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Bandeira nacional chinesa hasteada na frente da Igreja de São José, também conhecida como Igreja Católica Wangfujing, em Pequim, em 22 de outubro de 2020| Foto: GREG BAKER / AFP

O Departamento de Estado dos EUA, em 7 de dezembro, designou a China como um "país de preocupação particular" por suas violações sistemáticas, flagrantes e contínuas da liberdade religiosa de seus cidadãos.

O Partido Comunista Chinês tem, justamente, estado sob escrutínio por sua perseguição de grupos religiosos, incluindo o internamento de uigures em campos de concentração em Xinjiang e a extração de órgãos de praticantes do Falun Gong, bem como a prisão de seguidores por causa de sua prática, a destruição de edifícios e símbolos de igrejas e a detenção e intimidação de cristãos fora de locais permitidos pelo governo chinês. Não tão bem exposta, no entanto, está a perseguição às crianças da China.

Em um evento recente, à margem da sessão do Terceiro Comitê da Assembleia Geral da ONU, a Campanha do Jubileu – juntamente com a Coordenação de Associações e Indivíduos pela Liberdade de Consciência – trouxe histórias não contadas de experiências de perseguição religiosa de crianças chinesas.

O evento expôs o fato de que o Partido Comunista Chinês falhou totalmente em cumprir as obrigações do tratado sob a Convenção sobre os Direitos da Criança, da qual o país é signatário.

Embora comunidades religiosas inteiras tenham sido perseguidas na China por causa de suas crenças religiosas e espirituais, as crianças sofreram dez vezes mais. O governo separou as crianças de seus pais e ameaçou espancá-las se os genitores não renunciarem à sua fé. As autoridades governamentais ameaçaram até mesmo os pais de crianças adotadas, dizendo que as levarão à força, devolvendo-as às suas famílias originais ou colocando-as novamente para adoção, caso a família adotiva não desista de suas crenças.

Além disso, de acordo com os Regulamentos Revisados ​​sobre Assuntos Religiosos na China, de 2018, as autoridades locais interpretaram o regulamento de modo a proibir a participação de todas as crianças em igrejas e outras casas de culto, bem como proibir os pequenos de participar de quaisquer atividades religiosas, como acampamentos religiosos de verão ou instrução religiosa, como a escola dominical.

David, um cristão de 21 anos, contou em uma carta, publicada pela ChinaAid, que testemunhou seu pai, um pregador, ser levado para interrogatório. As autoridades teriam assediado seus genitores e ameaçado a segurança de David a fim, disse ele, de "forçar meus pais a desistir de sua fé e de seu serviço na igreja".

No evento da ONU, outro cristão, de 18 anos, identificado neste texto pelas iniciais E.L., afirmou que funcionários do governo ameaçaram seu pai, um pastor, dizendo que contratariam homens para ir à escola do garoto para espancá-lo publicamente.

Separação de família

As crianças cujos pais são detidos abruptamente e presos por sua fé e liderança da igreja sofrem com a ausência esmagadora e a instabilidade familiar. Isso contradiz o compromisso do Partido Comunista Chinês com as Nações Unidas, ao buscar sua candidatura ao Conselho de Direitos Humanos, de "colocar as crianças em primeiro lugar". Essas ações do Estado têm o efeito oposto e não levam em consideração os melhores interesses da criança.

O relatório anual do representante especial do Secretário-geral da ONU sobre a violência contra as crianças confirma isso. A violência e a privação de liberdade mostraram estar ligadas, e a privação de liberdade das crianças ou de seus pais tem um "impacto negativo e duradouro" na vida das crianças. O que torna as batidas do Estado em reuniões de crianças de minorias religiosas ainda mais preocupantes é que as prisões são arbitrárias, não baseadas em nenhum crime de acordo com o direito internacional. E.L. disse:

“Quando meu pai foi levado embora, eu fiz um aniversário diferente. Como meu pai não estava em casa, ele não poderia comemorar meu aniversário comigo. Minha mãe convidou alguns amigos da igreja para celebrar juntos em casa.

Por coincidência, meu pai ligou para minha mãe à noite, quando acabamos de comer. Meu pai não conseguia ligar para as pessoas quando queria enquanto estava na prisão. Ele tinha que fazer uma requisição e ... tinha que enviá-la primeiro. Em seguida, eles decidem quando deixar meu pai fazer uma ligação.

Bem no meu aniversário, meu pai ligou para minha mãe por cerca de 10 minutos. Minha mãe estava muito animada com tudo isso. Todos nós acreditamos que era uma bênção de Deus.

Minha mãe me deu o telefone e me pediu para falar com meu pai porque era meu aniversário. Eu não sabia o que dizer, então perguntei se ele poderia cantar uma música de feliz aniversário para mim, e ele o fez. No final, nós dois começamos a chorar.

Enquanto meu pai estava fora, sempre me encorajei a pensar que poderia sobreviver. Naquele momento, todos os sentimentos tristes vieram até mim. Comecei a perceber como minha vida era diferente e quão ingênuo eu estava sendo ao tentar lidar com isso sozinho.

É a coisa mais normal para uma criança ouvir isso de seu pai no dia do seu aniversário, embora tenha sido a coisa mais especial para mim naquele período. Eles prejudicaram minhas experiências de infância, separando meu pai de minha família.”

