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Quando Hugo Chávez rompeu uma década de embargo político sobre o Iraque para se transformar no primeiro chefe de Estado a visitar o país depois da Guerra do Golfo, deixou a comunidade internacional atônita com seu estilo singular.

``Se eu quiser ir ao inferno e falar com o diabo, faço isso, porque somos livres e soberanos'', respondeu o líder sul-americano às críticas que recebeu em 2000, depois da viagem inédita ao país de Saddam Hussein.

Com seu discurso provocador e polêmico, Chávez polarizou a opinião pública venezuelana e mundial entre um grupo de devotos incondicionais, que o considera o defensor dos excluídos, e um grupo de detratores tenazes, que o vêem como um autoritarista perigoso.

``Tem gente que me chama de ditador, e eu dou risada. Eu, ditador? Nunca houve aqui mais liberdade de imprensa e de expressão que hoje'', disse ele recentemente.

Chávez foi o grande vencedor das eleições presidenciais venezuelanas realizadas no domingo, reelegendo-se por mais seis anos com a promessa de aprofundar sua ``revolução socialista'' e de seguir combatendo o ``imperialismo norte-americano''.

A oposição afirma que o controle cada vez maior do mandatário sobre os poderes públicos -- como o Judiciário, o Legislativo e o Eleitoral -- e a declarada admiração pelo aliado Fidel Castro são claros indícios de que Chávez pretende instaurar um regime comunista na Venezuela.

``Está escrito, não há lugar na Venezuela para nenhum outro projeto que não seja o da revolução bolivariana'', disse Chávez, 52, separado pela segunda vez.

Seus anúncios sobre uma futura reforma eleitoral que elimine o limite de reeleições presidenciais e sobre a criação de um partido único que aglutine todas as plataformas que apoiem sua ``revolução socialista'' fomentaram críticas dos adversários.

``SHOWMAN''

Desde que chegou ao poder, em 1999, com a promessa de pôr fim à ``partidocracia corrupta'' em que o governo havia se transformado e de distribuir a renda do petróleo entre os setores excluídos da sociedade, o presidente assumiu um estilo único de fazer política.

Poucos são os chefes de Estado que têm em seu histórico ter participado de um trio improvisado e desafinado de cantores completado pelo ídolo espanhol Julio Iglesias e pelo líder chinês Jiang Zeming, ou o comando de um programa dominical de TV para distribuir prêmios a necessitados.

A constante cobertura ao vivo do governo deixou lembranças que ficarão no imaginário popular, sempre mantendo a dualidade herói-vilão que caracteriza o carismático e excêntrico ex-pára-quedista, pai de quatro filhos.

Algumas delas: Chávez com lama pelos joelhos à frente da operação de resgate nos deslizamentos de Vargas, que matou milhares de pessoas, ou despedindo pela TV executivos da petroleira estatal PDVSA, com um apito na boca, em represália a críticas sobre sua gestão da empresa.

Em seus longos discursos, nos quais não pode faltar a xícara de café preto, defende a justiça social e desfia as virtudes da revolução pacífica que diz realizar no país. Ele mistura linguagem popular, às vezes rude, com referências bíblicas e literárias, citando com especial fervor o idolatrado Simón Bolívar, que libertou parte da América do Sul do jugo espanhol.

Mas não foi debatendo em fóruns democráticos que Chávez fez sua fama, e sim programando por 15 anos em quartéis um golpe militar que naufragaria em 4 de fevereiro de 1992, mas que foi o início de sua carreira meteórica até a Presidência, não antes de passar mais de dois anos na prisão.

Se houve algo que deu a Chávez uma verdadeira projeção internacional foi seu maior arquiinimigo: o ``malévolo império norte-americano'', que paradoxalmente também é seu maior comprador de petróleo.

Protegido pelos altos preços do petróleo, o venezuelano não hesita em atacar a política externa e comercial de George W. Bush, que já chamou de bêbado, genocida e até de ``diabo''. Chávez acusa a Casa Branca pelo breve golpe que sofreu em 2002.

Um instinto de sobrevivência política e certa dose de sorte permitiram que o venezuelano conseguisse contornar as frequentes crises políticas que marcaram seus oito anos de governo. Nem a greve que paralisou por meses a vital indústria do petróleo nem um referendo para revogar seu mandato conseguiram derrubá-lo.

Enquanto isso, o camaleônico presidente vive um momento econômico cor-de-rosa, com as enormes receitas do petróleo com que financia suas ``missões'', programas sociais maciços para as classes pobres que compõem sua base eleitoral.

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