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Documentos da PDVSA mostram exportação de 700 mil barris de petróleo por dia em fevereiro. A China comprou três quartos deste montante.| Foto: Carlos Becerra/AFP

Em meio às várias ameaças da China aos Estados Unidos, surgiu uma nova: o país asiático está minando a política externa dos EUA na América Latina ao comprar petróleo da Venezuela, uma clara violação das sanções dos EUA. O mau comportamento da China compromete os esforços dos EUA para uma transição democrática na Venezuela. O objetivo das sanções americanas é aplicar "pressão máxima" ao regime de Maduro e sua elite para que a coalizão governante seja forçada a negociar uma transição política na Venezuela. Mas se Pequim continuar comprando petróleo da Venezuela, as sanções não cumprirão seu objetivo.

Em fevereiro, a China comprou três quartos de todas as exportações de petróleo da Venezuela. Como resultado, as exportações de petróleo da Venezuela aumentaram para 700.000 barris por dia em fevereiro, seu nível mais alto em um ano, dobrando suas exportações desde junho de 2020. Estas informações constam em documentos internos da indústria petrolífera estatal venezuelana PDVSA e em novos rastreamentos de dados disponibilizados pelo provedor de dados financeiros de Londres, Refinitiv Eikon.

Como a compra de petróleo da Venezuela está sancionada pelo Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, a China não comprou o petróleo por meio de sua indústria estatal, a China Petroleum Corp. Em vez disso, as transações foram feitas por meio de uma série de empresas chinesas que não têm nenhum histórico do comércio de petróleo. Essas empresas são geralmente chamadas de “clientes fantasmas”, pois atuam como intermediários para fazer negócios com uma empresa sancionada. Isso permitiu à China Petroleum Corporation relatar que não compra petróleo da Venezuela desde o final de 2019.

Segundo o serviço de monitoramento de petróleo Tanker Trackers, esse processo teve início em agosto de 2020, quando um petroleiro chinês (identificado como Kyoto) transportou petróleo venezuelano para a China. O petroleiro carregou cerca de 2 milhões de barris de petróleo pesado e navegou para a China sem o transponder ligado e com tinta sobre o nome para esconder sua identidade e evitar a detecção (método conhecido como “dark voyage”).

A transgressão da China às sanções americanas impostas à Venezuela é tudo menos um esforço isolado. De acordo com a empresa Kpler, a China também importa petróleo do Irã, talvez a nação mais sancionada do mundo. A Kpler estima que cerca de 900.000 barris de petróleo estão sendo enviados do Irã para a China diariamente.

Além disso, a China acaba de concordar em investir no Irã um valor estimado em US$ 400 bilhões nos próximos 25 anos em troca de petróleo iraniano. O investimento cobrirá vários setores, incluindo bancos, telecomunicações, portos, ferrovias, saúde e tecnologia da informação.

Existem quatro conclusões importantes para a política externa americana a partir de todas essas informações.

Primeiro, os regimes penalizados por sanções estrangeiras aprendem com bastante rapidez como evitá-las. Recentemente, a oposição venezuelana revelou que o regime de Nicolás Maduro tem enviado ouro para o Mali por meio de aviões russos. O ouro é refinado no Mali e depois vendido nos Emirados Árabes Unidos. O relatório da oposição afirma que o esquema permitiu ao regime de Maduro obter lucros de pelo menos US$ 1 bilhão.

Em segundo lugar, o governo dos Estados Unidos não está ajustando sua política de sanções a esses novos desafios geopolíticos, que é uma questão que já abordei em outubro passado. Na época, escrevi sobre o mecanismo que o Irã tem usado para enviar gasolina para a Venezuela, que agora está sendo usado para enviar mais de 40.000 barris de gasolina por dia para a Venezuela. Em troca, a Venezuela deu ao Irã não apenas petróleo e ouro, mas também o controle das principais refinarias da PDVSA, como a refinaria El Palito, que pode processar mais de 140.000 barris de combustível por dia.

Terceiro, a China está buscando ativamente minar as estratégias dos Estados Unidos na Venezuela e no Irã, já que ambas as estratégias pressupõem a capacidade dos Estados Unidos de pressionar esses dois regimes: na Venezuela, para que o país experimente uma transição política, e no Irã, para que o regime de Rouhani seja forçado a uma nova negociação nuclear.

E quarto, o governo Biden continua relutante em impor sanções à China, apesar do mau comportamento de Pequim. Funcionários dos EUA disseram ao Wall Street Journal que, embora estejam cientes de que a China está violando as sanções dos EUA à Venezuela, o governo será cauteloso ao usar qualquer medida contra Pequim porque, "se batermos forte, eles podem retaliar".

Portanto, o governo Biden deve tomar uma decisão a respeito da política de sanções dos Estados Unidos. Minha recomendação é que a hora de agir é agora, antes que esses regimes hostis continuem a estreitar seus laços militares, energéticos e econômicos. Os EUA têm que ajustar sua política de sanções às ações da China e, apesar do risco de retaliação, tem que penalizar Pequim por seus maus comportamentos. Caso contrário, as sanções não alcançarão os objetivos pretendidos (sejam estes a democratização da Venezuela ou a obtenção de um novo acordo nuclear iraniano). Na verdade, a aplicação deficiente das sanções tornará as coisas ainda piores para os Estados Unidos, o povo da Venezuela e o equilíbrio de poder no hemisfério ocidental – aumentando a influência do Irã e da China na região por meio da Venezuela.

*Jorge Jraissati é presidente da Aliança Venezuelana e bolsista do Instituto Abigail Adams. Ele discursou sobre a crise venezuelana em várias universidades, incluindo Harvard, NYU e Cambridge.

© 2021 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.

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