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Enferemeiras verificam a intubação de paciente de Covid-19 em UTI em hospital de Concepción, Chile, 12 de abril. O aumento dos casos graves da doença deixou o sistema de saúde do país em situação crítica
Enferemeiras verificam a intubação de paciente de Covid-19 em UTI em hospital de Concepción, Chile, 12 de abril. O aumento dos casos graves da doença deixou o sistema de saúde do país em situação crítica| Foto: GUILLERMO SALGADO SANCHEZ / AFP

Apesar de ser considerado o "campeão da vacinação" contra a Covid-19 na América Latina, o Chile tem experimentado o agravamente da pandemia desde meados de fevereiro, com aumento de casos graves da infecção e da taxa de ocupação dos hospitais. O avanço da doença no país mostra a importância de se manter os cuidados para evitar os contágios enquanto não se está totalmente imunizado, especialmente no caso de vacinas que não conferem uma alta proteção antes da dosagem completa.

A curva de incidência da Covid-19 no Chile teve um pico após os feriados do fim de ano e começou a cair em meados de janeiro. Porém, ao final de fevereiro os novos casos passaram a aumentar. Mesmo com a vacinação avançada, o país também viu o aumento dos casos graves da doença e uma situação crítica nas UTIs no final de março, quando o governo chileno decidiu então ordenar o confinamento de 70% da população. A eleição dos deputados que vão formar a Assembleia Constituinte, que estava marcada para abril, teve que ser adiada.

Na nova onda da pandemia, o perfil dos internados em UTIs no Chile mudou. Os pacientes que precisam de ventilação mecânica são cada vez mais jovens, e hoje há mais internados com 40 a 49 anos do que com mais de 70, segundo dados oficiais. A mudança possivelmente é um efeito da vacinação proporcionalmente maior entre os mais velhos.

A vacinação contra o coronavírus começou no Chile em 3 de fevereiro, com os mais idosos e profissionais de saúde, e avançou por faixa etária e com a inclusão de pessoas com comorbidades e de alguns trabalhadores essenciais. As segundas doses começaram a ser aplicadas em 3 de março. Hoje, quem já recebeu as duas doses há mais de 14 dias — e portanto têm a proteção máxima da vacina — são na maioria pessoas com mais de 60 anos.

Até esta terça-feira (20), 7,8 milhões de pessoas (cerca de 40% da população) já haviam recebido a primeira dose de uma vacina contra a Covid-19 no Chile, e 5,7 milhões de chilenos já haviam completado a imunização (cerca de 29% de toda a população), de acordo com o Ministério da Saúde do país.

Na semana passada, o Chile divulgou um estudo sobre a eficácia da vacina Coronavac, produzida pela chinesa Sinovac, que indicou que passados 14 dias da aplicação da segunda dose do imunizante, 80% das mortes foram evitadas. O estudo foi feito com cerca de 10,5 milhões de pessoas, entre as quais 4 milhões foram vacinadas com a Coronavac.

O estudo enfatizou a necessidade de completar o esquema de duas doses do imunizante e da espera de 14 dias após a imunização completa para alcançar esse nível de proteção. Por isso, as autoridades de saúde chilenas informaram que o calendário de vacinação dará prioridade para a inoculação da segunda dose na semana que vem.

A subsecretária de Saúde Pública do Chile, Paula Daza, disse que "é fundamental que as pessoas que estão no calendário de vacinação se vacinem". Ela relatou que, enquanto 85% dos maiores de 65 anos já foram vacinados, apenas 65% das pessoas de 48 a 49 anos e 76% das pessoas de 50 a 59 anos foram se vacinar quando chegou a sua vez, na semana passada.

Especialistas apontam, na imprensa local, que um dos fatores que podem ter contribuído para a alta de casos foi o excesso de confiança na rapidez da campanha de vacinação, o que teria gerado um relaxamento nas medidas de proteção em um momento em que a vacinação ainda não teria sido suficiente para conter as transmissões. A circulação de novas variantes mais transmissíveis do Sars-CoV-2 também é apontada como agravante da crise sanitária.

O que dizem os dados

O estudo divulgado pelo Chile é o primeiro envolvendo a Coronavac em fase 4, que analisa a proteção fornecida pela vacina nas condições da vida real. Na fase 3, os estudos clínicos são feitos com milhares de pessoas, que receberam a vacina ou um placebo, para que se comparem os resultados entre os dois grupos. Esses resultados mostram a eficácia do imunizante em grupos controlados, enquanto na fase 4 é analisada a sua efetividade, ou o impacto real na redução de casos, mortalidade ou hospitalizações da doença.

Quando o estudo de efetividade das vacinas no Chile foi divulgado, 33,7% do público alvo (que exclui crianças e outros que não estão no plano de vacinação) já haviam recebido as doses completas da vacina no país. A Coronavac representava 90,1% das doses distribuídas, os 9,9% restantes foram da Pfizer/BioNTech.

O relatório é preliminar e será atualizado mensalmente. Esses foram os dados divulgados pelo Ministério da Saúde do Chile em 16 de abril:

14 dias após a aplicação da segunda dose:

  • 67% de efetividade para prevenir Covid-19 sintomática;
  • 85% de efetividade para prevenir hospitalização;
  • 89% de efetividade para prevenir internação na UTI;
  • 80% de efetividade para prevenir morte.

14 dias após a aplicação da primeira dose:

  • 16% de efetividade para prevenir Covid-19 sintomática;
  • 36% de efetividade para prevenir hospitalização;
  • 43% de efetividade para prevenir internação na UTI;
  • 40% de efetividade para prevenir morte.

Esses resultados dizem que, se todos estiverem vacinados, de cada 100 pessoas que teriam contraído Covid-19, 33 devem ter a doença. Já a efetividade de 80% na prevenção de mortes indica que, para cada 100 mortes esperadas para população não vacinada, o número deve ser reduzido para 20 quando as pessoas estiverem vacinadas.

O Ministério de Saúde do Chile concluiu que, no cenário de "alta atividade epidêmica", a Coronavac protege contra infecção sintomática pelo novo coronavírus e formas mais graves da doença. Mas alerta que, como não temos vacinas 100% efetivas, "é fundamental que todos sejam vacinados" e que as medidas de proteção, como higiene, cuidados pessoais e restrição da mobilidade, devem ser mantidas.

O estudo mostra ainda que a efetividade da Coronavac antes da aplicação da segunda dose fica abaixo do índice de 50% recomendado pela Organização Mundial da Saúde tanto para prevenção de infecções sintomáticas quanto para hospitalizações, internações na UTI e mortes.

A vacina não evitava 100% de mortes?

Um estudo feito no Brasil e publicado no fim do ano passado pelo Instituto Butantan afirmou que a eficácia da Coronavac contra mortes era de 100%. Mas o intervalo de confiança (ou "margem de erro") dessa pesquisa era grande — entre 56% e 100%, já que a amostra para esses casos era muito pequena. Nenhum dos participantes desse estudo que foram vacinados morreu, mas não havia um número suficiente de casos para dizer com certeza que a eficácia contra mortes seria total.

Além disso, o estudo no Brasil foi feito com voluntários saudáveis com média de idade de cerca de 40 anos; enquanto no Chile, os vacinados têm mais de 60 anos, grupo que tem mais riscos de morte por Covid-19.

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