• Carregando...

A agência de Inteligência dos EUA, a CIA, torturou opositores ao governo de Muamar Kadafi durante a gestão do ex-presidente George W. Bush, segundo dados divulgados nesta quinta-feira pela ONG de luta pelos direitos humanos Human Rights Watch (HRW). A organização, com sede em Nova York, afirma que depoimentos de 14 ex-detentos líbios e documentos secretos do governo americano e do Reino Unido provam que agentes dos EUA usaram técnicas de afogamento e espancamento contra ativistas que hoje fazem parte do novo governo da Líbia.

Em um relatório de 154 páginas, membros do Grupo Líbio e Islâmico de Luta (LIFG, na sigla em inglês) - que se uniram a rebeldes do Conselho Nacional de Transição (CNA) pela queda de Kadafi - contam que foram capturados pela CIA, torturado e depois entregues ao governo do ditador, que continuava os abusos.

Segundo o depoimento de cinco líderes do LIFG, eles foram levados para duas prisões administradas pelos EUA no Afeganistão e chegaram a ser presos nus a paredes por semanas e sofreram torturas de afogamentos, espancamentos e foram impedidos de tomar banho, ver o sol e até de dormir, enquanto agentes colocavam músicas em som alto para acordá-los.

"Eu passei três meses sendo interrogado, enquanto eles me davam cada dia um tipo de tortura diferente. Às vezes utilizavam água, às vezes não... Às vezes eles tiravam a minha roupa e às vezes me deixavam vestido", conta Khalid al-Sharif, que afirma ter ficado anos em duas diferentes prisões operadas pela CIA no Afeganistão. O ex-detento é hoje o chefe da Guarda Nacional da Líbia, responsável pela segurança dos mais importantes cárceres do país.

O relatório da ONG não foi baseado somente em testemunhas, mas também em textos que vieram a público pela primeira vez. A HRW afirma ter achado - em 3 de setembro de 2011 - provas das torturas em documentos achados nos escritórios do chefe da Inteligência de Kadafi, Musa Kusa, depois que os rebeldes tomaram a cidade de Trípoli.

As entrevistas e os registros mostram que, após o 11 de setembro, os EUA, com a ajuda do Reino Unido, países do Oriente Médio, África e Ásia, prenderam sem motivo diversos membros do LIFG que viviam fora da Líbia e os entregavam ao regime de Kadafi, segundo a ONG. No entanto, Laura Pitter, autora do relatório do HRW, afirma que o fechamento de investigações do promotor John Durham em 2012 - que apuravam abusos contra 101 pessoas detidas pelos EUA - mostra que a política de ignorar práticas de tortura não é específica de Bush.

"As histórias de líbios presos por autoridades dos EUA e depois entregues ao regime de Kadafi deixam claro os atos de abuso, incluindo maus tratos que não necessariamente eram uma ação específica do governo de Bush. O fechamento das investigações de Durham em 30 agosto de 2012, sem que ninguém fosse indiciado, é uma mensagem de que abusos, como os que foram cometidos contra os líbios, continuarão a ser cometidos", afirma.

Autoridades do governo de Bush afirmam que apenas três homens presos nos EUA foram torturados com afogamento. A HRW afirma que, apesar da divulgação de inúmeras evidências, nenhum dos agentes responsáveis pelas torturas em prisões no Afeganistão foi punido. Apenas militares de baixo escalão sofreram pela prática comum nos cárceres, segundo a ONG.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]