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Em um vídeo de 10 segundos, Yang Kaili cantarolou o início da “Marcha dos Voluntários” | Reprodução/Twitter
Em um vídeo de 10 segundos, Yang Kaili cantarolou o início da “Marcha dos Voluntários”| Foto: Reprodução/Twitter

Nos Estados Unidos, a recusa de alguns jogadores da Liga Nacional de Futebol (NFL) em defender o hino nacional desencadeou um debate ao longo de um ano sobre injustiça racial, patriotismo e liberdade de expressão.

Na China comunista, a história é bem diferente. Yang Kaili, uma das celebridades da internet com mais seguidores da China, foi detida por cinco dias, acusada de "desrespeitar" o hino nacional. O motivo: ela cantarolou a música antes de entoar o primeiro verso do hino chinês em uma transmissão ao vivo na internet, enquanto usava uma tiara de orelhas de alce e balançava os braços imitando os movimentos de um maestro.

A transmissão parece ter sido feita do quarto de Yang para alguns de seus 2 milhões de seguidores no aplicativo "Huya". O vídeo tinha apenas 10 segundos, mas foi o suficiente para violar a nova lei do hino nacional da China, que proíbe tocar ou cantar a "Marcha dos Voluntários" de uma maneira "distorcida ou desrespeitosa em público", disse a polícia. 

"O hino nacional é uma personificação e símbolo de nosso país e todos os cidadãos e organizações devem respeitar e defender a honra do hino", disse a polícia de Xangai em um comunicado divulgado na mídia social. "Transmissão ao vivo na internet não são território sem lei e os usuários devem obedecer à lei e defender os padrões morais. A polícia reprimirá resolutamente comportamentos que desafiam a linha de fundo legal ou a ordem pública e a boa moral social, a fim de purificar a esfera pública". 

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A detenção de Yang é o primeiro exemplo da aplicação da lei do hino, aprovada no ano passado depois que torcedores de Hong Kong vaiaram e deram as costas ao hino nacional quando o time jogou contra a seleção chinesa. As pessoas que desrespeitarem o hino podem ser detidos por até 15 dias.

Outros casos 

Esta legislação é uma manifestação de como o governo da China, sob o presidente Xi Jinping, enfatiza o nacionalismo e a disciplina ideológica ao mesmo tempo em que reprime o discurso dissidente – ou mesmo as piadas. 

Um historiador de Pequim, por exemplo, foi processado em 2016 por questionar a veracidade das histórias de livros didáticos sobre o sacrifício dos heróis do Partido Comunista enquanto lutavam contra invasores japoneses. Outro escritor foi punido por ter inventado uma piada na internet, que foi vista pelas autoridades como um desrespeito a um lendário soldado comunista que morreu na Guerra da Coreia. Esses casos deram o impulso para o governo aprovar uma nova lei no ano passado, proibindo qualquer coisa que possa "danificar o nome, a imagem, a reputação ou a glória de heróis e mártires". 

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O erro de Yang não chegou a denegrir qualquer mártir no panteão do Partido Comunista, mas mesmo assim ela emitiu um profundo pedido de desculpas pelo "erro estúpido" de ferir "a pátria, os fãs e a plataforma". 

"O que eu fiz feriu seus sentimentos", disse ela. Mais tarde, ela acrescentou que vai "interromper todo o trabalho de vídeos ao vivo, retificar, tirar lições da amarga experiência, refletir profundamente e aceitar plenamente a educação sobre política ideológica e patriotismo". 

Yang faz parte de uma geração de jovens celebridades irreverentes da internet que atraiu um enorme número de seguidores,  que, em alguns casos, superam os das estrelas do YouTube nos Estados Unidos. O número de fãs de alguns deles já está batendo seis dígitos. Mas eles também costumam atrair a ira do governo chinês, que desaprova personalidades da internet espalhando fofocas e conteúdo lascivo – e enriquecendo com isso. 

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Yang, conhecida por seu jeito irônico, alcançou a fama fazendo cover de canções pop no aplicativo de streaming Tik Tok, onde acumulou mais de 44 milhões de seguidores. Mais tarde, ela deixou a plataforma e se juntou a Huya, que abriu capital na Bolsa de Valores de Nova York em maio.

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