• Carregando...
Venezuelanos participam de um protesto contra Nicolas Maduro na ponte internacional Simon Bolivar em Cúcuta, na Colômbia, na fronteira com a Venezuela, em 15 de fevereiro de 2019 | LUIS ROBAYO/AFP
Venezuelanos participam de um protesto contra Nicolas Maduro na ponte internacional Simon Bolivar em Cúcuta, na Colômbia, na fronteira com a Venezuela, em 15 de fevereiro de 2019| Foto: LUIS ROBAYO/AFP

A cidade colombiana de Cúcuta, que já enfrenta uma crescente crise migratória, está se preparando para um confronto tenso que provavelmente marcará um novo capítulo na crise da vizinha Venezuela.

Aviões militares americanos continuam mandando ajuda humanitária para a fronteira venezuelana, como evidenciado em uma aparição do senador republicano Marco Rubio em Cúcuta neste domingo. Mais de 100 mil pessoas são esperadas para um show que será organizado na cidade para protestar contra o regime venezuelano. E no sábado (23), a oposição venezuelana conta com o apoio dos EUA para levar milhares de manifestantes vestidos de branco até a fronteira para confrontar a guarda nacional do país, que, sob comando de Maduro, não permite a entrada da ajuda externa vinda dos EUA e aliados. 

Leia também: UE anuncia assistência humanitária adicional para Venezuela

Tudo isso fez com que Cúcuta, uma cidade de 750 mil pessoas, esmagada pela imensa imigração venezuelana que flui sobre sua fronteira há anos, esteja vivendo momentos tensos. 

O ditador Nicolás Maduro prometeu bloquear a ajuda, afirmando que este é apenas um pretexto para a intervenção norte-americana em seu país em crise. A Venezuela vive uma terrível crise humanitária e a quantidade relativamente pequena de ajuda destina-se a aliviar uma grave escassez de bens básicos que alimentou desnutrição e doenças. Mas líderes da oposição e autoridades dos EUA também esperam provocar a primeira deserção pública em massa das tropas venezuelanas se os soldados negarem suas ordens e aceitarem o carregamento. 

Durante uma visita a Cúcuta no domingo, Rubio encorajou os membros das forças armadas venezuelanas a desertarem, chamando o governo de Maduro de "um regime criminoso disposto a fazer com que seu povo passe fome e morra". 

Senador dos EUA Marco Rubio visitou a ponte internacional Simón Bolívar em Cúcuta, na Colômbia, fronteira com San Antonio de Táchira, Venezuela, em 17 de fevereiro de 2019LUIS ROBAYO/AFP

"Chega um momento na vida de muitas pessoas quando elas precisam tomar uma decisão que as definirá para sempre", disse Rubio. "Chegou a hora dos soldados venezuelanos". 

Outras autoridades americanas também deixaram claro que querem que Maduro fique fora do poder e que eles vêem empurrando a ajuda para o país como um passo para alcançar esse resultado. Algumas grandes organizações de ajuda se recusaram a participar, dizendo que ambos os lados estão usando a humanitária para fins políticos. 

"Maduro tem que ir embora", disse Mark Green, administrador da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, em coletiva de imprensa no sábado em Cucuta, enquanto 80 toneladas de alimentos e produtos de higiene eram descarregados de um avião de carga C-17 atrás dele. 

A ajuda humanitária para a Venezuela é descarregada de uma aeronave C-17 da Força Aérea dos EUA no Aeroporto Internacional Camilo Daza, em Cucuta, Colômbia, na fronteira com a Venezuela, em 16 de fevereiro de 2019RAUL ARBOLEDA/AFP

Dúvidas quanto à logística

Autoridades dizem que Cúcuta será o ponto de partida de uma operação que romperá a fronteira da Venezuela com ajuda humanitária, com outros pontos de ajuda no Brasil e na ilha de Curaçao. 

Mas os organizadores não disseram exatamente como farão isso. No domingo, membros da oposição venezuelana entregaram folhetos na Ponte Internacional Simon Bolivar, onde milhares de venezuelanos desesperados se cruzam diariamente para comprar comida ou migrar pela América do Sul. 

Caminhões carregados com ajuda humanitária para a Venezuela se dirigem para a ponte Tiendas em Cúcuta, ColômbiaLUIS ROBAYO/AFP

Líderes da oposição pediram aos venezuelanos para se unirem ao esforço de transferir a ajuda para a fronteira, mas não podiam dizer exatamente onde. 

"Ainda não decidimos qual passagem de fronteira usar", disse Alcides Monsalve, prefeito da cidade venezuelana de Mérida, que viajou a Cúcuta para ajudar no esforço. "Nós não temos nenhuma ideia." 

