirmou que sua fala de que "tem direito a declarar a independência catalã" da Espanha é um "golpe de Estado" e não tem apoio na Europa.  

Arrimadas afirmou que a maioria do povo da Catalunha sente que são catalães, espanhóis e europeus e que não vão permitir que líderes regionais "quebrem seus corações".  

História

Um dia antes da sessão parlamentar desta terça-feira, o porta-voz do partido que governa Madrid, o Partido Popular (PP), Pablo Casado, afirmou que não há possibilidade de diálogo com Carles Puigdemont e o governo espanhol sobre a separação da Catalunha. Ele chegou a ameaçar os separatistas usando um exemplo histórico. “Não queiram acabar como o Companys [Lluís Companys]”, disse o porta-voz, em referência ao presidente da Generalitat. Em 6 de outubro de 1934, ele proclamou a República da Catalunha, mas terminou fuzilado.

A independência durou apenas cerca de dez horas. Na época, Companys decidiu se render quando o comandante militar da Catalunha, general Domingo Batet, se rebelou e proclamou estado de guerra. Ao menos 40 pessoas morreram. Companys e vários membros do governo foram detidos. Em 14 de dezembro, a legislação proibiu a autonomia da região da Catalunha. 

Após ser refugiado na França e preso por alemães no ano de 1940, Lluís Companys foi morto sob responsabilidade do ditador Francisco Franco, em Barcelona. Companys se tornou símbolo para os movimentos à favor da independência da Catalunha.

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