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O presidente russo, Vladimir Putin, e o presidente chinês, Xi Jinping, participam de uma noite de gala dedicada ao 70º aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas entre Rússia e China no Teatro Bolshoi, em Moscou
O presidente russo, Vladimir Putin, e o presidente chinês, Xi Jinping, participam de uma noite de gala dedicada ao 70º aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas entre Rússia e China no Teatro Bolshoi, em Moscou, em 5 de junho de 2019| Foto: SERGEI ILNITSKY/POOL/AFP

Aliados ocidentais se encontraram no Reino Unido e na França nesta semana para comemorar o 75º aniversário dos desembarques do Dia D, a invasão da Normandia pelos aliados durante a Segunda Guerra Mundial. Mas longe dali, outro encontro significativo está ocorrendo, que visa consolidar uma nova aliança para este século.

Os líderes de Rússia e China, dois países que fizeram seus próprios sacrifícios para derrotar os nazistas, se reuniram além da fronteira leste da Europa, em Moscou, onde celebraram os 70 anos da relação diplomática entre eles. Na ocasião, o presidente russo, Vladimir Putin, e o presidente chinês, Xi Jinping, afirmam que o relacionamento entre os países está melhor do que nunca. Putin "é meu melhor amigo do peito", disse Xi à agência de notícias estatal russa Tass. Segundo o Kremlin, os dois se encontraram 29 vezes desde 2013.

Os dois eventos internacionais estão em contraste: velho e novo, leste e oeste, democrático e autocrático. Mas essas diferenças nem sempre foram tão óbvias. O presidente russo participou pela primeira vez das cerimônias do Dia D em 2004. Embora Moscou não estivesse diretamente envolvida na invasão, os soldados soviéticos desempenharam o papel mais significativo de derrotar a Alemanha nazista, na Frente Oriental, e pagaram um custo mortal por isso.

A presença posterior de Putin nas comemorações do Dia D em 2014 foi tensa e ocorreu em meio a tentativas de líderes mundiais de isolar Moscou após a anexação da Crimeia. O líder russo não foi convidado este ano: os franceses disseram que isso ocorreu porque chefes de governo, em vez de chefes de estado, foram convidados.

Então o Kremlin organizou sua própria cúpula bilateral. Não para lembrar glórias passadas, mas para enfatizar uma nova aliança.

'Inimigo' em comum

A aproximação é uma mudança para as duas nações, que estiveram em desacordo durante grande parte do século 20 depois que interpretações divergentes do comunismo fizeram a China e a União Soviética cortarem laços diplomáticos.

Eles são vizinhos, compartilham fronteiras e interesses regionais na Ásia e ambos se afastaram do comunismo do século XX para o autoritarismo contemporâneo.

Mas o mais importante desta relação: eles se vêem cada vez mais em desacordo com os Estados Unidos. Rússia e China estão simultaneamente atoladas em conflitos econômicos com os EUA. Moscou está enfrentando uma onda de sanções de Washington, enquanto Pequim está no meio de uma guerra comercial prejudicial à sua economia.

Putin e Xi assinaram um acordo no qual prometem se afastar do dólar americano, aumentando as transações com o rublo e o yuan, e permitir que a Huawei desenvolva uma rede 5G na Rússia - apesar das advertências americanas de que os produtos da companhia apresentam um ameaça de segurança.

Uma animosidade mútua em relação a Washington pode ser a maior ligação entre Pequim e Moscou. Putin buscou apoio do Oriente depois que ficou isolado no Ocidente em 2014, após a anexação da Crimeia. E, mesmo que essa nova Guerra Fria permaneça primariamente na esfera econômica, o Pentágono alertou que os Estados Unidos precisam se preparar para a possibilidade de conflito com a China e a Rússia.

"Se os EUA assumirem que a Rússia e a China são uma ameaça e decidir enfrentar os dois países ao mesmo tempo, então uma aliança temporária entre eles se tornará inevitável", escreveu Bruno Maçães, analista e escritor de Pequim, para o Moscow Times.

Embora ambos tenham problemas com os EUA, o relacionamento deles ainda é limitado por suspeitas mútuas e escassos laços econômicos. Kevin Allison, analista da consultoria Eurasia Group, lembrou que o principal parceiro comercial de Pequim ainda é os EUA, enquanto a Rússia não está nem entre os top 10. “As empresas chinesas certamente assinarão acordos com russos nos próximos dias, mas no nível estratégico não temos certeza do que exatamente a Rússia pode oferecer que Pequim ainda não tem”, escreveu ele em uma análise para o Gzero Media.

Rússia e China “não confiam muito um no outro", avalia o diretor do Eurasia Group, Ian Bremmer. "Com o tempo essa relação vai ficar mais complicada”.

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