Em um discurso para voluntários em Caracas neste fim de semana, Juan Guaidó – chefe da Assembleia Nacional controlada pela oposição que evocou a constituição e se declarou o presidente do país porque Maduro é um "usurpador" – disse que mais de 600.000 venezuelanos já concordaram em se juntar ao enorme esforço marcado para sábado. Ele disse que os voluntários receberiam mais instruções por e-mail na segunda-feira. 

Saiba mais: Guaidó diz que ajuda humanitária entrará na Venezuela ‘quer queiram, quer não’

"Haverá mobilizações em todas as cidades do país em 23 de fevereiro", disse Guaidó a uma multidão no sábado. "Não apenas caravanas indo para a fronteira. Será um país inteiro na rua." 

Prontos para o enfrentamento

Manifestante participa de um protesto contra o governo de Nicolas Maduro na ponte internacional Simon Bolivar em Cúcuta, Colômbia, na fronteira com a Venezuela, em 15 de fevereiro de 2019LUIS ROBAYO/AFP

Líderes em Cúcuta insistem que os soldados venezuelanos que guardam as passagens da fronteira aceitarão a ajuda estrangeira, motivada pela fome de suas próprias famílias. Mas os venezuelanos que vivem no lado colombiano da fronteira expressaram dúvidas. 

"Eles não vão deixar passar", disse Victor Mora, um venezuelano sentado perto da fronteira com os oito membros de sua banda de salsa, que concordaram com a cabeça. "A estrutura militar os tem realmente doutrinados. Eles estão com medo de desobedecer." 

Mas muitos disseram que se uniriam ao esforço para confrontar os guardas de fronteira. 

"Se os venezuelanos puderam caminhar 20 dias até o Peru, é claro que podemos atravessar a ponte para acompanhar a ajuda", disse Julio Campos, de 45 anos, que mora em Cucuta há um mês. 

Quatro anos atrás ele era membro do conselho municipal na cidade costeira de Puerto La Cruz, na Venezuela, com uma família, um apartamento, um Chevrolet Optra 2010 e seu próprio negócio na distribuição de queijo por atacado. Desde então ele assistiu a economia afundar ao passo que a comida ficou escassa e sua empresa quebrou. 

Leia também: Como a oposição venezuelana se articula para um cenário pós-Maduro

Agora, como milhares de outras pessoas, ele paga cerca de US$ 1 por noite para dormir no chão de uma sala grande com dezenas de outros venezuelanos em Cúcuta, onde ganha uma pequena comissão trazendo passageiros de ônibus para agências de viagens. Ele pretende enviar dinheiro para sua esposa e três filhos, mas desde que chegou no início de janeiro, ele só conseguiu fazer isso uma vez.

Ele não acredita que os guardas venezuelanos deixariam a ajuda passar, mas se comprometeu a se juntar ao esforço de qualquer maneira. 

"Para nós, venezuelanos que vivem na Colômbia, é melhor morrer sem medo do que viver chorando", disse ele. 

Show fora de hora

Wilfredo Canizares, ativista de Cúcuta e diretor da Fundacion Progresar, que monitora o crime organizado na zona de fronteira, disse que os líderes locais se sentiram impotentes com a chegada da grande semana. 

"Tudo está sendo conduzido pelo governo nacional e pelos EUA", disse ele. 

Ele também se mostrou preocupado com o show da próxima semana, anunciado na quinta-feira pelo bilionário britânico e magnata da aviação Richard Branson, em uma estrada a pouco mais de um quilômetro da fronteira venezuelana. Seu objetivo é levantar US$ 100 milhões para a crise humanitária lá. 

Um porta-voz da polícia de Cúcuta disse no domingo que as autoridades locais não se encontraram com os organizadores do show. 

"Parece extremamente inconveniente organizar um show neste momento", disse Canizares. "Estamos muito preocupados com tudo." 

Impedidos

Na Venezuela, no domingo (17), cinco membros do Parlamento Europeu, convidados pela oposição para se encontrar com Guaidó em Caracas, foram impedidos de entrar no país quando pousaram no Aeroporto Internacional Simon Bolívar, segundo a oposição e os membros da delegação. Eles foram posteriormente deportados pelas autoridades venezuelanas. 

"Atenção, nossos passaportes foram retirados e estamos sendo expulsos da Venezuela", tuitou o espanhol Esteban Gonzalez Pons. "Estamos sendo maltratados e a única explicação que nos é dada é que Maduro não nos quer aqui.”

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]