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Presidente dos EUA, Donald Trump, e o ditador da Corria do Norte, Kim Jong-un
Presidente dos EUA, Donald Trump, e o ditador da Corria do Norte, Kim Jong-un| Foto: Brendan Smialowski/AFP

A Coreia do Norte anunciou neste domingo (8) que realizou um "teste muito importante" em sua base de lançamento de foguetes de longo alcance que, segundo informações, foi reconstruído depois de ser desmontado parcialmente no ano passado, no início das negociações com os Estados Unidos para diminuir seu arsenal nuclear.

O anúncio ocorre em meio a perspectivas sombrias para a retomada das negociações, com o governo norte-coreano ameaçando buscar "um novo caminho" se não conseguir grandes concessões dos americanos até o final do ano. Ele também vem acompanhado de renovadas ofensas ao presidente dos EUA, com a Coreia do Norte chamando Trump de "velho errático de desatento".

Para especialistas, o teste mais recente prepara o caminho para a Coreia do Norte lançar um satélite ou míssil balístico intercontinental (ICBM, na sigla em inglês) no final deste ano, cumprindo uma ameaça de dar aos Estados Unidos um "presente de Natal" indesejado.

O que se sabe sobre o teste mais recente

Um porta-voz da Academia de Ciências da Defesa Nacional da Coreia do Norte disse que o teste foi realizado no sábado (8) na Estação de Lançamento de Satélites Sohae, em Tongchang-ri, um local perto da fronteira com a China que já foi usado para lançar satélites no espaço. As Nações Unidas (ONU) proíbem a Coreia do Norte de lançar satélites por considerarem a prática uma forma de mascarar testes de tecnologia de mísseis balísticos.

O teste terá "um efeito importante na mudança de posição estratégica da Coreia do Norte mais uma vez em um futuro próximo", diz um comunicado veiculado pela Agência Central de Notícias da Coreia.

Jeffrey Lewis, diretor do Programa de Não-Proliferação da Ásia Oriental do Instituto de Estudos Internacionais Middlebury, previu na semana passada que um teste em Sohae era iminente, com base na análise de imagens de satélite.

"A declaração norte-coreana implica fortemente que a Coreia do Norte testou um motor de foguete novo ou substancialmente aprimorado", afirmou ele no domingo. "Isso sugere que o 'presente de Natal' que a Coreia do Norte prometeu será um novo míssil. As possibilidades variam de um Hwasong-15 aprimorado a um ICBM de propulsão sólida".

A Coreia do Norte não deu maiores detalhes sobre o teste. Kim Dong-yub, analista do Instituto de Estudos do Extremo Oriente de Seul, também disse que o país provavelmente testou pela primeira vez um motor a combustível sólido para um míssil balístico intercontinental.

O uso de combustível sólido aumenta a mobilidade de uma arma e reduz a quantidade de tempo de preparação do lançamento. Os foguetes de longo alcance que a Coreia do Norte usou em lançamentos ou em decolagens por satélite nos últimos anos usavam propulsores líquidos.

Mas Andrei Lankov, professor da Universidade Kookmin em Seul, disse que um teste de satélite seria uma jogada perfeita, porque não violaria tecnicamente a suspensão de testes prometida por Kim e ao mesmo tempo seria amplamente visto como o teste disfarçado de um ICBM.

Kim havia anunciado o fim dos testes de ogivas nucleares e mísseis de longo alcance antes mesmo de se encontrar com Trump pela primeira vez, algo que o presidente dos EUA considerou uma importante conquista diplomática. Mas o anúncio de um novo teste em Sohae é "um primeiro passo para o fim da suspensão dos testes" antes do prazo do final do ano, disse Nathan Hunt, analista de defesa independente, especialista em sistemas de armas da Coreia do Norte.

Relação com os EUA esfria

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse anteriormente que havia convencido o ditador norte-coreano Kim Jong-un a fechar a estação Sohae quando os dois se encontraram em Cingapura em junho de 2018. Quando surgiram evidências de que a Coreia do Norte estava reconstruindo o local, Trump disse em março que ficaria "muito, muito decepcionado "com Kim, se isso provasse ser o caso.

No domingo, Trump novamente expressou confiança de que Kim não trairia seu acordo, mas também fez uma ameaça implícita ao líder norte-coreano. "Kim Jong-un é muito inteligente e tem muito a perder, tudo, na verdade, se ele agir de maneira hostil. Ele assinou um forte Acordo de Desnuclearização comigo em Cingapura", tuitou Trump.

"Ele não quer anular seu relacionamento especial com o presidente dos Estados Unidos nem interferir na eleição presidencial dos EUA em novembro. A Coreia do Norte, sob a liderança de Kim Jong-un, tem um tremendo potencial econômico, mas deve desnuclearizar conforme prometido. A Otan, China, Rússia, Japão e o mundo inteiro estão unificados nesta questão!"

Em reposta aos tuítes, a Coreia do Norte chamou Trump de "velho desatento e errático" e disse que não tinha mais nada a perder. As "vaidades e pretensões de Trump parecem um pouco anormais e irracionais para o nosso povo, e não podemos ouvir cada palavra que ele pronuncia sem rir", disse Kim Yong Chol, diplomata norte-coreano, nesta segunda-feira.

Kim Song, enviado de Pyongyang à ONU, rejeitou os pedidos de diálogo do governo Trump no sábado, dizendo que eles são um "truque dos EUA para poupar tempo" voltado exclusivamente para "sua agenda política doméstica".

"Não precisamos ter longas conversas com os EUA agora e a desnuclearização já saiu da mesa de negociações", disse ele.

Desde que assumiu a presidência, Trump se reuniu com o líder norte-coreano três vezes para tentar convencê-lo a desistir das armas nucleares. Trump repetidamente elogiou seu "bom relacionamento" com Kim como uma vitória de seus esforços de aproximação.

No entanto, a Coreia do Norte vem intensificando as provocações antes do prazo que estabeleceu para que Washington faça uma concessão significativa nas negociações nucleares. Pyongyang pediu aos Estados Unidos que desistam de seu esforço pela desnuclearização unilateral da Coreia do Norte e aliviem as sanções contra o país.

"Os norte-coreanos não terão escolha, mas farão algo dramático no início do próximo ano - afinal, eles prometeram que não permanecerão ociosos se os americanos não lhes derem o que esperam", disse o analista Andrei Lankov.

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