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Ainda popular após uma década no poder, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, pretende sair das eleições estaduais do próximo domingo em condições de aprofundar sua "revolução socialista". Mas a oposição, apesar de fragmentada, tem chances em várias disputas.

O ex-pára-quedista militar, famoso por suas críticas contra o "império" norte-americano e adorado pela população pobre, já sofreu uma derrota eleitoral num referendo no ano passado, em que pretendia reformar a Constituição para poder disputar um novo mandato.

Num país de miscigenação racial, que passou praticamente toda a sua história sendo governado pela elite branca, as raízes humildes de Chávez, sua tez morena e seus discursos com eventuais palavrões agradam em cheio à classe trabalhadora - grata também pelos projetos sociais, especialmente em saúde e educação, que desde 1999 beneficiam os mais pobres com o dinheiro do petróleo. A aprovação do presidente é de cerca de 60 por cento.

Embora haja certo descontentamento contra os candidatos governistas devido à corrupção, à criminalidade e à sujeira nas ruas, as pesquisas mostram que o seu Partido Socialista Unido da Venezuela deve ganhar na maioria dos Estados.

Tal resultado, numa eleição que também inclui disputas municipais, fortaleceria Chávez para tentar novamente uma reforma constitucional que lhe permitisse disputar a reeleição em 2012, mantendo sua liderança dentro da esquerda latino-americana.

A não ser que perca em votações simbolicamente importantes, como em Caracas, ou em grandes Estados controlados há anos por aliados seus, Chávez, que se refere ao cubano Fidel Castro como "pai", tem tudo para lançar uma nova série de medidas socialistas nos próximos meses.

"Temos só uma prioridade, aprofundar a revolução de forma abrangente", disse Chávez à Reuters num comício numa favela de Caracas. "Essa é a prioridade, destruir os efeitos do capitalismo."

Sua voz habitualmente retumbante está rouca depois de semanas de agressiva campanha em todo o país. Nesse período, chamou seus críticos de traidores, prometeu prender o líder da oposição e ameaçou colocar tanques nas ruas de um Estado.

"Chávez pode se preparar para uma surpresa. Acho que podemos ganhar alguns Estados e prefeituras", disse o dirigente oposicionista Manuel Rosales à Reuters.

Na última eleição, há quatro anos, o chavismo só perdeu em 2 dos 22 Estados, mas houve um boicote da oposição. Agora, as pesquisas indicam que ele deve perder em 3 a 5 Estados.

Com qualquer coisa além disso, a oposição seria considerada vitoriosa, ganhando força para impedir uma nova reforma pró-Chávez, justamente quando a queda do preço do petróleo ameaça restringir os programas sociais no país, que pertence à Opep.

APOSTAS

"As apostas são elevadas em ambas as partes. Se Chávez se sair bem, abrirá caminho para um referendo sobre disputar novamente o cargo", disse o historiador político Steve Ellner.

O "Comandante", como é chamado pelos fãs, usa a estrutura do seu PSUV para mobilizar eleitores. Fundado no ano passado, esse já é o maior partido da Venezuela, com milhares de inflamados militantes.

"Camarada: nas palavras do Comandante, só vence as lutas quem luta", disse Inés Morón, moradora de Chuspa, uma vila de pescadores no Caribe, e integrante de uma "patrulha" partidária destinada a angariar eleitores de porta em porta.

No ano passado, o projeto de implantar o socialismo neste país louco por compras e beisebol sofreu um golpe no referendo. Neste ano, Chávez reduziu o ritmo das reformas, para dar ênfase à política externa e resolver problemas internos como a escassez de leite, que afetava a sua popularidade.

Agora, ele tem pressa em acelerar novamente. A queda do petróleo, desde julho, ameaça seus custosos planos para reformar a polícia, nacionalizar empresas e dar dinheiro a entidades comunitárias. Mas Chávez está usando a crise para promover bancos, e financia na América Latina, e junto com Rússia e China, alternativas ao "falido" capitalismo dos EUA.

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