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Kim Jong-un faz um discurso de encerramento na Sexta Conferência de Secretários de Células do Partido dos Trabalhadores Coreia, em Pyongyang, em 8 de abril
Kim Jong-un faz um discurso de encerramento na Sexta Conferência de Secretários de Células do Partido dos Trabalhadores Coreia, em Pyongyang, em 8 de abril| Foto: Agência Central de Notícias da Coréia do Norte (KCNA)/AFP

O ditador Kim Jong-un pediu aos políticos do seu Partido dos Trabalhadores da Coreia que se preparem para enfrentar ainda mais dificuldades econômicas, citando um período sombrio da história da Coreia do Norte nos anos 1990.

“Decidi pedir às organizações do WPK [partido] em todos os níveis, incluindo seu Comitê Central, e aos secretários de célula de todo o Partido que travem outra ‘Marcha árdua’, mais difícil, para aliviar nosso povo da dificuldade, mesmo que um pouco”, disse Kim, segundo a KCNA, durante uma reunião com milhares de lideranças políticas do Partido dos Trabalhadores da Coreia de nível local nesta quinta-feira (8).

A “Marcha Árdua” mencionada pelo ditador foi o período em que pelo menos 225 mil pessoas morreram de fome na Coreia do Norte, nos anos 1990, após a queda da União Soviética. Alguns estudos estimam que 3 milhões faleceram. O termo também pode ser uma referência à necessidade dos norte-coreanos se adaptarem para sobreviver às adversidades econômicas.

No começo desta semana, Kim havia admitido que o país enfrenta “a pior situação” que já viveu e “numerosos desafios sem precedentes”. Grupos de direitos humanos que monitoram o país alertam que as condições de vida na Coreia do Norte pioraram muito com a pandemia de Covid-19, que levou o país já isolado por sanções internacionais a fechar fronteiras com seu principal parceiro econômico, a China.

Um relatório do Human Rights Watch, publicado no mês passado, informou que pouca comida tem entrado no país através da China, e que as autoridades intensificaram as operações contra o contrabando. Além disso, o país foi atingido por inundações que destruíram lavouras, estradas e pontes, agravando ainda mais a situação da fome.

“Há quase dois meses que quase não chega comida da China ao país”, disse à pesquisadora da ONG Lina Yoon um missionário que ajuda clandestinamente as pessoas necessitadas na Coreia do Norte, em setembro de 2020. “Há muito mais mendigos, algumas pessoas morreram de fome na área de fronteira e não há sabonete, pasta de dente ou pilhas”. Mesmo assim, Kim rejeita qualquer ajuda internacional. E o desenvolvimento do programa nuclear continua, aparentemente inabalável. 

Para o secretário-geral da Associação dos Desertores Norte-coreanos, Seo Jae-pyoung, a mensagem de Kim Jong-un é “outra maneira de dizer que o país passará por provações, mesmo que isso signifique que as pessoas morram de fome, como nos anos 1990”. “O termo ‘Marcha Árdua’ significa ‘morrer de fome’ para pessoas normais”, disse ao site NKNews, especializado em Coreia do Norte.

Outros analistas da Coreia sugerem que Kim possa estar dando esse recado à população por dois motivos: se a situação não se agravar tanto quanto disse, ele pode lograr algum crédito por não ter deixado o pior acontecer; ou pode colocar a culpa nas lideranças locais do partido, dizendo que eles foram alertados, mas falharam em cumprir com suas obrigações.

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