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Eleitores votam antecipadamente em North Charleston, Carolina do Sul, 16 de outubro
Eleitores votam antecipadamente em North Charleston, Carolina do Sul, 16 de outubro| Foto: Logan Cyrus / AFP

As pesquisas eleitorais às vezes erram. E um dos exemplos mais lembrados de previsões que falharam é o caso das eleições presidenciais dos Estados Unidos em 2016, quando as pesquisas apontavam vitória de Hillary Clinton contra Donald Trump.

Pesquisas de intenção de voto servem para oferecer um retrato instantâneo da opinião pública naquele momento, têm o seu valor, mas não devem ser tomadas como uma previsão incontestável do que ocorrerá no dia da votação. Por mais que elas sejam feitas para ter força estatística, podem não oferecer um resultado preciso, por diversos fatores; entre eles, a dificuldade de se construir uma amostra de eleitores verdadeiramente aleatória e sem viés. Mesmo com uma boa amostra, ainda não há garantia de que todos os entrevistados responderão em quem irão votar de verdade, ou de que não vão mudar de opinião até a hora de preencher a cédula.

No caso dos EUA, onde o voto não é obrigatório, também não é possível saber com certeza se os eleitores entrevistados de fato comparecerão às urnas nos dias de votação.

Existem dificuldades adicionais para prever os resultados do sistema eleitoral dos Estados Unidos. Pesquisas que olham apenas para a intenção de votos da população em nível nacional, sem levar em conta o Colégio Eleitoral, correm o risco de fazer previsões incorretas.

Para ser eleito presidente dos Estados Unidos, o candidato precisa conquistar 270 votos no Colégio Eleitoral - e isso pode acontecer sem que o vencedor tenha obtido a maioria no voto popular.

Neste ano há ainda um novo fator que pode complicar as previsões e deve ser levado em conta: a possibilidade da pandemia afetar os padrões de comparecimento às urnas no país. Um número recorde de eleitores já votou antecipadamente: mais de 28 milhões de pessoas já fizeram sua escolha entre Donald Trump e Joe Biden, segundo o U.S. Elections Project. Em alguns locais, eleitores têm enfrentado filas de até 11 horas para votar.

Ações legais envolvendo regras do processo eleitoral também bateram recorde em 2020 nos EUA. As disputas se referem a prazos de recebimento das cédulas, atrasos nos correios, urnas, entre outros. Especialistas dizem que as decisões sobre essas ações podem afetar o resultado das eleições - se parte das cédulas enviadas por correspondência for invalidada, por exemplo.

Por que as pesquisas erraram em 2016?

Especialistas ainda debatem por que as pesquisas deram tão errado em 2016. Uma possibilidade é que as pesquisas, que via de regra procuram selecionar aleatoriamente potenciais eleitores, não detectaram certos grupos de eleitores. Essas pessoas votaram mesmo assim, e escolherem Trump em proporção maior dentro desses grupos.

Outra possibilidade é que as técnicas de seleção não foram completamente aleatórias e que, por algum motivo, tiveram um desvio que favoreceu a seleção de eleitores de Hillary Clinton.

Além disso, existem as diferenças entre as pesquisas nacionais e as estaduais. O cientista político David Brady, da Stanford Graduate School of Business, lembrou ao Stanford News que é mais eficaz olhar para os dados dos estados que formam o campo de batalha para se ter uma visão melhor do resultado do que focar em pesquisas nacionais que refletem apenas o voto popular, e não a maneira como o Colégio Eleitoral decidirá quem é o vencedor da corrida presidencial.

Já alguns analistas argumentam que as pesquisas de 2016 não foram tão incorretas quanto parecem. Isso porque a média das pesquisas em nível nacional, calculada pelo RealClearPolitics, mostrava Clinton liderando com 3,2% de vantagem sobre Trump no dia da eleição. Ela acabou ganhando no voto popular com vantagem de 2,1%, uma diferença de 1,1% que está dentro da margem de erro da maioria das pesquisas.

O problema foi com os dados estaduais. As pesquisas erraram nos estados que acabaram tendo um grande efeito no resultado final.

Como as pesquisas mudaram de lá para cá?

As eleições presidenciais americanas de 2016 deixaram lições para os responsáveis pelas pesquisas de opinião no país. O site de notícias FiveThirtyEight entrevistou 15 deles para saber como suas metodologias foram ajustadas para evitar erros neste ano.

Praticamente todos os institutos fizeram alguma mudança desde as últimas eleições e a maioria deles disse que estava dando mais peso à educação dos entrevistados na hora de construir as amostras. Isso porque uma das principais descobertas de 2016 é que o nível de educação de uma pessoa é um fator importante para prever em quem ela votará. Eles perceberam, por exemplo, que eleitores com pouca ou nenhuma escolaridade superior estavam sub-representados nas amostras, e por isso os institutos não identificaram parte do apoio a Trump.

Outras mudanças incluem dar maior peso ao local onde as pessoas moram (concentrados em uma cidade/ fora de uma região metropolitana), já que essa característica também está relacionada com a preferência partidária dos eleitores (lugares mais densamente habitados tendem a preferir os democratas, dizem os pesquisadores).

Alguns institutos passaram também a recrutar entrevistados fazendo contato com eleitores pelo correio, e não apenas por telefonemas para números aleatórios, para garantir que as pesquisas alcancem diferentes populações.

O diretor do Monmouth University Polling Institute, Patrick Murray, disse ao FiveThirtyEight que vários fatores estão fora do controle dos institutos de pesquisa. "Nossas pesquisas são feitas para serem precisas em termos de como seria o resultado da eleição se todos os que votarem tiverem seus votos contabilizados. Mas o que acontece se um grande número de cédulas é rejeitado, ou se locais de votação são fechados, ou se as filas são muito grandes e os eleitores desistem?", questionou Murray, citando algumas situações que podem ser mais comuns neste ano devido às mudanças no processo forçadas pela pandemia.

O que dizem as pesquisas agora?

Segundo o RealClearPolitics e o FiveThirtyEight, que fazem uma média das pesquisas consideradas de maior precisão e integridade, Joe Biden é no momento o favorito para ser o próximo ocupante da Casa Branca. A vantagem de Biden sobre Trump no voto popular nacional é de 8,9 pontos percentuais, segundo o RealClearPolitics, e de 10,7 pontos segundo o FiveThirtyEight.

Já com relação aos votos dos delegados, o RealClearPolitics estima que Biden tem 216 votos contra 125 de Trump. Do total dos votos dos delegados, 197 ainda estariam em disputa, segundo o site.

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