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Bandeira dos EUA e bandeira do Texas na capital texana, Austin (Reprodução/Unsplash)
Bandeira dos EUA e bandeira do Texas na capital texana, Austin (Reprodução/Unsplash)| Foto:

Pesquisas eleitorais nos EUA mostram que a disputa entre o presidente Donald Trump e o candidato democrata Joe Biden será mais acirrada do que o esperado no Texas, até então um estado com maioria republicana previsível. Em 2016, os eleitores escolheram Trump contra Hillary Clinton por nove pontos. Mas a última média de pesquisas da RealClearPolitics para o estado coloca Trump à frente de Biden por apenas 0,20 ponto.

“Os democratas e a mídia progressista estão fazendo tudo o que podem para tomar o Texas”, disse o senador Ted Cruz, do Partido Republicano. “O Texas é o maior alvo da esquerda em 2020, politicamente falando. Estão em jogo 38 votos eleitorais. Há uma cadeira no Senado dos EUA em jogo. E o Texas é a chave para o domínio nacional nos próximos anos”, apontou.

Os republicanos do Texas estão embarcando em uma eleição prejudicada pela queda da popularidade do presidente Trump em nível nacional e pela pandemia de Covid-19, que afetou a popularidade até mesmo do líder republicano mais popular entre os texanos, o governador Greg Abbott.

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“Todas as campanhas estão avançando com cautela, sabendo que há muita coisa pairando sobre nossas cabeças”, diz Jordan Berry, consultor do Partido Republicano no Texas. Segundo ele, os fatores incluem a pandemia global, uma deturpação da situação pela mídia, pequenas empresas fechando as portas e uma sensação geral de que as coisas estão indo pelo caminho errado.

Avanço no Congresso

Mais do que a presidência, a maioria da Câmara do Texas está em jogo - uma disputa decisiva às vésperas da nova divisão de distritos eleitorais, prevista para 2021. O Comitê de Campanha Congressional Democrata tem como alvo sete distritos da Câmara dos EUA no estado.

“Para nós, o Texas é uma prioridade. Vamos gastar milhões de dólares e o que for preciso para defender a maioria na Câmara”, diz Austin Chambers, presidente do Comitê de Liderança Estadual Republicano.

Os democratas conquistaram mais de uma dezena de cadeiras no Legislativo estadual nas eleições de 2018 e chegaram a representar ameaça até mesmo para a cadeira no Senado de Ted Cruz, um dos líderes republicanos mais populares do país. Uma combinação de centros urbanos de maioria democrata com áreas suburbanas cada vez mais democratas tem formado um desastre político de longo prazo para os republicanos.

“Se o Texas voltar a ser um estado democrata, nunca elegeremos outro presidente republicano durante a minha vida”, advertiu o senador republicano texano John Cornyn.

Mudança no perfil do estado

Os números mostram uma mudança mais profunda no Texas. O estado está cada vez mais jovem, urbano e não-branco: entre 2012 e o final de 2019, o registro eleitoral no Texas aumentou em 3 milhões, dos quais a maioria é de jovens latinos e migrantes internos de regiões com tradição democrata, como a Califórnia.

Em 2022, estima-se que um em cada três eleitores terá menos de 30 anos. Neste mesmo ano, a população latina no Texas deverá ultrapassar a população branca. Os imigrantes não hispânicos também estão alterando o cenário político do Texas: durante a última década, a população asiática no Texas cresceu em 473 mil pessoas.

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Um levantamento do Pew Research Center mostrou que 23 milhões de imigrantes poderão votar nas eleições presidenciais de 2020 nos Estados Unidos, um número recorde no país. No Texas, 52% dos eleitores imigrantes são hispânicos, uma parcela que fica atrás apenas da Flórida (54%) entre os principais estados dos EUA. Os imigrantes asiáticos são o segundo maior grupo no Texas, com 29%.

O aumento é significativo se os novos eleitores realmente forem às urnas, já que o voto nos EUA não é obrigatório. Os texanos estão entre os que menos comparecem às urnas – ocuparam o 48º lugar na participação eleitoral em 2012. Em 2014, apenas 8% dos eleitores com menos de 30 anos votaram, grupo demográfico com grande presença de democratas.

Um eleitorado mais latino é sinônimo de um eleitorado menos favorável a Trump. Uma pesquisa do Texas Lyceum em janeiro mostrou que o índice de aprovação de Trump entre os latinos ficou em 36%.

O fator Trump

“Donald Trump é a melhor coisa que aconteceu para os democratas do Texas na era moderna”, diz o professor de Ciência Política da Universidade Rice em Houston, Mark Jones.

Nas eleições de 2016, Trump venceu no Texas por 9 pontos percentuais – a menor margem para um candidato presidencial republicano no estado desde 1996. Agora, ele poderá se tornar o primeiro candidato presidencial republicano a perder no estado desde 1976. Quase metade dos eleitores texanos desaprova o desempenho de Trump, índice maior que o comum em um estado historicamente republicano.

O desgosto dos texanos com Trump parece ter sido acentuado por declarações do presidente a respeito do furacão Harvey, que devastou a cidade de Houston em 2017. “Teve um furacão há dois anos. Eles ainda continuam me chamando para pedir dinheiro”, disse Trump, que chegou a imitar, em tom de brincadeira, súplicas dos políticos do Texas. “Paguei bilhões e bilhões de dólares ao estado. Eles fizeram uma fortuna! Vocês fizeram fortuna com o furacão”, acrescentou.

Republicanos “acomodaram-se”

Para uma parcela dos republicanos do Texas, a onda democrata tem outras origens. Segundo George Seay, empresário de Dallas e antigo arrecadador de fundos do Partido Republicano no Texas, o estado está se tornando mais competitivo porque os republicanos, assim como os democratas que controlavam o estado antes deles, tornaram-se acomodados.

“Acho que se os democratas tiverem sucesso, não será porque o Texas de repente se tornou progressista. Será porque os texanos normais que não prestam atenção a isso estarão fartos e cansados ​​da mediocridade republicana, na melhor das hipóteses”, diz Seay.

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Há fundamento na análise do empresário texano: o Partido Republicano ainda tem todas as vantagens que fazem do Texas um estado republicano, incluindo maioria no Congresso e no poder legislativo do Texas. Apesar do crescimento dos democratas nas eleições de 2016, a última vez que um candidato do Partido Democrata ganhou no estado foi em 1994.

“Não acho que seja uma coisa só”, diz Jordan Berry. “Acredito que é uma combinação de fatores, mas é melhor sabermos agora para que possamos encontrar maneiras de corrigir do que descobrir isso em meados de outubro.”

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