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Está cada vez mais difícil contornar a "Grande Muralha de Fogo", como é conhecido o sofisticado sistema de censura da internet do governo chinês. Tecnologias usadas por usuários na China para driblar a censura tem sido bloqueadas ou interrompidas com frequência.

Para escapar das crescentes restrições à internet, que impedem o acesso na China de alguns dos sites mais populares do mundo, como Google, Facebook e Twitter, resta ao usuário adquirir o serviço VPN ("rede virtual privada", na sigla em inglês), que engana a censura ao simular o acesso de outro país.

Mas tal serviço também virou alvo do bloqueio oficial, causando um novo transtorno para quem depende da conexão irrestrita com o mundo exterior, como empresários, diplomatas e jornalistas, sem falar no cidadão chinês comum com condições de obter o VPN.

Apesar de proibido, o uso do VPN vinha sendo tolerado pelas autoridades, que não pareciam ver ameaça num serviço usado principalmente por estrangeiros e por uma porcentagem pequena da população chinesa. Mas as interrupções recentes indicam que o governo não está disposto a deixar brechas em sua grande rede de censura. O cerco ao VPN foi louvado na imprensa estatal como um "aperfeiçoamento" da Grande Muralha de Fogo.

Sites estrangeiros especializados em monitoramento da internet relataram que o controle atingiu vários serviços de VPN. Um dos mais populares, Astrill, enviou mensagem a seus clientes na última semana confirmando a interrupção, "devido ao aumento da censura na China".

O bloqueio de serviços como Gmail (correio eletrônico), amplamente usado por empresas estrangeiras, "é a forma de a China dizer que vocês não são bem vindos aqui", afirmou o provedor. A pane afetou sobretudo o uso do VPN no sistema operacional iOS, usado em aparelhos da Apple como Iphone e Ipad.

O governo chinês impede sistematicamente o acesso no país a milhares de sites na internet que considera politicamente sensíveis. A censura também atinge páginas de veículos de mídia que publicaram reportagens que desagradaram o governo, como os jornais "New York Times", dos EUA, e "El País", da Espanha. Só com VPN é possível o acesso a eles. Sunday Yokubaitis, presidente do site de tecnologia Golden Frog, que também fornece VPN, disse num comunicado que o governo chinês há anos tenta restringir o serviço. Ele observou, contudo, que o "ataque" atual é o mais sofisticado já visto.

Embora o maior objetivo do governo seja limitar a navegação para os cidadãos chineses, o arrocho também significa uma enorme dor de cabeça para quem faz negócios no país. Quem mais sofre são os pequenos e médios empresários, já que as grandes companhias podem obter conexão direta com servidores no exterior. O economista americano Patrick Chovanec, que morou em Pequim entre 2008 e 2013, comparou a asfixia na internet aos altos níveis de poluição que costumam sufocar os residentes da capital chinesa. "Para os estrangeiros, o bloqueio ao VPN é como se a China proibisse a venda de purificadores de ar. Torna a vida impossível", comentou ele no Twitter. Sob a liderança de Xi Jinping, que chegou ao poder há dois anos, o Partido Comunista chinês apertou a repressão a dissidentes e jornalistas, enquanto promove a maior campanha anticorrupção de sua história, com milhares de autoridades investigadas.

Para Xiao Qiang, especialista em mídia e direitos humanos da Universidade da Califórnia, o aumento da repressão reflete as tensões da disputa interna em curso no PC chinês.

"Todos sabemos que a China está no meio de uma briga de poder feroz e uma faxina política sob o nome de campanha anticorrupção", disse Xiao à Associated Press. Embora o aumento do controle da internet também atinja os negócios, ele afirma, o governo está mais preocupado em conter o fluxo de informações indesejadas num universo cada vez maior no país. O número de usuários de internet na China chega a 648 milhões, de longe o país com a maior população online do mundo.

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