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Após confronto com a polícia, grupo contrário à “interferência” do presidente boliviano assumiu comando de mercado onde coca é vendida legalmente
Após confronto com a polícia, grupo contrário à “interferência” do presidente boliviano assumiu comando de mercado onde coca é vendida legalmente| Foto: EFE/Martin Alipaz

Com disputas que traduzem rusgas na alta política da Bolívia, a briga pelo poder entre os produtores de folha de coca do país, os chamados cocaleiros, atingiu um novo nível de tensão nesta semana, após uma escalada nas hostilidades que teve início em 2019.

Na segunda-feira (4), cocaleiros contrários a um dirigente que apoia o presidente da Bolívia, Luis Arce, retomaram o controle da sede da associação que os representa e do mercado legal para a venda da planta em La Paz após um novo confronto com a polícia.

Milhares de cocaleiros que haviam se reunido no bairro Villa El Carmen saíram em passeata rumo à sede da Associação Departamental de Produtores de Coca de La Paz (Adepcoca), em Villa Fátima, também na capital boliviana.

Como nos dias anteriores, a manifestação se deparou com barreiras montadas pela tropa de choque da polícia local, que até segunda-feira impedia os participantes de entrar na sede da Adepcoca, onde também funciona o mercado para a venda legal de coca – segundo dados das Nações Unidas, cerca de 90% do mercado legal da folha na Bolívia, no valor de US$ 173 milhões por ano, passa pelo local.

Desta vez em quantidade muito maior, os produtores conseguiram avançar jogando pedras e detonando pequenas bombas. Os policiais responderam com gás lacrimogêneo, mas acabaram recuando junto com outro grupo de cocaleiros, liderado por Arnold Alanes, o dirigente reconhecido pelo governo nacional e que estava no controle da entidade.

Duas alas dos produtores de coca identificadas como apoiadoras do partido governista Movimento ao Socialismo (MAS) e uma terceira, ligada ao líder opositor Armin Lluta, disputam o controle da Adepcoca.

No último dia 20, Arnold Alanes proclamou-se o principal chefe da entidade, apesar da rejeição dos cocaleiros liderados por Lluta, e tomou o controle da sede. Lluta relatou que teria sido mantido refém por horas e espancado por integrantes do grupo que apoia o atual governo boliviano.

Alanes alegou à imprensa boliviana na ocasião que sua presidência era legítima e garantiu que a Adepcoca seria “despolitizada”, apesar de seus críticos o apontarem como um apoiador do governo do presidente Luis Arce e do partido Movimento ao Socialismo (MAS), de Evo Morales.

Nesta terça-feira (5), Lluta deixou o cargo de presidente da Adepcoca, argumentando que sua decisão visa garantir a “unidade” da organização. “Muitos irmãos me disseram para ir embora, outros para ficar, saio pela unidade, pela porta da frente. Temos que lutar, irmãos, para que o governo fique com essa mensagem, de que nunca mais deve interferir na Adepcoca”, disse Lluta.

Uma comissão eleitoral foi formada e dentro de 30 dias os cocaleiros vão escolher um novo presidente, em um pleito no qual não poderão se candidatar Lluta, Alanes e Fernando Calle, líder do outro grupo ligado a Luis Arce.

O conflito entre os cocaleiros que apoiam ou se opõem ao MAS remonta a 2019, quando uma ala elegeu Elena Flores, que era apoiada pelo partido. Um ano depois, um bloco de cocaleiros chegou à sede do mercado de coca em La Paz e elegeu Lluta como seu representante máximo, destituindo Flores, que em seguida entrou com um recurso na Justiça, que decidiu a seu favor.

O mercado da Adepcoca em La Paz e o mercado da cidade de Sacaba, no departamento de Cochabamba, são os dois únicos reconhecidos por uma lei que rege o comércio de folhas de coca na Bolívia, onde elas têm usos tradicionais e medicinais, embora uma parte seja desviada para o tráfico de drogas, para a produção de cocaína.

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