A decisão de Emmanuel Macron de antecipar as eleições parlamentares três anos antes da data prevista na França não afeta apenas o país, mas traz dores de cabeça para toda a União Europeia (UE).
Isso porque a aposta fracassada do líder francês gerou uma instabilidade política em Paris, que agora conta com três grandes blocos sem expectativa de formar alianças. Esse cenário é propício para um adiamento das ambiciosas pautas do bloco europeu envolvendo planos de segurança, apoio a Kiev contra a Rússia e melhora no balanço fiscal.
Todas essas inciativas têm um preço e o cálculo político de Macron pode ter criado um novo obstáculo financeiro para a UE.
A perspectiva fiscal da França é decadente, principalmente depois da abertura de um processo disciplinar pela Comissão Europeia, em junho, devido ao déficit excessivo do país - atualmente, a dívida pública da França está em 110% do PIB, com um déficit orçamentário de aproximadamente 5,5%, bem acima dos 3% delimitados pelo bloco.
O resultado eleitoral na França produziu uma Assembleia Nacional que deve ficar ingovernável por um longo período. E esse impasse apresenta um grande risco de bloqueio na aprovação de um orçamento para o próximo ano pelos novos eleitos.
Uma análise do jornal Político apontou que a credibilidade de Macron na UE está em declínio, principalmente após as eleições de 9 de junho que mostraram uma perda de seu partido nas eleições europeias. Agora, a desordem fiscal é o principal motivo de preocupação da Europa em relação à França.
Como chefe de estado da França, Macron tem amplas responsabilidades na UE, estando sobre sua frente as relações exteriores e política de defesa do país.
A nova formação da Assembleia Nacional pode travar qualquer iniciativa da UE que exija aprovação parlamentar em casa. Isso muito provavelmente se aplicaria a um financiamento para a agenda de segurança e defesa da UE, áreas nas quais Macron tem investido nos últimos tempos.
Além disso, a capacidade da UE de negociar seu próximo orçamento, que vai de 2028 a 2035, também exigiria aprovação parlamentar e também poderia ser bloqueada pelas três frentes no parlamento francês.
O imbróglio fiscal e a urgência na aprovação parlamentar para grandes iniciativas de financiamento da UE podem ter como efeito o fim das expectativas de qualquer interesse que Macron possa ter em criar um ambiente favorável de liderança no bloco durante a próxima diretoria. Na França, essa decadência já teve início.
Um diplomata opinou de forma anônima ao Político apontando que o cenário atual derruba a forte presença do presidente francês observada nos últimos anos no âmbito da UE.
Segundo a fonte diplomática consultada, o presidente francês agora está enfraquecido e "distraído com os problemas em casa". Com isso, sua participação ativa na UE, seja reformulando a agenda comercial, pressionando por uma agenda de defesa industrial ou competitividade mais ambiciosa, foram por água abaixo.
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