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Telão exibe imagem de Xi Jinping no Museu do Partido Comunista da China em Pequim, 23 de novembro. A China usa contas em redes sociais banidas no país para promover propaganda
Telão exibe imagem de Xi Jinping no Museu do Partido Comunista da China em Pequim, 23 de novembro. A China usa contas em redes sociais banidas no país para promover propaganda| Foto: EPA-EFE/ROMAN PILIPEY

Nesta semana, Twitter e Facebook removeram redes de milhares de contas ligadas à China, parte de operações de propaganda para promover as versões do regime chinês sobre os casos de abusos de direitos humanos contra os uigures e sobre a pandemia.

As operações de propaganda da China envolvem perfis falsos que fazem publicações que em seguida são compartilhadas por um número grande de perfis “inautênticos”, por funcionários do regime e pela mídia estatal chinesa.

Propaganda sobre uigures em Xinjiang

O Twitter encerrou mais de duas mil contas ligadas ao regime da China que eram usadas em uma operação de propaganda descrita por especialistas como “vexaminosas”.

A operação usava imagens falsas e perfis falsos de uigures para promover testemunhos inventados sobre a vida da minoria étnica na região de Xinjiang, e assim tentar minimizar as evidências de graves abusos contra os direitos humanos dessa população na China, que incluem acusações de internamento forçado em campos de “reeducação”, vigilância, assimilação cultural, trabalhos forçados e esterilizações obrigatórias. A China nega todas as acusações, apesar de evidências.

Nos vídeos postados pelas contas falsas em resposta a reportagens da mídia ocidental, supostos uigures falavam sobre sua “vida feliz” em Xinjiang. A maioria dos tuítes era feito em resposta a postagens com evidências dos abusos em Xinjang, com a hashtag #StopXinjiangRumours (Parem os boatos sobre Xinjiang).

De acordo com análise do grupo de pesquisa Australian Strategic Policy Institute (ASPI), duas redes ligadas ao regime chinês buscavam influenciar a opinião sobre Xinjiang do público internacional e de chineses que moram em outros países.

As redes, formadas por mais de dois mil perfis e com mais de 60 mil publicações, “nunca alcançaram significativo engajamento orgânico no Twitter, embora tenham tido uma interação notável com contas de diplomatas do Partido Comunista da China”, afirma o relatório do ASPI.

O Twitter é banido da China, mas diplomatas e outros funcionários do regime chinês frequentemente usam o serviço para promover os interesses de Pequim.

Falso biólogo suíço

A Meta, empresa controladora do Facebook, removeu nesta semana uma rede de desinformação da China que fazia alegações sobre as origens do novo coronavírus. Os propagandistas chineses criaram uma campanha de desinformação online centrada no perfil de uma pessoa que alegava ser um biólogo suíço, mas que não era real.

Pesquisadores do Facebook informaram que as publicações desse perfil eram usadas para enganar o público sobre as origens da pandemia.

O personagem “Dr. Wilson Edwards” escrevia publicações dizendo que os Estados Unidos estavam indevidamente pressionando a Organização Mundial da Saúde (OMS) para culpar a China pela pandemia de Covid-19.

A Meta informou que removeu mais de 600 contas ligadas a essa rede, que continha um “grupo coordenado” de funcionários estatais chineses.

“Nós removemos 524 perfis do Facebook, 20 páginas, quatro grupos e 86 contas de Instagram. Essa rede se originou na China e mirava públicos globais falantes de inglês nos EUA e no Reino Unido, e também falantes de chinês em Taiwan, Hong Kong e Tibete”, destacou a empresa.

A embaixada da Suíça em Pequim esclareceu em agosto que o médico não era uma pessoa real. Em post no Twitter, a representação do país disse que “provavelmente essas são fake news, e pedimos à imprensa chinesa e usuários da internet que apaguem os posts”.

Os pesquisadores do Facebook disseram, nesta quarta-feira, que encontraram evidências de que a pessoa tinha sido inventada por uma empresa de cybersegurança da China.

A plataforma rastreou a criação da conta e chegou à empresa Tecnologia de Informação Sichuan Silence, da China. O site da companhia, que afirma prestar serviços de segurança da informação, lista o Ministério de Segurança Pública da China entre os seus clientes.

O falso doutor não teve muita repercussão no Ocidente, mas suas alegações foram amplificadas por diversas contas de pessoas que trabalham para o Estado chinês, assim como por mídias estatais da China.

Várias contas falsas também republicaram as postagens, enquanto quase nenhuma conta autêntica o fazia.

A imprensa estatal chinesa repercutiu as alegações do “biólogo suíço”. O People’s Daily, o jornal oficial do Partido Comunista Chinês, publicou uma matéria em julho – que continua no ar – falando sobre a “intimidação” dos EUA sobre a OMS.

“Um biólogo europeu veio à público com a informação surpreendente de que um grupo consultivo da OMS para rastrear as origens de patógenos, incluindo o vírus responsável pela pandemia de Covid-19, se tornaria uma ‘ferramenta política’”, afirma o texto em inglês do People’s Daily.

A matéria diz ainda que o biólogo “Edwards” disse que seus colegas pesquisadores estavam sofrendo “enorme pressão” e “intimidação” dos EUA após a divulgação das conclusões da investigação feita em parceria entre China e OMS sobre as origens do coronavírus em Wuhan.

A Meta incluiu os detalhes da operação em seu relatório de “comportamento inautêntico coordenado”, publicado nesta semana, e que também revela que foram excluídas redes de desinformação de Belarus, Palestina e Polônia.

Segundo a empresa, a conta do falso médico foi criada em 24 de julho, horas antes de suas primeiras postagens na rede social. Cerca de 200 contas que compartilharam a postagem assim que ela foi publicada tinham fotos de perfil criadas por programas de inteligência artificial.

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