Uma jovem, identificada pelas iniciais XX, filha de 18 anos de um praticante do Falun Gong, refletiu sobre o quão pouco de sua infância ela foi capaz de passar com sua família devido à prisão prolongada de seu pai.

“Meu pai foi mandado para a prisão por causa de sua fé. Ele morreu no hospital e nos deixou para sempre. Só vi meu pai duas vezes. Na primeira vez, eu tinha 7 anos. Nós o conhecemos na prisão, ele estava muito magro, mas feliz em me ver. Ele queria me abraçar. Embora eu soubesse que ele era meu pai, ele era um estranho para mim. Tornou-se um arrependimento eterno de nunca tê-lo abraçado”, disse ela.

Discriminação na escola

Mesmo na escola, as crianças não conseguem escapar da perseguição por sua fé ou pela de suas famílias. Crianças que eram cristãs na China, ao falarem sobre suas experiências sob a proteção de pseudônimos, lembram que foram ensinadas em sala de aula que a religião era proibida, sofreram bullying pela prisão dos pais, foram excluídas de atividades extracurriculares na escola, punidas por frequentar a igreja e atividades religiosas fora da escola, forçadas a recitar slogans anti-religião e pró-ateísmo e coagidas a assinar documentos renunciando sua fé.

Em setembro de 2018, o departamento de educação chinês forçou os alunos a passar em um teste que demonstrava seu conhecimento anti-religioso para se formar. A administração do Instituto de Tecnologia de Shangqiu ameaçou expulsar os alunos se eles mantivessem crenças religiosas.

Duas escolas pediram a mais de 300 crianças que assinassem um formulário declarando que não seguiam uma religião e as “envergonharam” por sua fé na província de Zhejiang, que é conhecida por sua população cristã.

Isso infringe claramente a lei internacional, observou Emilie Kao, diretora do Centro DeVos para Religião e Sociedade Civil da Heritage Foundation, durante um evento da Campanha do Jubileu, em 5 de outubro: "A lei internacional garante a liberdade às crianças buscar a verdade e viver de acordo com suas consciências”.

A situação das crianças uigur nas escolas é assustadoramente semelhante e igualmente angustiante. Crianças muçulmanas uigures relataram serem proibidas de usar roupas religiosas, como lenços de cabeça; desencorajado a participar do Ramadã; e punidas pela administração escolar por comparecer a cultos e atividades religiosas.

Uma autoridade governamental revelou à Radio Free Asia que, como a prática religiosa entre os uigures é percebida como semelhante ao extremismo, os regulamentos específicos de Xinjiang são rigorosos e podem até mesmo ser usados ​​para acusar crianças por algo tão simples como ler o Alcorão ou visitar uma mesquita. Também houve relatos de crianças uigures separadas à força dos pais e enviadas para os chamados internatos.

Para os filhos de praticantes do Falun Gong que foram presos, a escola costuma ser um lembrete de sua condição de estranhos na sociedade.

Amigos de praticantes do Falun Gong revelam várias histórias de crianças que cresceram durante a repressão da China ao grupo em 1999. Uma menina, Yisha, lembra que um colega de classe disse que a mãe dela deveria ser presa por praticar o Falun Gong.

Outra menina, Vivian, estava dormindo uma noite em seu colégio interno antes de ser abruptamente acordada por colegas que bateram nela, disseram que ela era louca por praticar o Falun Gong com orgulho e tentaram persuadi-la a cometer suicídio pulando da janela de seu quarto.

Ainda outra menina, Danshan, lembrou-se de ter sido enganada por um professor para assinar um formulário de renúncia à crença no Falun Gong. Ela disse que o professor a fez acreditar que era uma forma de participação em uma atividade de caridade.

Na chamada região autônoma do Tibete, governos municipais, sob o controle do Partido Comunista Chinês, essencialmente apagaram a identidade religiosa e linguística de crianças e adolescentes budistas tibetanos ao banir o currículo budista e o ensino da língua tibetana nas escolas.

Tal como acontece com os uigures, os budistas tibetanos são vistos como extremistas e separatistas, e o Partido Comunista Chinês começou a visar a cultura desde as suas raízes, nas escolas primárias, em toda a província.

Em quase todas as esferas da vida, a formação religiosa e espiritual de uma criança chinesa é sequestrada pelo Partido Comunista Chinês como um meio de justificar a perseguição, separação familiar, doutrinação e discriminação.

Que em 2020 milhares de crianças na China devam manter sua fé em segredo por medo de retaliação é absolutamente inaceitável e repreensível, e prova da flagrante falta de preocupação da China com relação aos direitos e liberdades inalienáveis ​​das crianças.

Como explicou Kao, “o objetivo da China é o controle ideológico. Eles igualam ser pró-ateísmo com ser pró-comunismo, com ser pró-China”.

A comunidade internacional não pode permitir que as violações pela China das liberdades fundamentais das crianças, o direito de buscar a verdade, passem sem controle.

* Sydney Kochan é coordenadora de relações governamentais e projetos especiais da Jubilee Campaign, uma organização de defesa dos direitos humanos e liberdade religiosa com sede em Fairfax, Virginia. Ann Buwalda é diretora executiva da Jubilee Campaign

© 2020 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês.

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