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O candidato democrata à presidência dos EUA, Joe Biden, em comício em Miramar, Flórida, 13 de outubro
O candidato democrata à presidência dos EUA, Joe Biden, em comício em Miramar, Flórida, 13 de outubro| Foto: JIM WATSON / AFP

O governo do presidente americano Donald Trump tomou medidas duras nos últimos anos contra a ditadura de Nicolás Maduro na Venezuela. Em sua campanha à reeleição, o republicano citou a Venezuela como um exemplo do fracasso do socialismo e acusou o Partido Democrata de promover políticas semelhantes às do país latino-americano.

Com a vitória da chapa de Biden e de Kamala Harris na corrida para a Casa Branca, a política norte-americana em relação à Venezuela pode passar por mudanças, embora um aceno favorável a Maduro seja uma possibilidade distante.

A posição dos candidatos em relação à ditadura de Maduro era especialmente importante para os eleitores da Flórida. O estado, considerado decisivo para estas eleições, é lar de 75 mil venezuelanos aptos a votar, segundo o Pew Research Center. Biden tinha o grande desafio de conquistar esses e os demais eleitores latinos. Muitos deles chegaram aos EUA nos últimos anos fugindo da crise humanitária venezuelana e viam Trump como um líder que demonstrou força contra a figura autoritária de Maduro. Segundo o Politico, vários desses eleitores não eram apenas apoiadores de Trump, mas também fãs apaixonados do republicano que se identificam como magazolanos (palavra criada a partir do slogan Make America Great Again e de venezolanos). Parte desse eleitorado também vê o Partido Democrata como agente do socialismo nos EUA e teme que as políticas do partido causem os mesmos tipos de problemas que enfrentavam em seus países. No fim, Trump acabou vencendo a votação no estado com quase 400 mil votos de vantagem.

Mas os democratas devem manter a oposição ao regime de Maduro, opina Alcides Costa Vaz, professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília. "Muito da condução da política externa norte-americana em relação à Venezuela já vinha dos tempos do governo Obama e obedece a alguns cânones tradicionais: apoio à democracia, aos direitos humanos e ao fortalecimento de sociedades civis", diz o pesquisador. "São agendas que são objeto de um compromisso ou consenso bipartidário".

Embora tanto democratas quanto republicanos queiram ver Maduro fora do Palácio de Miraflores, as abordagens dos governos de Obama e de Trump tiveram diferenças. "Trump se mostrou mais inclinado a trazer a possibilidade de uma intervenção militar. O governo Obama não chegou a fazer isso explicitamente", afirmou, lembrando das operações norte-americanas em águas do Caribe de combate ao narcotráfico, mas que foram entendidas como um sinal de alerta à Venezuela. Essa abordagem mais agressiva, que não descarta intervenção militar, "deve ser abrandada" por Biden, na opinião de Costa Vaz.

Os candidatos e a Venezuela

O governo de Donald Trump foi um dos primeiros a reconhecer Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela em janeiro de 2019. No mesmo ano, em sua campanha para forçar a saída de Maduro do poder, Trump impôs sanções contra a estatal de petróleo venezuelana PDVSA e o Banco Central do país, além de manter as sanções contra indivíduos do regime. O Departamento de Justiça dos EUA também acusou, em março deste ano, Maduro e outras autoridades de narcoterrorismo e tráfico de drogas.

O programa de governo de Joe Biden e Kamala Harris menciona a Venezuela apenas ao falar de propostas para a comunidade latino-americana que vive nos EUA. A chapa propõe ampliar o Status de Proteção Temporária – medida que impede que imigrantes sejam mandados de volta para países que não são seguros – para incluir "venezuelanos que procuram alívio da crise humanitária causada pelo regime Maduro".

Biden expressou apoio a Juan Guaidó pouco menos de três semanas após o líder da oposição venezuelana assumir a presidência interina do país. Sobre Maduro, o democrata disse que ele é "um ditador, pura e simplesmente", em entrevista ao Americas Quarterly em março. Ele falou ainda sobre a responsabilidade internacional de ajudar vizinhos da Venezuela a lidar com a crise humanitária que forçou milhões de pessoas a fugir do país.

Biden e as sanções

A plataforma do Partido Democrata afirmava durante as primárias que a melhor maneira de restaurar a democracia na Venezuela seria por meio de "pressão inteligente e diplomacia eficaz". Biden defendeu a adoção pelos EUA de "sanções multilaterais mais fortes", em entrevista ao Council of Foreign Relations em julho de 2019. "Maduro usou o diálogo no passado como tática para atrasar ações e concentrar poder, então os EUA devem manter a pressão das sanções até que as negociações produzam resultados", disse Biden na ocasião.

O democrata deve continuar a postura dura contra a ditadura venezuelana em relação às sanções; isso porque não há incentivos para aliviar a pressão econômica à ditadura venezuelana no momento, explica Costa Vaz. Os Estados Unidos reduziram sua dependência de suprimento externo de petróleo, não apenas da Venezuela, como também do Oriente Médio, e isso permite que o governo americano mantenha as sanções contra os adversários cuja principal fonte de receita é a exportação de petróleo. "Nós vemos como isso impactou as relações dos Estados Unidos com países do Golfo Pérsico de maneira geral. Na Venezuela, isso se traduziu como maior endurecimento do ponto de vista econômico".

"Não há um incentivo claro para facilitar a vida ou permitir uma sobrevida ainda maior de regime Maduro", diz o professor.

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