O termo "avestruz do inferno" talvez seja a descrição mais precisa para o terror que o Gigantoraptor erlianensis infundiria no coração humano se estivesse vivo. Por sorte, o bicho de 8 m de comprimento, 3,5 m de altura e uma tonelada e meia desapareceu há 70 milhões de anos, no período Cretáceo, conforme revelaram hoje os cientistas chineses responsáveis por descrever os fósseis da criatura.
A aparência desse dinossauro-ave pode até parecer fruto de um pesadelo, mas os paleontólogos liderados por Xing Xu, da Academia Chinesa de Ciências em Pequim, bem como o resto da comunidade científica, estão empolgados com a chance de estudá-lo. Afinal, o bicho parece criar uma confusão significativa na maneira como os dinossauros e seus prováveis descendentes diretos, as aves, evoluíram.
Muitos pesquisadores acreditam que os dinos que deram origem às aves foram se tornando cada vez mais peso-pluma, às vezes até diminutos. De fato, os primeiros dinos voadores, considerados aves verdadeiras, têm cerca de meio metro de comprimento. Ao mesmo tempo, parecia haver um padrão evolutivo no qual os primos dessas primeiras aves, ao ocuparem outros nichos ecológicos e ficarem maiores, tendiam a desenvolver formas menos parecidas com a dos emplumados modernos.
Peso-pesado
Não é o que acontece com o Gigantoraptor erlianensis, cujo nome de gênero (o primeiro) significa, não por acaso, "ave de rapina gigante". Os pesquisadores o classificam como membro do grupo dos oviraptores, dinos carnívoros cujo corpo também tem essa silhueta de avestruz, mas que são infinitamente menores (média de peso do grupo: só 40 kg).
No entanto, apesar de seu tamanhão, o "avestruz do inferno" tem características curiosamente próximas das aves, embora não seja um ancestral direto delas. Além de um bico curto e reforçado, ele apresenta pernas longas e relativamente finas, diversas vértebras ocas, especialmente na cauda (as quais, nos bichos com penas de hoje, são preenchidas com sacos de ar, facilitando a regulação da temperatura do corpo e o vôo) e um osso da coxa com formato aviano.
Por meio da análise microscópica dos fósseis, os pesquisadores conseguiram identificar a formação de camadas nos ossos, indicadoras de como o bicho crescia. Numa palavra: crescia rápido. Segundo essas camadas ósseas, a criatura alcançaria a idade adulta com apenas sete anos (o espécime descoberto por Xing Xu e companhia teria 11 anos de idade quando morreu).
As pernas longas sugerem que o bicho era um predador que agarrava suas presas na corrida. Certamente ele não precisava descer ao nível dos seus parentes menorzinhos, os demais oviraptores, que parecem ter sido experts em roubar ovos de outros dinossauros. Segundo Xu e companhia, é bem provável que o bichão tivesse pelo menos algumas penas em suas "asas" (embora certamente não voasse). É o que indicam outros fósseis de seu grupo, nos quais há uma profusão de dinos com penas preservadas.
A descrição da espécie está na edição desta semana da revista científica "Nature".